quinta-feira, 27 de novembro de 2025

Sem saber exatamente o quê








Há períodos em que o ritmo interno desacerta e tudo parece mais pesado do que deveria. Há dias em que levantar, responder mensagens e cumprir prazos soa como um esforço desproporcional. Neste momento, estou dentro desse redemoinho silencioso, tentando compreender o que acontece comigo enquanto a vida segue lá fora. Não se trata de grandes tragédias, apenas um desgaste acumulado que insiste em se anunciar.

O curioso é que investi cada centímetro da minha energia no trabalho, acreditando que a dedicação intensa pudesse funcionar como um escudo. Permaneci ocupado, sempre com algo a fazer, sempre com uma tarefa urgente. Foi um modo de evitar olhares mais profundos sobre aquilo que, no fundo, eu já sabia. A agenda cheia serviu de trilha para fugir de mim mesmo.

A parte mais incômoda dessa história é reconhecer a própria participação no enredo. Não existe vilão externo para apontar. Os obstáculos que enfrento nasceram de decisões que eu mesmo tomei, de expectativas que construí, de escolhas que fiz tentando dar conta de tudo. Esse reconhecimento pesa, aperta o peito e provoca uma mistura de angústia e ansiedade difícil de administrar.

Ainda assim, esse movimento me coloca diante de constatações que já não consigo contornar. Percebo que há limites que ignorei e sinais que preferi não enxergar, como se fosse possível adiar indefinidamente o encontro comigo mesmo. Não é uma epifania, apenas a evidência de um cansaço que cobra presença e pede nome. Talvez não seja o momento de transformar isso em algo produtivo ou inspirador — é simplesmente o que está posto. Sigo atravessando essa fase sem clareza sobre o que virá depois, convivendo com a sensação incômoda de que algo precisa mudar, mesmo sem saber exatamente o quê.

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