quinta-feira, 3 de julho de 2014

A sensação de felicidade

Hoje, concluí mais um artigo do estágio de pós-doutorado: escrevi sobre o Brasil e o brasileiro a partir do que é recorrente nos jornais portugueses, de 2011, quando se fala da nossa economia: de um país emergente, da sensação de felicidade que a economia produz na população como se isso fosse uma equação linguística: economia emergente = população feliz.
É muito interessante perceber os efeitos de sentidos produzidos quando se naturaliza a relação entre a felicidade, o consumo e o poder aquisitivo da população. 
Não há espaço para que se efetive nada de negativo quando se pensa num país emergente, nesses jornais: nada é falado, por exemplo, sobre uma má distribuição de renda, sobre um número crescente de miseráveis, sobre os que estão do outro lado do balcão enquanto o consumo acontece, dos que nao têm moradia, dos que não tem alimentação ou educação, dos que não têm segurança, nada se fala das margens. Não há um outro lado, nesses jornais quando se pensa nas economias emergentes, sobretudo quando se fala nos países membros do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). 
É claro que não se pode esquecer do lugar de Portugal, das condições de produção desses textos jornalísticos, quando o assunto é economia: a crise da zona do euro, sobretudo a que atinge os países periféricos da Europa: Portugal, Grécia, Itália, Espanha e Irlanda, principalmente, no ano de 2011. A crise maior acontece no ano seguinte, mas o susto, o que paralisa, se dá em 2011.
Fala-se apenas de se consumir tudo e da sensação (imaginária) de felicidade que o consumo produz. A falta, constitutiva do sujeito sendo "preenchida" pelo consumo.
Tudo é consumível: desde o novo aparelho mais sofisticado de telefone celular, da televisão em 3D, até de um novo relacionamento, como se tudo isso pudesse preencher um vazio que nos subjetiva. Tudo é coisificado quando se pensa dessa formação discursiva do consumo como um caminho para ser feliz.
É tão natural a relação que se faz entre o otimismo dos indianos, dos brasileiros e dos chineses e a economia emergente que os sentidos parecem colados nas palavras.

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