domingo, 28 de fevereiro de 2010

Casa cheia (texto)

Recebi, depois de algum tempo, amigos em casa. Nem sei há quanto tempo eles não aparecem para uma visita mais longa. Sei que, apesar da casa pequena, do pouco conforto, foi um bom final de semana. Conversamos, rimos, bebemos (moderadamente, é claro) e, sobretudo, nos divertimos bastante. Sempre é bom tê-los por perto. Aquelas histórias construídas juntos nos fazem acreditar e esperar dias melhores.

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Como se nada tivesse acontecido (texto)

Tudo continua como se nada tivesse acontecido...
Ainda que eu saiba que não se parte do nada.
O sol, o dia, a chuva, o vento
tudo em seu lugar
como se nada tivesse acontecido.

Só eu acordo diferente.
É uma mar de saudade.
Nos meus sonhos você ainda não se foi.

Os pesadelos acabaram (!?), é verdade
mas você continua como se nada tivesse acontecido.
Quando sinto muita saudade a ponto de você
Sair como água dos meus olhos
Eu pego o telefone e ligo pra ele.

Ele me reconta as velhas histórias, como se nunca as tivesse contado.
Eu ouço com atenção e mato um pouco a sua ausência.
Tem uma dor que não passa. Tem uma dor que não passa nunca.

Esse relógio come todas as horas
Como se nada tivesse acontecido
Só eu acordo diferente.

Tenho uma recorrente sensação de estar sozinho,
Tudo continua no seu lugar.
Queria poder acordar desses dias e recomeçar essa história.

Tem essa dor que não acaba nunca.
Não tenho pra onde ir: sala, cozinha, quartos. Tudo é tão pequeno.
Não compreendo metade de todas as coisas. Não compreendo nada.
E tudo continua como se nada tivesse acontecido.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

E isso tb faz parte (texto)

Agora à noite, enquanto preparo a aula de amanhã, diante do computador (não sei mais como seria preparar aulas sem o auxílio do computador), fiquei pensando sobre os meus velhos amigos ... aqueles de muitos anos e que sequer se sabe por onde andam ...aqueles que, numa etapa da vida, acreditava-se, seriam os meus amigos pra sempre.
Quando a gente é mais novo tem a inocente certeza de que nada vai mudar. De que é muito pouco provável que a vida se transforme completamente. Todos os planos que dizem respeito àqueles amigos vão sendo substituídos, aos poucos, pelas possibilidades urgentes: pelo emprego que surge em qualquer lugar, pelo apartamento acessível num outro bairro ou numa outra cidade, pelos estudos, novos interreses, amores (tudo isso passa a ser prioridade, ou talvez, necessário numa fase da vida).
Os amigos vão ficando pelo caminho. A intimidade se perdendo. Até o prazer do reencontro esvai. E vamos seguindo ... vamos levando ... e isso tb faz parte.

Impeachment de Arruda (texto)

Deu na Globo.com: A Comissão Especial da Câmara Legislativa do Distrito Federal, formada por cinco deputados, aprovou por unanimidade, nesta sexta-feira (26), o parecer favorável do deputado Chico Leite (PT) que pede, em quatro processos, o impeachment do governador afastado do Distrito Federal, José Roberto Arruda (sem partido, ex-DEM), acusado de comandar um esquema de distribuição de propina revelado durante a Operação Caixa de Pandora, em 27 novembro do ano passado.
Agora, o parecer será enviado ao plenário da Casa na terça-feira (2), que aceita ou não o pedido. Se aprovado, o governador afastado terá 20 dias para se defender. A defesa volta para a comissão especial, que julga o mérito. No caso de ela aceitar o pedido, o impeachment volta ao plenário e deve ser aprovado por, no mínimo, 2/3 dos votos. Se acatado, Arruda é afastado por 120 dias. Depois disso, uma comissão formada por cinco deputados distritais e cinco desembargadores faz o julgamento final. A procuradoria da Câmara deve soltar um parecer sobre quando Arruda pode ou não mais renunciar.
José Roberto Arruda está preso na superintendência da Polícia Federal desde o dia 11 de fevereiro por ordem do Superior Tribunal de Justiça (STJ), acusado de tentar subornar uma testemunha do caso. O vice-governador, Paulo Octávio, que assumiu o cargo interinamente, renunciou na tarde de terça-feira (23). Com a renúncia, o cargo de governador interino do Distrito Federal foi assumido pelo presidente da Câmara Legislativa, Wilson Lima.
A comissão também decidiu arquivar os pedidos contra o ex-vice-governador Paulo Octávio (sem partido, ex-DEM), já que ele renunciou ao cargo.

Passou (texto)

Sobrevivi a primeira semana de aula. Não foi fácil, preciso dizer. Na quarta com os alunos da graduação, ontem, quinta-feira, o dia com os professores do PDE e hoje uma parte da manhã com os alunos do doutorado. Pesadelos, insônia, ansiedade: tudo isso me atormentou durante as 2 semanas que precederam as atividades. Ufa, Passou!

