quinta-feira, 25 de junho de 2009

A Partida (filme)

Assisti nesta semana ao filme A Partida, vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro de 2009, que conta a história de um violoncelista que volta à cidade natal com a esposa depois que a orquestra onde toca é dissolvida. Lá, começa a trabalhar como funcionário de uma funerária e, depois de alguns contratempos, fica extremamente orgulhoso de sua nova profissão, apesar das críticas dos que o rodeiam.
São vários clichês (e não estou sendo exagerado!). Não conto para não ser o estraga-prazer de quem for ver o longa. Além de uma música que te faz chorar o tempo todo, desnecessário!
Apesar de tudo isso nos mostra um ritual interessante sobre os preparativos para a morte. Não sei se indico. Não sei... Sempre acho que o melhor é ter a própria opinião a respeito dessas produções. E gosto, sabe-se como é.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Esses amigos... (texto)

Tem sido fundamental, nesses dias aqui no Rio, para que eu tenha um pouco de equilíbrio, os meus amigos, esses que têm me acompanhado, literalmente, no dia a dia junto de minha mãe e meu pai(drasto). Os e-mails que tenho recebido sobre orações, sobre pensamentos positivos, sobre amizade, força espitirual, nas ligações que recebo, nos papos descontraídos que tentam me tirar da preocupação, da angústia em lidar sem nenhuma experiência com a dor de Helô.
Hoje vi nos olhos do meu pai(drato) o seu sofrimento e tb a sua falta de experiência para saber como fazer da melhor forma e aliviar o peso de estarmos doentes, tristes, angustiados, sem saber direito como serão os próximos dias.
E como não há um manual que nos ensine como temos que agir, vamos, na medida do possível, e dando um passo de cada vez, experimentando, claro que sempre com o auxílio de profissionais, os novos acontecimentos.
Obrigado mesmo a todos pelo carinho e pelas orações, pela palavras de afeto e força. Tudo isso faz muita diferença.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

A Fazenda (texto)

Bem que eu poderia estar me referindo a "qualquer pano ou tecido" (um dos sentidos do verbete Fazenda - substantivo feminino - no dicionário Houaiss), mas não é bem isso. Refiro-me a um, digamos, programa exibido pela Rede Record. Programação de entretenimento (sic) que ao vivo nos permite acompanhar a vida interessante de (preciso respirar para poder escrever o que vou registrar agora) artistas (???!!!).
Sei que gosto não se discute. Sei tb que hierarquia de gosto é bobagem: cada um gosta do que pode, mas não consigo não registrar isso aqui. Quando a gente acha que o Big Brother (e toda a cambada que faz parte dessa bobagem) é o representante máximo do mal gosto, surge A FAZENDA (cheia de rostinhos conhecidos, além, é claro de cavalos, porcos e galinhas etc.).

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Questões de subjetividade (texto)

A Parada Gay em São Paulo é um momento de afirmação da homossexualidade. Concordem ou não, participem ou não, é o maior evento em torno da visibilidade da comunidade de Lésbicas, Gays, Bissexuais e Trangêneros (LGBT). No entando, a grande mídia se dedicou às questões como o aumento nas vendas no comércio, lotação de hotéis, a quantidade de pessoas nas ruas, e, sobretudo, à violência.
Existe uma escancarada e significativa negligência da grande imprensa em abordar as questões subjetivas das sexualidades. O discurso heterocêntrico não deixa espaço para as diferenças de gênero. Em termos de violência, essa última Parada, foi uma das mais tranquilas, segundo a polícia militar.
Mas se ela, a impensa oficial, dá tanto destaque à violência, por que não a usa para discutir, por exemplo, a homofobia? A criminalização da homofobia é um fato que não é tangenciado pelos meios oficiais de comunicação. Por que não se discute o que está por trás das agressões, as suas motivações, ou ainda, a consequência disso nas pessoas vítimas dessa violência? E tb como e por que essa situação se naturaliza e se instala nos agressores?
Precisamos que as pautas jornalísticas pensem que a Parada não é apenas festa ou um momento turístico para a cidade de São Paulo, mas um momento para se pensar a sexualidade em todas as suas manifestações.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Só silêncio em forma de oração (texto)

