Bancar-se é outra conversa. É quando o sujeito decide que suas escolhas não precisam passar pelo crivo de uma plateia invisível. É quando percebe que o desejo não espera autorização externa para existir. É um gesto simples e, ao mesmo tempo, audacioso: não se trata de fazer o que der na telha, mas de não pedir desculpas por ser quem se é. Dá trabalho, claro. Sustentar os próprios quereres exige coragem para lidar com a surpresa alheia, o desconforto dos que queriam previsibilidade e, sobretudo, a própria insegurança. Ainda assim, é um alívio inesperado descobrir que o mundo continua girando.
Ao encarar essa empreitada, as máscaras sociais revelam seu caráter cansativo. Elas servem para agradar, para evitar perguntas indesejadas, para fingir convicções que não pertencem a quem as usa. E, mesmo assim, insistimos nelas como se fossem acessórios indispensáveis. É curioso: esconder-se cansa mais do que aparecer. Não há almofada mais dura do que uma vida vivida aos pedaços, sempre editada, sempre adaptada às expectativas de terceiros.
Assumir-se, portanto, não é um ato heroico reservado aos iluminados do autoconhecimento. É um aprendizado cotidiano de coerência interna, um exercício de escolha: seguir o fluxo alheio ou responder aos próprios movimentos. Há dias em que essa tarefa parece suave, quase natural; em outros, surge a tentação de entrar de novo no figurino confortável. A diferença é que, depois de experimentar a leveza de bancar-se, qualquer máscara parece apertada demais. Descobre-se, então, que viver sem disfarces não elimina dificuldades, mas permite algo que vale mais do que qualquer aplauso social: a tranquilidade de reconhecer-se em cada passo que se dá.
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