Há uma linha tênue entre o trabalho e aquilo que se vive fora dele, mas existe um princípio que sustenta qualquer atividade profissional: quem assume uma função responde por ela. Um pedido feito no horário de expediente convoca uma responsabilidade, seja responder, encaminhar, resolver ou, no mínimo, dar retorno. Silenciar, fingir ausência ou tratar demandas como algo voluntário enfraquece o sentido do próprio cargo e coloca em risco a confiança que sustenta o ambiente de trabalho.
O vínculo pessoal pode até florescer entre colegas, mas essa é uma consequência, não um propósito. A convivência diária cria aproximações, afinidades e até cumplicidades, mas nada disso ocupa o lugar da tarefa que nos foi atribuída. A cobrança existe porque há uma posição ocupada. Ninguém está ali apenas porque é simpático, agradável ou querido. A presença se justifica pela capacidade de resposta àquilo que foi assumido institucionalmente.
Em ambientes profissionais, o gesto de tratar a amizade como porta de entrada para privilégios, tolerâncias ou desculpas desestabiliza as relações. Quando a cordialidade passa a valer mais do que a entrega, cria-se uma confusão perigosa entre afeto e responsabilidade. É reconfortante trabalhar com pessoas que admiramos, mas a prioridade recai sobre o trabalho realizado. Se houver afinidade, ótimo. Caso não exista, ainda assim a expectativa permanece: cumprir aquilo que cabe a cada um.
Um capítulo à parte é ocupado por aqueles sujeitos que se dedicam a bajulações. Esse tipo de presença se molda ao desejo do chefe, esvazia o pensamento e troca a reflexão por elogios permanentes. O objetivo não é contribuir, mas se manter protegido, garantindo benefícios financeiros e alguma sensação de importância emprestada. Esses personagens lembram constantemente que, no mundo profissional, há quem prefira o conforto submisso ao risco de pensar. Quem sustenta o próprio lugar, porém, sabe que a integridade nunca se negocia.

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