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Primeiro dia de aula (texto)

Hoje foi o primeiro dia de aula. Nunca fico à vontade nessas situações, mas, (in)felizmente, preciso passar por esse primeiro encontro. Depois todas as situações vão ficando mais tranquilas. Ouvi os alunos, já me diverti com alguns. Uns falam bastante, outros querem morrer de vergonha. Eu fico no meio termo.
O mais difícil é falar sobre avaliação sem que eles se assustem. Tb faz parte do cerimonial.
Não dormi bem à noite já por conta dessa primeira aula. 
A turma é muito grande. Sala cheia demais. Sempre acho que 50 e poucos alunos nunca é um número adequado para qualquer coisa. Quem aguenta? Foi dada a partida. Agora é esperar pelas próximas quartas-feiras.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Perdi uma sobrancelha (texto)

Eu raspo a cabeça. Isso não é novidade para a grande maoria dos meus amigos. Novidade mesmo foi eu raspar, sem querer, metade da minha sobrancela esquerda. Enquanto eu raspava a cabeça diante do espelho perdi a direção e ... já era.
Hoje, fiquei cool, o tempo todo de óculos escuro, com um ar blasé. Mas na verdade, eu estava sem parte da sobrancelha esquerda.
Uma amiga deu um jeito com um lápis, mas não me senti à vontade. A impressão era a de que a falta dela gritava no meu rosto. Acho que preciso de uns dias de recesso até que os pelos nasçam outra vez.

Um beijo quase faz o sol nascer quadrado (texto)

No sábado passado, dia 20 de fevereiro, dua meninas, de 17 e 18 anos, beijaram-se num bloco do Rio de Janeiro, em um dos bairros mais "modernos" da cidade, o Leblon.
Alguém se sentiu ofendido e chamou a polícia. A alegação era a de que uma das meninas era menor de idade o que caracterizaria corrupção de menor.
As maneinas foram parar na delegacia. Não foram presas porque o delegado considera que beijo não é crime.
O G1 foi ouvir o que os moradores do bairro acharam desse episódio.
Perto da 14ª DP (Leblon), onde o caso foi registrado, a aposentada Lúcia Maria Barcelos afirmou que o ato praticado pelas meninas foge dos padrões normais da sociedade. "É uma questão pessoal, mas como eu explicaria isso para uma criança?", diz Lúcia.
Opinião contrária tem o vendedor Pedro Henrique Castro, homossexual assumido, que critica a postura do homem de 50 anos que denunciou o caso.
"Eu sou gay e achei homofóbica a atitude deste senhor, não teve necessidade desse tamanho exagero. Eu não beijo em público, com vergonha da minha mãe, mas fora isso não vejo problema algum", explica.
Beijar não é crime, diz delegado A denúncia do beijo foi feita por um homem de 50 anos e movimentou várias guarnições policiais. Com a chegada dos PMs, houve revolta de outros participantes do bloco, que defendiam o direito das moças se beijarem.
As jovens beijoqueiras foram liberadas, com a garantia do delegado de que beijar não é crime. “Se não houve corrupção de menores, ou violência ou grave ameaça, não é crime”.

Ele virou mulher. Ela não quer deixá-lo (texto)

Deu no Daily Mail, a britânica Andrea Fletcher sempre foi a feliz companheira do escritor e jornalista John Ozimek e mãe de Rafe, 5 anos. O parceiro sempre foi tudo que ela desejou: gentil, honesto, inteligente, pai dedicado – não só ao filho do casal, mas também às filhas do primeiro casamento de cada um deles, Natasha, de 16 anos, e Meg, da mesma idade.
Após o último Natal, porém, John apareceu com uma novidade: nunca foi feliz sendo homem. Quer ser uma mulher. E já tem um nome: Jane Fae.
Andrea foi pega de surpresa. Ficou confusa. Mas, com o tempo, de acordo com a matéria de sábado do Daily Mail, simplesmente aceitou a mudança. “Ele pode continuar sendo o que sempre foi. E eu continuo a amar essa pessoa, não importa se é homem ou mulher”, afirmou. Andrea já comprou roupas de mulher para John…digo, Jane, e também um perfume feminino.
Ela conta que durante um bom tempo o companheiro andou distante e calado e ela sabia que ele tinha algo a dizer. “Pensei que ele me contaria que tinha alguma doença horrível ou que iria nos abandonar. Mas, no fim, era isso. Confesso que até fiquei aliviada”, disse Andrea. “Não vou abandonar minha alma gêmea”, garantiu, na entrevista.
O menino Rafe estranhou o pai vestido de mulher. “Por que papai está usando uma saia?”, questionou. A mãe explicou: “Alguns pais vestem saias se assim desejarem”. O menino aceitou a explicação. Mas continua chamando “Jane” de pai. “E é o que ele é para Rafe”, diz Andrea.
Na rua, o casal já enfrenta o preconceito geral. “Duas moças passaram por nós no supermercado e começaram a rir da aparência de John. Fiquei com muita raiva e gritei para elas: pelo menos não são feias e gordas como vocês! Elas calaram a boca”, conta Andrea.
Não postei aqui esta matéria apenas para escrever sobre as infinitas possibilidades. Sobre o número de desejo correspondente ao número de cabeças existentes, mas porque me chamou atenção o número de comentários de leitores sobre a matéria publicada na Globo.com (1681 até o momento desta postagem aqui). Tem de tudo, tem comentários em nome de Deus, em nome da sociedade, da família, dos homossexuais, enfim, fala-se em nome de quase tudo
Vale mais à pena ler os comentários do que a matéria em si.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

A gota d'água (texto)

