quinta-feira, 22 de julho de 2010

QUADRILHA (Poesia - Drummond)

João amava Teresa que amava Raimundo que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili que não amava ninguém.  João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento, Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia, Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes que não tinha entrado na história.

O mínimo para ser o máximo (texto)

Qual seria o mínimo necessário para se viver em harmonia? Fiquei pensando nisso hoje em virtude dos depoimentos dos amigos/familiares em torno na morte de Rafael Mascarenhas.
O respeito pelos outros passa por muitos lugares. Acredito que educação (nada a ver com escolarização) é a base pra tudo. Por exemplo, ao dirigir não se deve falar no celular (básico). A luz do pisca não é um acessório, mas o que indica entrar à direita ou à esquerda (evita acidentes).
Será que o mundo fica mais chato se as regras de educação forem respeitadas?
Furar fila é falta de educação (não importa se a fila termina a dois lugares depois); chegar atrasado tb é falta de educação.
Parar em lugar não permitido tb é falta de educação. Correr além do permitido tb é infração (legal e social). Respeitar o sinal verde/vermelho/amarelo tb é sinal de educação.
Falar ao mesmo tempo tb é sinal de ausência de educação (mas e se os humores estiverem alterados?). Não se controla tudo, é bem verdade.
Beber e dirigir é uma tremenda falta de educação. Automóvel é uma arma na mão de quem não é treinado.
Mas não é só isso. A forma como a gente é educado reflete a forma como os nossos filhos são educados (quase sempre isso é uma verdade).
Tem menino que queima índio e se explica dizendo que "achou que fosse um mendigo"; tem menino que bate em mulher e se justifica falando que "pensou que fosse uma prostituta"; tem menino que saí puxando criança pelas ruas e se justifica: "pensei que fosse um boneco de Judas". Tem gente que mata e afirma que foi por amor e por aí vai. O caminho é longo e a cada passo mais estranho, bizarro.
Andar de skate num túnel interditado é perigoso, mas não é crime como fazer pega. É errado, certo? Mas não é crime. Se policiais estivessem vigiando de alguma forma o túnel, duvido muito que os meninos estivessem lá, ou continuassem lá.
Acho que (nem sei se estou falando de um passado que existiu. É possível que não) olhar o outro como humano deixou de fazer parte da educação. Se é que algum dia isso já tenha sido feito.
A cidade não tem lei. A polícia não faz o serviço que devia fazer (sempre sem generalizar). Quem fiscaliza, não faz tb a sua parte. Quase tudo é medido pelo dinheiro que se ganha ou que se perde.
Mas é possível que exista um mínimo necessário para poder viver entre os outros. A questão é saber que mínimo é esse.

A copa de 2014, o Rio de Janeiro e um tanto de coisa pra fazer (texto)

Eu nunca estive num país que tivesse sediado uma Copa do mundo de futebol, durante o evento. Mas penso que o mínimo de organização em algumas áreas é fundamental caso a gente queira receber (muitos) visitantes.
A Copa de 2014 é no Brasil e reparando o Rio de Janeiro nesses últimos dias (quase duas semanas) tenho a impressão de que muito (muito mesmo) precisa ser feito.
A Lapa está uma confusão! Tem cinco mil bares, restaurantes, casas de samba, mas não tem calçada. Mesas e cadeiras tomam conta do espaço reservado ao pedestre (obs.: sexta e sábado, desde a semana passada, um trecho da Mén de Sá - dos Arcos até a Rua do Rezende - foi destinado ao pedestre das 22h às 5h). O movimento é intenso de segunda a sábado.
Um posto da prefeitura (choque de ordem) foi instalado na Mén de Sá (rua que liga o centro a zona norte) e pelo visto alguma coisa mudou (não vejo mais aquele bando de criança agindo nas redondezas: numa postagem de janeiro eu me indignei com os assaltos etc; os antigos flanelinhas tb sumiram). Por outro lado, a sujeira toma conta das ruas (precisamos de uma campanha de conscientização da população para não jogar NADA no chão): alguns bueiros (por aqui eles não explodem) lançam excrementos 24h por dia. Um nojo!!! Precisamos nos equilibrar ou correr risco de atropelamento para desviar de tanta sujeira (sem falar do mal cheiro).
Táxi no Rio é um perigo (sem querer generalizar)! Há uma tabela para corrigir o valor de alguns táxis que ainda não aferiram o taxímetro e um selo vermelho que indica os táxis que já o fizeram, no entanto, peguei um táxi com o selo de aferição, mas com uma tabela extra. Um confusão!
Existe, por aqui, preços diferenciados para os gringos: basta ir à praia, por exemplo, e confirmar. Tudo, ou quase tudo, é o dobro do preço se o cliente falar uma língua estrangeira ou se o seu "r" for "caipira" (é um termo técnico, antes que alguém me chame de preconceituoso).
Nos aeroportos não têm placas informativas, por exemplo, sobre ônibus. E aí os taxistas fazem a festa (mesmo os táxis de cooperativas)! O preço chega, do Galeão até o Centro, a R$70,00 reais (um táxi oficial). Um absurdo! E alguns no Santos Dumont (o aeroporto no Centro) escolhem os passageiros.
Sobre a infraestrutura, não é preciso escrever. Tudo estar por fazer. E acredito que esse quesito seja resolvido, mas o que diz respeito à educação e ao trato entre as pessoas ... esse sim já deveria iniciar.

