A fuga para as cidades, para as grandes cidades, não representa para os homossexuais somente a possibilidade de viver num certo anonimato. Trata-se, segundo Didier Eribon, de um verdadeiro corte na biografia dos indivíduos.
A cidade pequena é o lugar onde é difícil escapar do único espelho disponível, o que nos é apresentado pela vida familiar, pela escola, pelas instituições de uma forma geral. Nas cidades pequenas é muito difícil escapar dos modelos afetivos, culturais, sociais da heterossexualidade.
Quando refiro-me às pequenas cidade, refiro-me tb aos subúrbios em torno das capitais, por exemplo. Eles são uma espécie de cidades miniaturas onde vizinhos, familiares estão sempre de olho nos comportamentos. É muito comum a migração de gays para os grandes centros, partam eles de cidade menores ou de subúrbios que gravitam em torno de capitais.
Por isso é que a sociabilidade gay - ou lésbica - funda-se primeiramente, e antes de tudo, numa prática e numa "política" da amizade.
Estar com outros homossexuais permite ver a si mesmo. Permite partilhar e experimentar a própria existência, como escreveu Henning Bech.
As redes de amigos são uma das instituições mais importantes da vida homossexual. Só nesse quadro é possível desenvolver uma identidade mais concreta e mais positiva de si.
O círculo de amigos está no centro das vidas gays, e o percurso psicológico do homossexual marca uma evolução da solidão para a socialização em e pelos lugares de encontro.
Assim, o modo de vida homossexual está fundado nos círculos concêntricos das amizades ou na tentativa sempre recomeçada de criar tais redes e de estabelecer tais amizades.
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