Hoje foi a gota que faltava para transbordar o meu copo. Decidi me afastar de situações e pessoas que me estressam. Não ganho (e mesmo que ganhasse) para me aborrecer e muito menos para compartilhar verdades que não acredito.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

A última serpentina (texto)

O carnaval acabou e estou em casa, finalmente. Ir sempre é bom, mas voltar é sempre melhor. Tô cansado de tanta viagem. Quero programar a próxima para 2021, apenas. Acabei de chegar. Comi uma maça e estava aqui lendo e respondendo aos e-mails da universidade que parece nunca entrar em recesso. E pior, não saber que há recesso. Estou cansado já dessa vida de reuniões e compromissos diários. Depois de dias tão agradáveis, divertidos, ensolarados, descubro que o trabalho não apenas me espera como não se esquece de mim. Será que um dia vão esquecer de mim?
Os dias na praia foram ótimos. Além do sol, reencontrei amigos e fiz amigos novos. Foi divertido!
Agora, enquanto voltava de Foz do Iguaçu para Cascavel, fiquei pensando sobre envelhecer. Meus amigos estão, como eu, ficando velhos, mas não perdem o bom humor.
Desse carnaval queria destacar o encontro com a Karen e Solange (ótimas companhias) e tb com o Diogo (agradável, educado, gentil). Eles fizeram a diferença neste ano. E o reencontro com o Camilo (sempre uma boa conversa). Estes fora do catálogo normal de possíveis encontros.
Ainda destacaria o bom humor do Tom Tom e as brincadeiras com o Isaac, Cícero, Marcos, Léo, Ânderson , Marquinhos e o Eder.
Entre mortos e feridos, salvaram-se todos.
(foto: Isaac, Karen, eu, Cícero e Solange com o copo na mão)

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Futebol e Samba (texto)

Escola de Samba é como time de futebol, torce-se por uma até morrer e mesmo que faça muito tempo que ela não vença o coração fica pintado com as cores da sua bandeira. Eu sou Flamenguista e torço pela Mocidade Independente de Padre Miguel desde de pequeno. Tanto um quanto outra foram influências de minha mãe. Meu coração é parte Vermelho e preto e Verde e branco.
Não me lembro bem quando foi o carnaval da vitória da escola de samba. Sei apenas que faz alguns anos que ela não vence. Tenho uma vaga lembrança de que foi Ziriguidum 2001 - Carnaval nas estrelas em 1985
Fiz uma rápida pesquisa no google e descobri que foi em 1996 com o enredo Criador e Criatura (o carnavalesco era o Renato Lage). De qualquer maneira, faz é tempo que a minha escola não vence. Este ano acompanhei o desfile pela TV e fiquei impressionado com a Unidos da Tijuca (campeã) e com a Beija-Flor de Nilópolis. Fazia tempo que eu não via o desfile pela TV. O espetáculo (e não é exagero) é muito melhor ao vivo na Marquês de Sapucaí, o sambódromo, mas enquanto não posso ver o desfile, vou acompanhando pelas bordas.

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Pastor defende lei antigay em Uganda (texto)

O pastor ugandense Martin Ssempa além de ser contra a homossexualidade, que julga 'um distúrbio', afirma que a camisinha oferece pouca proteção - ficou famoso após organizar manifestações em que queimou preservativos. 
Atualmente, Ssempa é um dos mais enfáticos apoiadores do projeto de lei anti-homossexual para votação no Parlamento de Uganda.
O país já proíbe por lei o ato sexual entre pessoas do mesmo sexo, mas o novo texto é mais rígido, incluindo até a pena de morte em alguns casos. 
Ssempa é pastor da Igreja da Comunidade Makerere e integrante da Força-tarefa Contra  a homossexualidade em Uganda. Ele também tem papel de conselheiro e consultor no governo.
Não é nenhuma novidade aqui para nós brasileiros um pastor, um padre, ser contra a homossexualidade e pautar o seu discurso no fato de pessoas do mesmo sexo não poder gerar filhos ou ainda no argumento de ser a homossexualidade contrária à Família Tradicional etc e tal.
Cansei de escrever aqui, em muitas oportunidades, que esses argumentos são tão furados que agora nem vale à pena insistir mais nisso. No entanto, apesar de acreditar que cada um acha o que pode (e não o que quer), continuo lutando pela liberdade de opinião, só não posso concorda que um país sendo laico (e isso acontece tb em Uganda) a vontade de religiosos (em sua maioria fanáticos) possa ser imposta a todos, indistintamente.
Se o pastor é a favor ou contra alguma coisa, incluindo aí a homossexualidade, ele não pode querer que a sua vontade se sobreponha. E quando escrevo aqui sobre a vontade do pastor, estou escrevendo sobre a vontade de certas religiões (como acontece tb no Brasil). Por conta da bancada evangélica e da igreja católica projetos como o de união civil entre pessoas do mesmo sexo e o de criminalização da homofobia estão mofando.
É um passo adiante e tantos outros para trás.




sábado, 13 de fevereiro de 2010

Aos 80 também se ama (Affonso Romano de Sant'Ànna - Texto)

