Hoje, no almoço com alguns amigos, lembramos de casos de pessoas que adoram a primeira pessoa do singular como o tema central de qualquer conversa: "eu posso, eu faço, eu consigo, eu trabalho, eu vou, eu fiz, o meu é assim, o meu é assado, o meu faz mais sucesso, eu sou reconhecido etc. etc. etc." Cada um de nós teve um caso para relatar: desde a amiga de uma amiga que não se conformava com o sucesso alheio, ou seja, que não fosse seu próprio sucesso, a ponto de chegar para uma visita e, antes mesmo de cumprimentar a dona da casa, perguntou se o apartamento tinha sido comprado à vista ou financiado, até um conhecido meu que, dia desses, num telefonema eu consegui contar 30 usos do "eu" numa conversa de 10 minutos por telefone.
É interessante notar, se é que existe fato interessante num situação dessas, é que o outro (aquele que usa o "eu" o tempo todo) não consegue ouvir nada que não seja a sua própria história, seu próprio umbigo e quer o tempo todo o centro do picadeiro. Carência, insegurança, auto-afirmação, narcisismo, arrogância ou seja lá o que for só produz efeito se tem plateia. Por isso, acredito, temos uma parcela grande de culpa quando contribuímos com esses comportamentos. Dar atenção para uma criatura como essa é mesmo alimentar a fome do outro.
É um desvio sério de comportamento: um gato que se vê leão, e pior, um gato que quer ser visto como leão. Da mesma proporção, acredito, considerando às diferenças, o magro que se vê gordo, o bonito que se vê feio, o mentiroso compulsivo e por aí vai.