Não tenho sobre o que escrever, apenas permaneço em silêncio a espera de alguma resposta. Agradeço aos amigos pelas orações. A minha mãe, ainda que não saiba sobre essas manifestações, recebe todas elas. Sou grato sempre pelo afeto dos amigos.
Um hora dessas volto aos textos.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

E agora? (texto)

O que eu faço com o que sei? O que eu faço com a realidade? Estou de mãos atadas.

Tabacaria* (Poesia)

Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a pôr humidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.

Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.

Estou hoje perplexo como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.

Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa,
Fui até ao campo com grandes propósitos.
Mas lá encontrei só ervas e árvores,
E quando havia gente era igual à outra.
Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei-de pensar?

Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso ser tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Gênio? Neste momento
Cem mil cérebros se concebem em sonho gênios como eu,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
Não, não creio em mim.
Em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em mim...
Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo
Não estão nesta hora gênios-para-si-mesmos sonhando?
Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas -
Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,
E quem sabe se realizáveis,
Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?
O mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
Ainda que não more nela;
Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz de Deus num poço tapado.
Crer em mim? Não, nem em nada.
Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente
O seu sol, a sua chuva, o vento que me acha o cabelo,
E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
Escravos cardíacos das estrelas,
Conquistámos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordamos e ele é opaco,
Levantamo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.

(Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folhas de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)

Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei
A caligrafia rápida destes versos,
Pórtico partido para o Impossível.
Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas,
Nobre ao menos no gesto largo com que atiro
A roupa suja que sou, sem rol, para o decurso das coisas,
E fico em casa sem camisa.

(Tu, que consolas, que não existes e por isso consolas,
Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva,
Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta,
Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida,
Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua,
Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais,
Ou não sei quê moderno - não concebo bem o quê -,
Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire!
Meu coração é um balde despejado.
Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco
A mim mesmo e não encontro nada.
Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta.
Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam,
Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam,
Vejo os cães que também existem,
E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,
E tudo isto é estrangeiro, como tudo.)

Vivi, estudei, amei, e até cri,
E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.
Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,
E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses
(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);
Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo
E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente.

Fiz de mim o que não soube,
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.

Essência musical dos meus versos inúteis,
Quem me dera encontrar-te como coisa que eu fizesse,
E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,
Calcando aos pés a consciência de estar existindo,
Como um tapete em que um bêbado tropeça
Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.

Mas o dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.
Olhou-o com o desconforto da cabeça mal voltada
E com o desconforto da alma mal-entendendo.
Ele morrerá e eu morrerei.
Ele deixará a tabuleta, e eu deixarei versos.
A certa altura morrerá a tabuleta também, e os versos também.
Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,
E a língua em que foram escritos os versos.
Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.
Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente
Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas,
Sempre uma coisa defronte da outra,
Sempre uma coisa tão inútil como a outra,
Sempre o impossível tão estúpido como o real,
Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.

Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?),
E a realidade plausível cai de repente em cima de mim.
Semiergo-me enérgico, convencido, humano,
E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário.

Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los
E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
Sigo o fumo como uma rota própria,
E gozo, num momento sensitivo e competente,
A libertação de todas as especulações
E a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto.

Depois deito-me para trás na cadeira
E continuo fumando.
Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.

(Se eu casasse com a filha da minha lavadeira
Talvez fosse feliz.)
Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela.

O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).
Ah, conheço-o: é o Esteves sem metafísica.
(O dono da Tabacaria chegou à porta.)
Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.
Acenou-me adeus gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo
Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o dono da Tabacaria sorriu.

PQP, que cara chato!

O  Tiago Leifert é chato e muito limitado!!!!