          Não se escandalizem, crianças!  Não se espantem, rapazes! Talvez vocês não se lembrem de um filme famoso intitulado  "Os brutos também amam", mas lhes informo que não apenas  os brutos e os jovem, mas os velhos também amam. É  isso que estou lendo numa revista francesa séria, que tem uma manchete que equivale a: "Nossa Senhora, a Vovó também trepa". E lá está a foto de dois idosos ( que palavra incômoda!)  se acarinhando.
         E a reportagem é uma pesquisa com  pessoas  que têm cerca de 80 anos. Elas estão inteiraças e mandando bala. Os especialistas criaram até uma nova expressão "os novos octos" (a qualquer a hora a imprensa do Rio e São Paulo vai começar a falar disto). Os franceses gostam de encurtar certas palavras, "prof"  no lugar de professor, "filo" no lugar de filosofia, etc.. Pois aí estão  os  "novos octos" , os "novos octogenários".
E o repórter vai dando nomes e idades aos personagens entrevistados. Madalena, 80 anos, está febril para encontrar o seu Louis que chega de avião de Boston;  Maria, assistente social de 81 anos, está felicíssima por que encontrou  Dominique, 13 anos mais jovem, e lá se foi a solidãol  Marcel de 77 anos faz surfe com Ivone. E assim por diante. Enfim, pelo menos 70% desses idosos declaram que carecem de sexo, de uma maneira mais ou menos urgente, mas carecem.
         Quem, teoricamante,  primeiro escancarou a atualidade e a urgência desse assunto foi Simone de Beauvoir  num livro clássico "A velhice". Há que ler.
         É  como se a humanidade estivesse numa frenética reinvenção de si mesma. Vocês sabem que crianças são uma invenção recente, antes de Rousseau e outros elas apenas faziam parte do cenário alheio.  Outra invenção recente é a mulher,   outra o índio, outra o negro, outra o homossexual, e assim por diante. A imprensa e a sociologia estabeleceram que os jovens foram inventados nos anos 60 - o "poder jovem".
         Pois aí é que surge uma coisa curiosa sobre esses que estão chegando aos 80. Todos os governos dos Ocidente deveriam erguer uma estátua  em homenagem a eles, porque  são pessoas que atravessaram historicamente alguns dos momentos cruciais dos últimos anos. Eles viveram a revolução sexual dos anos 60. (Olha aí o "maio  68" de novo, olha aí  a vida que não quer morrer). As mulheres atravessaram a revolução feminista,  viram seus filhos virarem hippies, arriscaram-se em várias experiências pessoais, sociais, familiares  e agora estão aí cruzando os 80.
         Dizem as estatísticas que entre 1980 e 2009 aumentou a percentagem dos que atingem os 75 anos. E o número dos que terão 85  anos deverá quadruplicar os de 75 daqui a algumas décadas.
         Não se trata de fazer uma paráfrase do "poder jovem" e  decretar "o poder aos velhos". Nada disto. Parece que esses que chamávamos de velhinhos estão querendo outra coisa, e isto, sim, é sinal de sabedoria. Peguem a palavra aposentadoria. Antigamente havia uma noção de aposentadoria totalmente danosa: o indivíduo se aposentava, ficava inativo e havia um pressuposto de que aposentava também seu sexo. Aposentado era um morto que se  esqueceu de deitar. Havia, no entanto, uma expressão contraditória, pois dizia-se: "gozar a aposentadoria".
         Havia aposentadoria. Faltava o gozo. E é isto o que os de oitenta anos estão buscando.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Vai saber (texto)

Ontem foi um dia, no mínimo, curioso. Peguei um passageiro e até agora não estou acreditando nos nossos 20 minutos comuns. Nada do que ele dizia fazia sentido. Eu perguntava para ver se conseguíamos, minimamente, nos comunicar, e nada. Ele não falava coisa com coisa. Achei que estava bêbado, não era o caso.  Certamente era tantã, mas não tenho tanta certeza. Sei apenas que me senti em outra dimensão, na Ilha de Lost, talvez.
(Versão do motorista)

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Sem entender uma palavra sequer (texto)

Entrei num táxi, fiquei "conversando" com o motorista por, pelo menos, 20 minutos sem entender nada do que ele dizia. Ele me perguntava (eu compreendia pela entonação que se tratava de uma pergunta) e respondia qualquer coisa, porque não conseguia entender nada do que ele falava. Ele aceitava a minha resposta (às vezes um aham) e dava prosseguimento àquilo que todo mundo chamaria de surto. Estou até agora sem entender o que se passou. Será que eu estava num episódio do Arquivo X?

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

E ai você gosta de Carnaval? Que vai fazer neste Carnaval? (A Cris pergunta)

