Semana passada em uma banca de qualificação (de uma dissertação de mestrado) falei sobre essa poesia aí embaixo e sobre o poeta Antonio Cícero. Na verdade, falo sempre sobre esse poema porque eu gosto demais dele. Conheci parte desse texto ao ouvir a música Deve ser assim (de Marina Lima e Alvin L.) parte do álbum O Chamado. Hoje, fui surpreendido com a notícia da sua morte.
Bateu uma tristeza!!!!
E ao mesmo tempo uma admiração pelo filósofo/poeta ou poeta/filósofo que decidiu diante de uma doença (Alzheimer), ainda sem cura, ir à Suíça para o procedimento de um suicídio assistido. Que coragem! Como nos disse hoje o tb poeta José Miguel Wisnik: "um ato límpido, adulto e amorosa."
Guardar uma coisa não é escondê-la ou trancá-la.
Em cofre não se guarda coisa alguma.
Em cofre perde-se a coisa à vista.
Guardar uma coisa é olhá-la, fitá-la, mirá-la por
admirá-la, isto é, iluminá-la ou ser por ela iluminado.
Guardar uma coisa é vigiá-la, isto é, fazer vigília por
ela, isto é, velar por ela, isto é, estar acordado por ela,
isto é, estar por ela ou ser por ela.
Por isso melhor se guarda o voo de um pássaro
Do que um pássaro sem voos.
Por isso se escreve, por isso se diz, por isso se publica,
por isso se declara e declama um poema:
Para guardá-lo:
Para que ele, por sua vez, guarde o que guarda:
Guarde o que quer que guarda um poema:
Por isso o lance do poema:
Por guardar-se o que se quer guardar.
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