Mistério da blogosfera (texto)

Abri meu e-mail pessoal e encontrei uma mensagem do site TOPBLOG: seu blog foi indicado para a edição 2010. Além disso, um selo para baixar e colar na página. Fiz. Tá aí ao lado (dos dois lados, diga-se).
Entrei no site e pouco descobri sobre essa indicação. Não sei a que categoria, já que não tenho uma específica (em se tratando de blog tb). E não me encontrei por lá.
Mistérios da blogosfera!

quarta-feira, 21 de julho de 2010

O luto (texto)

Não me atrevo a escrever sobre as dores de ninguém, sobre as dores do mundo, como disse Caetano, cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é. No entanto, ao falar da nossa dor, podemos, de certa forma, tangenciar a dor do outro e quem sabe, essa seria mesmo a intenção, ajudar um pouco.
Perder alguém não é fácil, seja lá como essa perda tenha acontecido: seja causa natural ou não. Seja um ente jovem ou mais velho, sadio ou doente, pouco importa. Perder sempre é, por mais que a gente compreenda que o sofrimento do amado(a) não seja pouco, dolorido demais.
Não temos respotas, ou, se temos algumas para essas nossas perdas, elas, às vezes, são insuficientes ou incapazes de aliviar essa dor. Podemos buscar respostas nas religiões, e acho que são lugares para se encontrar algum conforto.
Além disso, o tempo é sábio. Ele não mata a saudade, não diminui as distâncias, mas nos faz reorganizar sozinhos, quase sempre, aquele momento que nos parecia sem fim.
Queremos entender o porquê. Gostaríamos de ter explicações que nos aliviassem. Precisamos compreender o que aconteceu. Mas, de imediato, nada faz sentido. Temos muitas perguntas e quase nenhuma resposta.
Um dia, outro dia, a primeira semana, o primeiro mês, as noites mal dormidas, os pesadelos, os sonhos, o silêncio, a dor que se sente na alma, aquela vontade de um sinal. Tudo isso é passagem para aquele que perde alguém que ama.
Procurar ajuda profissional tb é importante, sobretudo para que a gente possa, aos poucos, nos ouvir e pensar sobre o que estamos fazendo aqui, nessa vida.
Os amigos tb são importantes. Os amigos sempre são importantes. O silêncio desses amigos, o abraço, a companhia, um olhar apenas faz muita diferença nesse momento.
O que acho importante, por mais que a gente tenha a sensação de precisar fazer, é não se isolar. Não me refiro a ficar sozinho, isso tb faz parte do luto. Mas o isolamento não é bom (é claro que estou legislando sobre mim).
Pode falar sobre a perda faz diferença. Acho que já escrevi aqui (neste e em outros posts) diversas vezes sobre essa necessidade. E ter fé (porque vivemos dela, mesmo que não sejamos religiosos) no outro dia, acreditar que se vai conseguir forças para refazer (no sentindo da tranquilidade) essa nossa história.

domingo, 18 de julho de 2010

O Medo de Ser (por Jefferson Lessa)

Li no O Globo e acho importante compartilhar, além disso, recebi o link de alguns amigos.

