sábado, 31 de maio de 2025

Um convite para habitar o agora com mais atenção



Sonhei esta noite (ou parte dela) com a despedida de alguém que não me lembro quem era. Acordei com a sensação de que há sempre algo que fica por dizer, algo que se perde no tempo, algo que escapa. A gente nunca sabe quando será o último beijo, o último abraço, o último café com leite partilhado numa manhã qualquer, nem quando ouviremos aquela música que, sem aviso, se tornará a trilha de um tempo que já não volta. A vida se faz no intervalo entre o agora e o nunca mais, e quase sempre a gente está distraído demais para perceber que o que temos é só este instante – este e nenhum outro.

Vivemos como se houvesse sempre depois: depois a gente se fala, depois a gente combina, depois a gente toma aquele café, ouvia de novo aquela canção. Mas o "depois" é um terreno que nunca se firma, é promessa que não se cumpre. O tempo não avisa, não pede licença: ele simplesmente escorre. E quando a gente se dá conta, o que era presença virou memória, o que era possibilidade virou silêncio.

Talvez a vida seja, justamente, esse convite para habitar o agora com mais atenção, com mais corpo. Tomar o café sentindo o calor da xícara, ouvir a música como se fosse a última vez, dizer o que precisa ser dito com a urgência de quem sabe que o instante não se repete. Porque ele não se repete. Tudo que temos é agora – e é tão pouco, mas é tudo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Uma chatice que pesa mais do que qualquer sandália

Os tempos atuais no Brasil são atravessados por uma polarização que parece transformar qualquer gesto banal em campo de batalha simbólico . ...