A Cris, do Canto de Contar Contos, perguntou, num post recente, se gostávamos de carnaval. Pensei, pensei, pensei bastante para não dizer qualquer bobagem e afirmar que gostava ou não gostava assim no calor dos acontecimentos. Sei que já gostei muito, muito mesmo. E ficava esperando o sábado de carnaval para me divertir fantasiado. 
Pensando bem, antes mesmo dessa época eu já era um folião. Minha mãe me fantasiava de índio (já postei aqui a foto - tá aí acima) ano após ano e me levava para um clube. Não me lembro muito bem desse tempo. Mas as fotografias "não mentem". Além das histórias engraçadas que ela contou, muito tempo depois,  dessa época.
Na adolescência não podia perder um carnaval (daquele jeito que acha que o mundo vai acabar na quarta-feira de cinzas e tem que aproveitar até o último instante): fantasia de dia, fantasia de noite. 
Quanto eu já tinha idade para frequentar o baile de adultos (naquela época, não tão remota, isso existia) eu tinha que ir as quatro noites. Ficava como um doido (porque só doido mesmo) rodando o salão
Com os primos (postiços) Tony e Rose brinquei bastante. Saíamos fantasiados naqueles enormes grupos de foliões. Sei que isso durou um bom tempo, mas não sei, exatamente, quando isso terminou. 
Depois o carnaval virou sinônimo de viagem para a Ilha Grande. Era muito divertido. Os amigos Robson, Vera, Íngridi, Gil, Dias numa época e Sebastian e Ana noutra (não necessariamente nesta ordem e nem os grupos tão fechados e definidos). Esperávamos para reencontrar na mesma pousada os amigos dos anos anteriores. E aí o carnaval era praia de dia e conversa (bebida) à noite.
Isso tb passou.
Noutra época passei apenas a viajar para a praia com os amigos de Curitiba (já adulto). Aí o carnaval já havia se transformado em alguma coisa que nem sei explicar.
De volta ao Rio conheci a Vanise, pronto (!), perdição total. Até fantasia ela me obrigou a vestir (na verdade nem fui tão obrigado assim). Sambódromo. Desfile em escola de samba. Blocos de rua: Cordão do Bola Preta; Imprensa que eu gosto; Simpatia é quase amor; Banda de Ipanema; Carmelitas; Boi-Tatá etc. Bons anos!
Ultimamente, voltei ao programa praia, mas com música, não necessariamente de carnaval. Além disso tb reencontro alguns amigos. Um encontro praticamente anual em Florianópolis.
Este ano não sabia o que fazer, não estava animado. Até que uma mensagem me tirou o sono (uma vaga sobrando numa pousada). Comprei as passagens e vou, mais uma vez, para Floripa: naquele esquema: praia de dia e pousada à noite (porque nao sou de ferro e as pernas doem).
Acho que gosto sim de carnaval, mas um carnaval menos folião e mais reencontro. E você?

E se o tempo parou? (texto)

Tenho, às vezes, a impressão de que o tempo parou.

A Um Ausente (Carlos Drummond de Andrade)


Tenho razão de sentir saudade,
tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo sem consulta sem provocação
até o limite das folhas caídas na hora de cair.
Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enloqueceu, enloquecendo nossas horas.
Que poderias ter feito de mais grave
do que o ato sem continuação, o ato em si,
o ato que não ousamos nem sabemos ousar
porque depois dele não há nada?
Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança.
Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Templo é dinheiro (texto)

Recebi e, como não sou de quebrar corrente, mando pra frente.

Heliocentrismo - Hélio Schwartsman - Folha de São Paulo, 03/12/2009

"Eu, Claudio Angelo, editor de Ciência da Folha, e Rafael Garcia, repórter do jornal, decidimos abrir uma igreja. Com o auxílio técnico do departamento Jurídico da Folha e do escritório Rodrigues Barbosa, Mac Dowell de Figueiredo Gasparian Advogados, fizemo-lo.
Precisamos apenas de R$ 418,42 em taxas e emolumentos e de cinco dias úteis (não consecutivos). É tudo muito simples. Não existem requisitos teológicos ou doutrinários para criar um culto religioso. Tampouco se exige número mínimo de fiéis.
Com o registro da Igreja Heliocêntrica do Sagrado EvangÉlio e seu CNPJ, pudemos abrir uma conta bancária na qual realizamos aplicações financeiras isentas de IR e IOF. Mas esses não são os únicos benefícios fiscais da empreitada. Nos termos do artigo 150 da Constituição, templos de qualquer culto são imunes a todos os impostos que incidam sobre o patrimônio, a renda ou os serviços relacionados com suas finalidades essenciais, as quais são definidas pelos próprios criadores. Ou seja, se levássemos a coisa adiante, poderíamos nos livrar de IPVA, IPTU, ISS, ITR e vários outros "Is" de bens colocados em nome da igreja.
Há também vantagens extratributárias. Os templos são livres para se organizarem como bem entenderem, o que inclui escolher seus sacerdotes. Uma vez ungidos, eles adquirem privilégios como a isenção do serviço militar obrigatório (já sagrei meus filhos Ian e David ministros religiosos) e direito a prisão especial."

domingo, 7 de fevereiro de 2010

A Igreja Católica outra vez (texto)

Simone Scatizzo, de 79 anos, bispo aposentado de Pistoia (centro-norte da Itália) suscitou a ira dos grupos homossexuais italianos nesta sexta-feira (5) ao se declarar contrário a que os gays "declarados e ostensivos" possam comungar, ao considerar a homossexualidade "uma desordem, um pecado que exclui da comunhão".
Scattizo fez essas declarações ao portal de internet italiano "Pontifex.Roma". Ele disse que a homossexualidade "é uma desordem e que praticá-la e fazer ostentação da mesma é um pecado que exclui da comunhão".
No entanto, ele acrescentou que se um homossexual se aproximar dele para comungar não poderia se negar, já que não sabe se essa pessoa "teria se confessado, se arrependido e mudado de vida".