(Ilustração de Claudio Duarte)

Na semana em que a Argentina aprova o casamento gay, peço licença para relatar uma historinha banal. Moro num bairro aprazível e “tranquilo”, sonho de consumo de dez entre dez cariocas. Dos que não vivem lá, obviamente. “A grama do vizinho...”. Pois é. De um tempo para cá, por motivos que me são alheios, alguns playboys deram de gritar “veaaaaaado!!!”  quando me veem na rua. Outro dia, derrubaram minha pasta no chão. Numa noite anterior, rolou um inesperado banho de uísque com Redbull no casaco novo... Depois disso, a calçada ficou mais longa que uma maratona. Chegar à varanda torna-se uma decisão pesada, difícil de tomar. A pasta, o cheiro do uísque com Redbull... Difícil. Como vocês podem ver, trata-se de uma história de bullying, a palavra do momento. Seria só mais uma, não fosse o caso de atingir um certo cara no auge da meia-idade. Eu.
Nunca havia passado por isso antes. E não pretendia experimentar agora. Mas aconteceu — fazer o quê? Penso em várias “soluções”. A mais radical é mudar de bairro. Deixar para trás uma casa que adoro e que montei aos poucos, no ritmo que o salário aguado permitiu. Deixar para trás, também, um prédio no qual fiz amigos. É uma “solução” penosa e triste, creio. Faz com que eu me sinta covarde, pequeno, sujo, miserável. Sem falar no trampo, né? Mudança, segundo pesquisas, é uma das situações que mais geram estresse na vida. As outras são separação, morte... Mudança é um pouco separação e morte.
A outra “solução” é sugerida por amigos, que perguntam: Por que você não denuncia? Por que não procura a polícia?” Simplesmente porque não vivo dentro de um episódio de “Law & order: Special Victims Unit”, a genial série americana que ficcionaliza o cotidiano da unidade de elite da polícia novaiorquina especializada na investigação de crimes de natureza sexual. Se eu tivesse a certeza de que meu “caso” seria tratado pelos detetives Stabler e Benson, correria para a delegacia mais próxima. Na maior confiança. Como todos sabemos, não é bem o caso por aqui.
E também posso fazer o que estou fazendo neste instante: expor meu pequeno drama (que, convenhamos, não interessa a quase ninguém) nas páginas de um grande jornal como este O GLOBO. Vai ter gente se identificando, é claro. Vai ter gente criticando a superficialidade do texto (provavelmente, com razão: sou meio raso mesmo). Vai haver quem elogie a coragem do repórter, bem como quem o ache um rematado covarde. Sinceramente, leitor, sua opinião me importa. Mas pouco muda. Desculpe qualquer coisa, tá? É que na hora de voltar para casa, não vai ter detetive Benson nem Stabler, amigos, leitores ou páginas para segurar a barra. A mim, restará torcer, solo, para não encontrar os pequenos e medíocres algozes do dia a dia. Em encontrando, restará torcer para que não estejam muito bêbados ou alterados, pois isso conta — e muito — nessas horas.
O cotidiano pode se dividir entre poder ou não ser você mesmo na rua, no ônibus, no boteco... Mas convenhamos: isso ainda não é tão possível no balneário de São Sebastião. Somos toscos, mal educados, infantis e preconceituosos. Friendly my ass, isso sim. Ih, falei.
Eis a história — até agora. As cenas dos próximos capítulos? Não sei o que esperar desta trama triste. Mas sei o que não esperar no curto prazo: civilidade. E aqui me permito repetir uma obviedade: civilidade não se compra no supermercado ou na quitanda. Se constrói. Ao longo de muito tempo. E é aqui que penso numa notícia da última semana: a aprovação do casamento entre pessoas do mesmo sexo na Argentina.
Não sei se a notícia foi realmente bem-vinda ou se mereceu um tratamento tão retumbante por ser muito surpreendente. Mas o fato de a Argentina ter se tornado o primeiro país da América Latina e do Caribe a aceitar o chamado casamento gay mereceu amplíssima cobertura da imprensa brasuca. Nas páginas e nas telas, parece algo de muito bom, apesar dos protestos dos usual suspects (Igreja católica, círculos conservadores, arautos da família etc). Ouso pensar que se a notícia tivesse vindo de outro país que não nosso arquirrival, teria sido ainda mais celebrada. É de bom tom na imprensa alardear correção política, mesmo quando o coração se inclina na direção oposta.
Fiel à rivalidade, não consigo parar de comparar, mentalmente, Brasil e o país hermano (que as piadinhas já transformaram em hermana). Mas quando digo país, leia-se cidade. É isso: não consigo parar de comparar mentalmente o Rio, onde sempre vivi, e Buenos Aires, ciudad que conheci ainda criança e à qual já voltei várias vezes. E acho que, no quesito friendly, BsAs ganha de longe, muito longe, do Rio.
Aqui, cabe esclarecer. Grandes questões como direito a adoção de crianças e a herança do(a) companheiro(a) são fundamentais, é óbvio. Palmas para os países que já garantiram tudo isso a seus gays, lésbicas, transgêneros, simpatizantes e quem mais chegar. Mas, em minha humílima opinião, é o dia a dia que conta. É do cotidiano que a vida é feita. Do dia de sol ou chuva, do ônibus que chega na hora ou não, que para ou não no ponto... Do chefe que te saúda ou não no trabalho, do colega que te dá uma força ou puxa o teu tapete, do amigo que te liga no momento certo. Da flanada prazerosa pela tua cidade, sem medo de pitboys e pitbulls. Ou não.
Aqui, volto à Argentina. Foi corajosa a aprovação do chamado casamento gay naquele país. Cheio de inveja, deixo meus parabéns. Não sou idiota a ponto de acreditar que uma lei acabe, magicamente, com pré-conceitos acumulados ao longo de séculos e cevados à base de ódio à diferença. Mas é um primeiro passo para uma rotina mais amena no futuro.
Quando é que vamos dar este passo? Hein?

