quinta-feira, 22 de maio de 2025

Nem tudo que se afasta deixa de ser importante. Nem toda presença constante é sinônimo de afeto verdadeiro




A gente se acostuma. Não de uma vez, nem sem resistência. Mas, aos poucos, como quem muda de casa e só depois de algum tempo para de procurar o interruptor de luz onde ele já não está. Com o tempo, o corpo entende que algumas presenças se tornaram raras, que certos nomes não aparecem mais na tela do celular e que aquele silêncio — antes estranho — começa a fazer parte da paisagem.

Acostumar-se, aqui, não tem nada de desamor ou frieza. É só que a vida, mesmo sem aviso, vai redesenhando os encontros, mudando o tom das conversas, afastando os corpos e, às vezes, até os afetos. E a gente aprende a seguir, mesmo com a lembrança de quem ficou longe. Não é sobre fechar a porta, mas sobre deixar que o tempo areje o que ficou dentro.

Há pessoas cuja ausência vira presença sutil: um cheiro que passa na rua, uma música que começa a tocar, uma frase que volta do nada. E mesmo assim, mesmo com esses vestígios, a gente vai aprendendo a conviver com a distância, sem precisar brigar com ela. Porque acostumar-se não é desistir, é encontrar um jeito menos doloroso de continuar.

No fim das contas, talvez a maior lição seja essa: nem tudo que se afasta deixa de ser importante. Nem toda presença constante é sinônimo de afeto verdadeiro. E a gente aprende — no silêncio das ausências e na paz possível de certas distâncias — que há formas novas de sentir, de lembrar e de seguir.

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