terça-feira, 30 de dezembro de 2025

Para 2026: ser eu mesmo o maior tempo possível



Entrei em 2025 com a ideia de presença, de cuidado e de abertura. Queria viver um dia de cada vez, cuidar do corpo, reduzir excessos, aceitar convites, ouvir mais, irritar menos. O ano passou, e quase tudo seguiu por outros caminhos. A ansiedade voltou em muitos momentos, o corpo nem sempre veio junto, o trabalho pesou mais do que eu gostaria, a leveza ficou intermitente. O que escrevi em janeiro permaneceu ali como desejo, não como roteiro.

Pensar 2026 talvez passe por reconhecer isso sem correção imediata. O descompasso entre o que se deseja e o que se vive faz parte do modo como o tempo se impõe. As intenções de 2025 não foram inúteis por não terem se cumprido; elas marcaram um ponto de escuta, mesmo quando a vida seguiu em outra direção. Há algo de honesto em admitir que nem sempre se vive aquilo que se formula.

Talvez 2026 não precise começar com metas, mas com uma atenção mais modesta. Menos promessas feitas a mim mesmo e mais disponibilidade para perceber o que se apresenta. Em vez de presença como ideal, presença como tentativa. Em vez de equilíbrio como meta, equilíbrio como algo que oscila. O corpo, o trabalho, o dinheiro, os afetos seguem pedindo cuidado, mas sem a exigência de acerto.

Pensar o próximo ano pode ser menos um exercício de projeção e mais um gesto de continuidade. Seguir escrevendo quando der, vivendo como for possível, ajustando os ponteiros internos no meio do caminho, não no início. Talvez 2026 peça menos vontade de ser outro e mais disposição para seguir sendo, com pausas, recuos e pequenos avanços.

Para 2026, junto a tudo isso, fica um desejo mais simples e talvez mais difícil: ser eu mesmo o maior tempo possível. Não como afirmação grandiosa, mas como permanência discreta. Seguir sendo sem me dobrar tanto às expectativas alheias ou sem me dobrar às expectativas incorporadas ao longo desses anos de vidasem me afastar do que reconheço como meu modo de estar no mundo. Ser eu mesmo nos dias bons e nos dias opacos, nas conversas e nos silêncios, no trabalho e fora dele. Se houver uma meta, ela passa por aí: sustentar essa permanência quando der, aceitar quando não der, e continuar, ainda assim, no caminho.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Para 2026: ser eu mesmo o maior tempo possível

Entrei em 2025 com a ideia de presença , de cuidado e de abertura . Queria viver um dia de cada vez, cuidar do corpo, reduzir excessos, ace...