As palavras do prelado foram duramente criticadas nas páginas web dos grupos de gays, lésbicas e transexuais da Itália, assim como pelo presidente do maior coletivo gay do país, o Arcigay, Aurelio Mancuso, que denunciou uma "estratégia ofensiva e discriminatória do Vaticano".
Segundo Mancuso, "o Vaticano coloca na boca de bispos idosos aposentados as coisas mais horríveis contra os gays, com o objetivo de atacar a dignidade destas pessoas".
"O Vaticano de maneira hipócrita não tem nem sequer o valor de se expressar diretamente e levar sua guerra contra quem afirma livremente sua identidade. Os gays, lésbicas e transexuais fieis devem de deixar de lado esta igreja fascista, homófoba e cúmplice da violência", afirmou Mancuso em nota.
Da mesma forma que fez Scattizi, no passado outros prelados aposentados também se mostraram contrários a dar a comunhão aos gays, como afirmou o prelado emérito de Grosseto, Giacomo Babini, que qualificou a homossexualidade como "um pecado gravíssimo" e assegurou que ele jamais daria a comunhão "a alguém como Vendola".
Ele se referia a Nicki Vendola, presidente da região sulina de Apúlia, que se define publicamente como comunista e católico, e é homossexual declarado.
Babini também qualificou de "aberrante a prática da homossexualidade", disse que era um "vício contra a natureza" e se mostrou contrário a que as prefeituras financiem casas aos casais homossexuais.
Não foi o único, o bispo aposentado de Lucera-Troia, Francesco Zerrillo, disse há vários dias que "seria preciso convidar" os gays para não se aproximar da comunhão, "para não alimentar o escândalo da comunhão aos gays".
Nesse mesmo portal de internet, o cardeal mexicano e ex-ministro de Saúde vaticano, Javier Lozano Barragán, de 78 anos, afirmou no dia 2 de dezembro do ano passado que os transexuais e os homossexuais "jamais entrarão no Reino dos Céus, já que tudo o que vai contra a natureza ofende a Deus".

Domingo (texto)

Do latim dies Dominicus (dia do Senhor). Por influência religiosa, o primeiro dia da semana, aquele a que se deve dedicar à oração e ao descanso. Amado ou odiado por muitas pessoas. Tem aquele que odeia porque ele precede à segunda-feira e, geralmente, funciona, sobretudo nas pequenas cidades, como um feriado (não há comércio etc. e tal), além de lembrar o Faustão e o Fantástico, Gugu e Silvio Santos.
Eu gosto justamente porque é um dia de descanso. Justamente porque funciona como um dia especial (sem muito o que fazer). Porque posso acordo sem nenhuma obrigação (a não ser quando dou aulas na segunda-feira) e a qualquer hora. Por exemplo, são 11h04 e acabei de tomar o café da manhã. Posso ficar o dia inteiro fazendo o que eu gosto (mentira, né?). Ah, não importa muito se não posso fazer exatamente o que eu gosto, mas pelo menos não preciso fazer o que não gosto. E se isso não é um bom motivo para gostar de domingo...
Em Cascavel os domingos são muito iguais: almoço no shopping (que fica ao lado de casa) e depois um cafezinho (porque almoçar sem um cafezinho depois, não dá). Vezinquando, quando os amigos estão por perto, vamos ao Crostini (comida boa demais!!!), atendimento no mesmo nível. Ou quando estou bem descansado (isso pode acontecer até julho, mais ou menos) eu mesmo preparo a comida em casa.
Este ano tenho 2 bons motivos para isso (ganhei dois livros de receitas) e curto, mesmo que sozinho, experimentar. Não sou nenhuma Nanci, Sil, Sandro,Vanise, Rita Félix, Fátima ou Cris na cozinha (sei reconhecer), mas como o que preparo sem cara feia. Um bom domingo para todos!!!!


sábado, 6 de fevereiro de 2010

O mundo conspira (rs) (texto)

Estou em casa. O concurso não saiu. Melou totalmente. Achei quase tudo tão quente (inclusive o ar-condicionado do quarto), não gostei de trocar um jantar por pizza (fui até acusado, injustamente, de ser o único no mundo a não gostar de pizza), sem falar da distância entre a cidade onde moro e Santo Antônio da Platina, disseram que eu estava fazendo birra ...o concurso não saiu do papel. E não pensem que fiquei feliz. Não fiquei. A data será remarcada e lá estarei eu de novo.
Tudo aquilo pode ter sido realmente um pouco chato, mas conheci pessoas interessantes. Gente boa há em qualquer lugar que se vá. E tenho sorte em conhecê-las.
Bom ter ido a Santo Antônio da Platina.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Eu já estou com o pé nessa estrada, qualquer dia a gente se vê (texto)

Mal cheguei em casa e descobri que nem deveria ter desfeito a mala. Já estou outra vez na estrada. Que saco! Acabei de chegar, não descansei (não vi meus amigos) e em mais uma missão. Percorremos mais de 900 quilômetros, 7h de viagem, e em Santo Antônio da Platina. Nunca ouviram falar? Nem eu. Mas isso pouco importa. Vim para trabalhar e pronto.
A cidade é bem pequena. O hotel engraçado (seja lá o que isso signifique). Vamos sair agora para comer. Deus nos proteja! Preconceito? Não. Medo.
(...intervalo do jantar...).
Não sei se já disse que sou chato. Se não, lá vai. Sou chato. Odeio trocar jantar por pizza. Odeio pizza. Mas como sou minoria. 4 contra um. Fui à pizzaria. Comi picanha (tudo bem acompanhar, mas daí para um rodízio de pizza é muito).
Por enquanto é isso...Boa noite!