* Texto publicado este domingo, 18 de julho, na seção LOGO/A Página Móvel,
que saiu na editoria RIO

Um e-mail de uma amiga (texto)

Alexandre,
Lendo o Inventário das sombras de José Castello, um livro em que ele tece perfis de alguns escritores, eis o que ele escreveu (e achei lindo) sobre Saramago:
Ao se debruçar sobre a infância, Saramago encontrou muitas passagens nebulosas, sucessão de verdadeiras armadilhas que começam com a história de seu nome. O sobrenome do pai era Sousa, e não SaramagoJosé de Sousa, ele se chamava. Mas em Azinhaga as famílias não eram conhecidas pelos sobrenomes de registro, e sim por alcunhas afetuosas. A família do escritor tinha a alcunha de Saramago, que é o nome de uma erva silvestre, de flores amarelas ou avermelhadas, bastante semelhante ao espinafre, que cresce pelos cantos, quase sempre esquecida. Quando ele nasceu, o pai se dirigiu a um cartório e, no balcão, limitou-se a dizer: “Vai se chamar José, como o pai!”. O empregado do registro civil, por sua conta e risco, acrescentou ao sobrenome verdadeiro, Sousa, o apelido de Saramago. Ele se tornou, então, José de Sousa Saramago, e o pai só descobriu o engano quando o menino já estava com sete anos de idade. Só em 1929, quando foi matricular o filho na escola primária e teve de apresentar a certidão de nascimento, o pai de Saramago se deu conta do engano, e se sentiu muito decepcionado porque não gostava nem um pouco da alcunha, que o fazia recordar sua origem camponesa e miserável.
Desde que se mudara para Lisboa, em 1924, o pai de Saramago não gostava que lhe recordassem os tempos duras da vida do campo. Vinha de uma família de pastores, que sobrevivia em condições muito adversas, guiando ovelhas e cabras. O pai se orgulhava porque em Lisboa o chamavam sempre de “Sr. Sousa”, nunca de “Sr. Saramago”, e essa substituição de tratamento parecia apagar o passado indesejável. Mas a certidão de nascimento do menino não fora aceita pela escola. O pai, então, não teve outra saída: viu-se obrigado a fazer um registro adicional em que atestava que ele, José de Sousa, era na verdade conhecido como José de Sousa Saramago. “Acho que sou o primeiro caso em que o filho dá o nome ao pai”, disse-me o escritor, tomado por um entusiasmo quase infantil. (Castello, pag. 225)
Beijos,
(...)

Solidão na velhice...

A solidão na velhice é uma experiência profundamente marcada pela complexidade da existência humana. Com o passar dos anos, os vínculos soci...