Acabo de chegar em casa de mais uma sessão (segunda) do documentário sobre os Dzi Croquettes (trupe intrépida da década de 70/80 que revolucionou o espetácula de dança no Brasil). Mas não é sobre o documentário que vou escrever.
É claro que se assisti duas vezes ele, no mínimo, me bateu de alguma forma inesperada. Saí dessa segunda sessão com vontade de voltar no tempo e viajar com a trupe.
O que quero escrever é sobre a alma do artista. Não sei se consigo traduzir esse sentimento em palavras. Sei perceber isso, mas talvez não consiga expressar-me como gostaria/deveria.
A alma do artista não pertence a tempo nenhum. Ela não pode ser explicada. Não tem rótulos. Essa alma está aberta a todas as novidades, sem exceção. Não existe limite nem censura: tudo é possível.
Ela nunca diz não, ou melhor, ela sempre está pronta pro novo. Seja ele o que for. A arte é um estado de espírito. E são poucos os que conseguem se despreender a ponto de permitir.
Conheço (e olha que conheço gente!) apenas duas pessoas com esse talento, com essa abertura pro novo, com a disposição para ver aquilo que ainda não se estabeleceu: a Valdeci e o Êmerson. Fiquei matutando durante algum tempo até chegar a esses nomes.
Impressionante (acabo de me dar conta): os dois são professores de literatura, mas não é isso que os define, nem isso suficiente para que as suas almas estejam abertas, escancaradas. Eles têm uma sensibilidade fora do comum para entender o desejo do outro. Corre sangue em suas veias e o mais interessante é o fascínio em relação as possibilidades que, às vezes, não estão claras nem mesmo para os envolvidos na situação. Eles se encantam com o novo. E são capazes de, nesse encantamento, entender o avant garde. Não há espaço, nessa alma, para o medo da concorrência, isso não existe porque o mais importante é a superação.
Eu precisarei reescrever isso algumas vezes, porque não consegui dar conta do que eu havia pensado.
Eu não tenho alma de artista, sou um censor. A alma do artista é livre e por sê-lo liberta.