PANTA REI = TUDO MUDA (texto)

Recebi de uma grande amiga e vou compartilhar .

O pessimista queixa-se do vento, o otimista espera que ele mude, e o realista ajusta as velas. (Willian George Ward)

PANTA REI = TUDO MUDA
Compartilhando a arte e o ensinamento ao desapego.

É um trabalho impressionante dos monges budistas que fazem as mandalas de sal colorido. Feitas com o maior cuidado e com a maior dedicação, elas são desmanchadas logo depois de prontas para demonstrar a transitoriedade das coisas na vida, mesmo que elas exijam o maior esforço.  Assim é que nós devemos encarar o dia-a-dia. E sempre prontos para começar tudo de novo, se preciso for.

Perca o referencial de vez em quando.
Saia de sua zona de conforto.
oportunidade ao imprevisível.
Nada é mais certo do que a incerteza.
As coisas têm o valor que nós damos a elas..

"Panta Rei" é uma expressão do pensador Heráclito, que significa TUDO MUDA (tudo flui, nada persiste) - e ele usava como metáfora filosófica a ideia de pisar num Rio, que um milésimo de segundo depois de pisado, já não era mais feito da mesma água.

A Saúde - A nossa maior dádiva!
A Oração - A solução para os dias atuais com a Terra em transição!
A Paz -   Busque-a na sua Energia Vital, no interior do seu ser!
O Amor - O elo, a razão e o entendimento para tudo!
O Perdão - A ascensão espiritual!
O Trabalho - É o nosso estímulo!
A Humildade - É a sabedoria!
O Orgulho - é a maior DOENÇA da ALMA!

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Tatoo (texto + foto)

A tatuagem ficou quase pronta. Depois de uma sessão de dor intensa (das 10h30 às 15h20 mais ou menos) ela começou a dar o ar da graça. Eu gostei do resultado, mas tão cedo não vou me esquecer da dor que senti. Todo mundo diz (somente as mulheres) que homem é mole demais, não aguenta nenhuma dorzinha sem reclamar. Eu aguentei firme e forte, positivo e operante (mentira, reclamei bastante, mas não vou colocar aqui as fotos com cara feia).
Ficou faltando um arrremate nas linhas, além disso só depois da cicatrização vai dar para ver o resultado (mas tudo isso apenas em julho). Valeu Caco!!!!

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Primeiro usa o Haiti, depois U.S.A. for Haiti

É claro que não me refiro aos artistas envolvidos com a questão haitina (a regravação de We Are The World - USA for África como forma de ajudar a reconstrução do país). Toda a ajuda sempre é bem-vinda, indamais depois da tragédia do dia 12 de janeiro (um sismo de intensidade 7 que destruiu parte do país), mas não posso esquecer a forma como o governo dos E.U.A. se comportou em relação ao presidente do Haiti, Jean-Bertrand Aristide, ex-padre católico, ligado à teologia da libertação.
Ele foi presidente do Haiti em três períodos: em 1991, de 1994 a 1996 e novamente de 2001 a 2004. Foi afastado, primeiramente, por um golpe militar (setembro de 1991) e novamente em 2004, numa situação até hoje mal explicada. Foi retirado do país por militares norte-americanos em um momento em que era iminente um confronto entre integrantes de um levante armado (composto por ex-militares haitianos e tontons macoutes e apoiadores de então presidente na capital Porto Príncipe).
Depois dessa segunda deposição, Aristide refugiou-se na África do Sul. De lá, afirmou que ainda era o legítimo presidente do Haiti, pois não havia renunciado, e que forças dos Estados Unidos o tinham sequestrado para tirá-lo do poder.
Ele foi eleito democraticamente presidente do país depois (não no sentido temporal, ou seja, imediatamente) de dois ditadores, François Duvalier, mais conhecido como Papa Doc (eleito presidente em 1957, onde instaurou um governo terrorista promovido pelos tontons macoutes, que significa Bichos-papões, em português, que pertenciam à sua guarda pessoal; e também na exploração do Vodu). Ao morrer (1971) foi substituído por seu filho, Jean-Claude Duvalier, o Baby Doc, responsáveis, em grande parte, pela miséria que assola até hoje o povo haitiano.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

"10 estratégias de manipulação das elites", por Noam Chomsky (texto)

No didático artigo abaixo, Chomsky lista as "10 estratégias de manipulação" das elites

Chomsky e as estratégias de manipulação
O linguista estadunidense Noam Chomsky, que se define politicamente como "companheiro de viagem" da tradição anarquista, é considerado um dos maiores intelectuais da atualidade. Entre outros estudos, ele elaborou excelentes livros e textos sobre o papel dos meios de comunicação no sistema capitalista. É dele a clássica frase de que "a propaganda representa para a democracia aquilo que o cassetete significa para o estado totalitário". No didático artigo abaixo, Chomsky lista as "10 estratégias de manipulação" das elites. Vale a penar ler e reler:
1- A estratégica da distração.
O elemento primordial do controle social é a estratégia da distração que consiste em desviar a atenção do público dos problemas importantes e das mudanças decididas pelas elites políticas e econômicas, mediante a técnica do dilúvio ou inundações de contínuas distrações e de informações insignificantes.
A estratégia da distração é igualmente indispensável para impedir ao público de interessar-se pelos conhecimentos essenciais, na área da ciência, da economia, da psicologia, da neurobiologia e da cibernética. "Manter a atenção do público distraída, longe dos verdadeiros problemas sociais, cativada por temas sem importância real. Manter o público ocupado, ocupado, ocupado, sem nenhum tempo para pensar; de volta à granja como os outros animais (citação do texto "Armas silenciosas para guerras tranquilas")".

