sábado, 16 de janeiro de 2010

O povo haitiano será o último atendido (texto )

A noite de ontem foi a coisa mais extraordinária de minha vida. Deitado do lado de fora da casa onde estamos hospedados, ao som das cantorias religiosas que tomaram lugar nas ruas ao redor e banhado por um estrelado e maravilhoso céu caribenho, imagens iam e vinham. No entanto, não escrevo este pequeno texto para alimentar a avidez sádica de um mundo já farto de imagens de sofrimento.
O que presenciamos ontem no Haiti foi muito mais do que um forte terremoto. Foi a destruição do centro de um país sempre renegado pelo mundo. Foi o resultado de intervenções, massacres e ocupações que sempre tentaram calar a primeira república negra do mundo. Os haitianos pagam diariamente por esta ousadia. O que o Brasil e a ONU fizeram em seis anos de ocupação no Haiti? As casas feitas de areia, a falta de hospitais, a falta de escolas, o lixo. Alguns desses problemas foram resolvidos com a presença de milhares de militares de todo mundo?
A ONU gasta meio bilhão de dólares por ano para fazer do Haiti um teste de guerra. Ontem pela manhã estivemos no BRABATT, o principal Batalhão Brasileiro da Minustah. Quando questionado sobre o interesse militar brasileiro na ocupação haitiana, Coronel Bernardes não titubeou: o Haiti, sem dúvida, serve de laboratório (exatamente, laboratório) para os militares brasileiros conterem as rebeliões nas favelas cariocas. Infelizmente isto é o melhor que podemos fazer a este país.
Hoje, dia 13 de Janeiro, o povo haitiano está se perguntando mais do que nunca: onde está a Minustah quando precisamos dela?
Posso responder a esta pergunta: a Minustah está removendo os escombros dos hotéis de luxo onde se hospedavam ricos hóspedes estrangeiros. Longe de mim ser contra qualquer medida nesse sentido, mesmo porque, por sermos estrangeiros e brancos, também poderíamos necessitar de qualquer apoio que pudesse vir da Minustah.
A realidade, no entanto, já nos mostra o desfecho dessa tragédia - o povo haitiano será o último a ser atendido, e se possível. O que vimos pela cidade hoje e o que ouvimos dos haitianos é: estamos abandonados.
A polícia haitiana, frágil e pequena, já está cumprindo muito bem seu papel - resguardar supermercados destruídos de uma população pobre e faminta. Como de praxe, colocando a propriedade na frente da humanidade.
Me incomoda a ânsia por tragédias da mídia brasileira e internacional. Acho louvável a postura de nossa fotógrafa de não sair às ruas de Porto Príncipe para fotografar coisas destruídas e pessoas mortas. Acredito que nenhum de nós gostaria de compartilhar, um pouco que seja, o que passamos ontem.
Infelizmente precisamos de mais uma calamidade para notarmos a existência do Haiti. Para nós, que estamos aqui, a ligação com esse povo e esse país será agora ainda mais difícil de ser quebrada.
Espero que todos os que estão acompanhando o desenrolar desta tragédia também se atentem, antes tarde do que nunca, para este pequeno povo nesta pequena metade de ilha que deu a luz a uma criatividade, uma vontade de viver e uma luta tão invejáveis.

Otávio Calegari Jorge (pesquisador da Unicamp, em seu blog)

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Segundo o cônsul do Haiti (texto)

O cônsul geral do Haiti em São Paulo, George Samuel Antoine, pediu desculpas nesta sexta-feira (15) por comentários feitos durante entrevista exibida no "SBT Brasil" na última quinta (14).
Sem saber que estava sendo gravado, o cônsul aparece no vídeo comentando que a tragédia no Haiti “está tendo bons resultados” para ele e atribuindo a culpa do terremoto à religião praticada no país
.
Não me pareceu que o comentário, porque vi as imagens do SBT, feito pelo cônsul, pudesse ser mal interpretado ou que as palavras por ele proferidas mostrassem qualquer desconhecimento da língua portuguesa, bem ao contrário, me pareceu que ele dominava bem o idioma e que sabia e acreditava no que dizia: o fato do terremoto ter colocado o Haiti no centro das atenções e ainda que a religião praticada no país (macumba, em suas palavras) era a responsável pelos problemas que o país atravessava.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Who are you?

Quem é você? Who are you?
¿Quién eres? Wer bist du?

A Ajuda que faz diferença (texto)

As doações anunciadas por países e instituições financeiras globais para o Haiti em três dias, desde o terremoto que devastou o país na última terça (12), já correspondem a mais de um terço do orçamento anual do país caribenho, segundo dados dos governos e informações das agências internacionais.

Excetuada a ajuda material enviada por outros países (alimentos, remédios, médicos, equipes de resgate), a soma anunciada por governos e instituições como FMI e Banco Mundial para ajuda aos haitianos é de pelo menos US$ 350,3 milhões (confira na tabela abaixo). De acordo com o site da CIA (agência de inteligência dos Estados Unidos), o orçamento estimado do governo do Haiti para 2008 era de US$ 967,5 milhões.
Nesta quinta (14), o presidente Barack Obama informou que os Estados Unidos aplicarão US$ 100 milhões no Haiti. O Fundo Monetário Internacional (FMI) anunciou outros US$ 100 milhões. O Brasil contribuirá com US$ 15 milhões. Segundo o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, é a maior ajuda financeira dada a um país pelo Brasil.
Além do dinheiro para a reconstrução do país, a operação dos EUA no Haiti reúne um aparato com especialistas, barcos, helicópteros, aviões, um porta-aviões e cerca de 2 mil militares, entre outros recursos. O Brasil começou a mandar aviões com médicos, enfermeiros, equipamentos cirúrgicos, de raio-X, de laboratório e para unidade de terapia intensiva (UTI) e módulos para atendimento ambulatorial.