2- Criar problemas, depois oferecer soluções.
Este método também é chamado "problema-reação-solução". Cria-se um problema, uma "situação" prevista para causar certa reação no público, a fim de que este seja o mandante das medidas que se deseja fazer aceitar. Por exemplo: deixar que se desenvolva ou se intensifique a violência urbana, ou organizar atentados sangrentos, a fim de que o público seja o mandante de leis de segurança e políticas em prejuízo da liberdade. Ou também: criar uma crise econômica para fazer aceitar como um mal necessário o retrocesso dos direitos sociais e o desmantelamento dos serviços públicos.

3- A estratégia da degradação.
Para fazer com que se aceite uma medida inaceitável, é suficiente aplicar progressivamente, em "degradado", sobre uma duração de 10 anos. É dessa maneira que condições socioeconômicas radicalmente novas têm sido impostas durante os anos de 1980 a 1990. Desemprego em massa, precariedade, flexibilidade, salários que já não asseguram ingressos decentes, tantas mudanças que haviam provocado uma revolução se tivessem sido aplicadas de forma brusca.

4- A estratégica do deferido.
Outra maneira de se fazer aceitar uma decisão impopular é a de apresentá-la como sendo "dolorosa e necessária", obtendo a aceitação pública no momento para uma aplicação futura. É mais fácil aceitar um sacrifício futuro do que um sacrifício imediato. Primeiro, por que o esforço não é empregado imediatamente. Em seguida, por que o público, a massa, tem sempre a tendência a esperar ingenuamente que "tudo irá melhorar amanhã" e que o sacrifício exigido poderá ser evitado. Isto dá mais tempo ao público para acostumar-se com a ideia de mudança e de aceitá-la com resignação quando chegue o momento.

5- Dirigir-se ao público como crianças de baixa idade.
A maioria da publicidade dirigida ao grande público utiliza discurso, argumentos, personagens e entonação particularmente infantis, muitas vezes próximos à debilidade, como se o espectador fosse um menino de baixa idade ou um deficiente mental. Quanto mais se intente buscar enganar ao espectador, mais se tende a adotar um tom infantilizante. Por que?
"Se você se dirige a uma pessoa como se ela tivesse a idade de 12 anos, então, em razão da sugestionabilidade, ela tenderá, com certa probabilidade, uma resposta ou reação também desprovida de um sentido crítico como a de uma pessoa de 12 anos de idade (ver "Armas silenciosas para guerras tranquilas")".

6- Utilizar o aspecto emocional muito mais do que a reflexão.
Fazer uso do aspecto emocional é uma técnica clássica para causar um curto circuito na análise racional, e por fim ao sentido critico dos indivíduos. Além do mais, a utilização do registro emocional permite abrir a porta de acesso ao inconsciente para implantar ou enxertar ideias, desejos, medos e temores, compulsões, ou induzir comportamentos.

7- Manter o público na ignorância e na mediocridade.
Fazer com que o público seja incapaz de compreender as tecnologias e os métodos utilizados para seu controle e sua escravidão. "A qualidade da educação dada as classes sociais inferiores deve ser a mais pobre e medíocre possível, de forma que a distância da ignorância que paira entre as classes inferiores às classes sociais superiores seja e permaneça impossíveis para o alcance das classes inferiores (ver "Armas silenciosas para guerras tranquilas")".

8- Promover ao público a ser complacente na mediocridade.
Promover ao público a achar "cool" pelo fato de ser estúpido, vulgar e inculto.

9- Reforçar a revolta pela culpabilidade.
Fazer o indivíduo acreditar que é somente ele o culpado pela sua própria desgraça, por causa da insuficiência de sua inteligência, de suas capacidades, ou de seus esforços. Assim, ao invés de rebelar-se contra o sistema econômico, o indivíduo se autodesvalida e culpa-se, o que gera um estado depressivo do qual um dos seus efeitos é a inibição da sua ação. E sem ação, não há revolução!

10- Conhecer melhor os indivíduos do que eles mesmos se conhecem.
No transcorrer dos últimos 50 anos, os avanços acelerados da ciência têm gerado crescente brecha entre os conhecimentos do público e aquelas possuídas e utilizadas pelas elites dominantes. Graças à biologia, à neurobiologia e à psicologia aplicada, o "sistema" tem desfrutado de um conhecimento avançado do ser humano, tanto de forma física como psicologicamente. O sistema tem conseguido conhecer melhor o indivíduo comum do que ele mesmo conhece a si mesmo. Isto significa que, na maioria dos casos, o sistema exerce um controle maior e um grande poder sobre os indivíduos do que os indivíduos a si mesmos.

ver: Altamiro Borges

Solidão na velhice...

A solidão na velhice é uma experiência profundamente marcada pela complexidade da existência humana. Com o passar dos anos, os vínculos soci...