Outras contribuições em dinheiro virão da Europa. O governo da Grã-Bretanha informou que doará US$ 10 milhões; o da União Europeia, US$ 4,3 milhões, mesma quantia da Espanha; a Holanda remeterá US$ 2,9 milhões; a Alemanha, US$ 2,18 milhões; e a Itália, US$ 1,46 milhão. Países de outros continentes vão fornecer auxílio material, por meio da remessa de alimentos, medicamentos, além de equipes de resgate e médicos.
A Organização das Nações Unidas (ONU) anunciou a liberação de US$ 10 milhões dos fundos de emergência da instituição como forma de auxílio ao Haiti.

Além do FMI, outras instituições financeiras internacionais anunciaram recursos para o Haiti. Nesta quarta (13), o Banco Mundial ofereceu US$ 100 milhões para a reconstrução do país - o escritório da instituição na capital haitiana foi destruído pelo terremoto. O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) liberou US$ 200 mil aquisição de alimentos, água potável, medicamentos e abrigos temporários.

(Fonte Globo.com)

O umbigo é grande (texto)

Tem uma passagem na bíblia, não me perguntem onde, que conta a história da destruição, por Deus, de uma certa cidade (não me pergunte qual). Deus disse a alguém (não me perguntem quem) que se ele encontrasse uma alma boa, a tal cidade não seria destruída.
Pois bem. Não sei o final da passagem, mas quero crer que a tal cidade não tenha sido destruída, porque temos almas boas aos montes, ainda que se diga o contrário. Ainda que se diga que estamos mais preocupados com o nosso próprio umbigo, podemos provar que o "nosso umbigo" está ligado ao umbigo do outro por um longo e forte cordão.
O Haiti, como todos sabemos, foi praticamente destruído por um sismo de intensidade 7 na escala Richter. Muitos países estão se mobilizando para ajudar as vítimas (segundo primeiros levantamentos, cerca de 45 mil pessoas mortas): 3 milhões de feridos e desabrigados.
Além de países, pessoas com alguma influência tb estão moblizadas em torno dessas ajudas.
O Banco do Brasil (BB) e a Embaixada do Haiti no Brasil abriram uma conta corrente para receber doações para as vítimas do terremoto. O dinheiro recebido na conta será administrado diretamente pela diplomacia do país da América Central. Depósitos de qualquer valor podem ser feitos em nome de SOS Haiti, agência 1606-3, conta corrente 91.000-7. Os depósitos podem ser feitos de qualquer parte do Brasil nas agências e caixas eletrônicos do BB.
A Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (Usaid) também tomou iniciativas emergenciais em relação ao Haiti. Enviou ao país uma Equipe de Ajuda Imediata a Desastres (Dart, na sigla em inglês) e acionou três de seus parceiros nos EUA, conforme informou a embaixada americana em Brasília. Dentre esses parceiros, a Fairfax County Urban Search and Recue (Usar) é uma equipe de busca e resgate composta por até 72 especialistas em tragédias e seis cães farejadores e conta com cerca de 48 toneladas de equipamentos. A Usaid presta auxílio ao Haiti há 50 anos.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

O Haiti não é aqui, o Haiti é aqui (texto)

O Haiti é o país mais pobre das Américas, figura em 146º lugar entre os 177 medidos pelo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da ONU. Mais da metade da população vive com menos de US$ 1 por dia, e 78% com menos de US$ 2. Apenas 2% das florestas do país estão de pé. Uma série de acontecimentos desastrosos de grandes proporções relacionados a fenômenos naturais e crises políticas deixaram o país a beira de um colapso nos últimos anos.
Um furacão em 2004 destruiu a cidade de Gonaïves. Em 2008, 4 furacões passarm pelo Caribe e deixaram centenas de mortos no Haiti e cerca de 800 mil desabrigados.
Após 29 anos de ditadura, o ex-padre católico Jean-Bertrand Aristide se tornou o primeiro presidente do país eleito democraticamente. Foi derrubado por um golpe militar em 1991 e reinstalado no posto com o apoio dos E.U.A.
E agora esse terremoto, de magnitude 7 graus na escala Richter (o maior grau é 9). Até o momento não se sabe o número de vítimas. Sabe-se apenas que a situação e bastante grave. Entre as vítimas, muitos brasileiros, integrantes da força de paz da ONU. Zilda Arns Neumann, 75 anos, fundadora da Pastoral da Criança, tb morreu enquanto dava uma palestra numa igreja, que desabou, na capital Porto Príncipe.
Grande tristeza! O Mundo precisa se solidarizar com essas pessoas. Somos todos parte do mesmo espaço. Lá e cá é apenas questão de tempo.

Avatar (filme)

Acabei de chegar da sessão em 3D. Fantástico.

Solidão na velhice...

A solidão na velhice é uma experiência profundamente marcada pela complexidade da existência humana. Com o passar dos anos, os vínculos soci...