terça-feira, 1 de novembro de 2011

Aos 109 anos de Carlos Drummond de Andrade

    José
E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?

Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?

E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio e agora?

Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?
Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse...
Mas você não morre,
você é duro, José!

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?

Carlos Drummond de Andrade © Graña Drummond

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Entrando nos sessenta (Ruth de Aquino)

A reação de homens e mulheres ao passar dos anos é diferente? Depende. Da velhice, só escapa quem já morreu.
RUTH DE AQUINO  é colunista de ÉPOCA raquino@edglobo.com.br (Foto: ÉPOCA)

Como a mulher e o homem confrontam os 60 anos? O novo filme da diretora Julie Gavras, exibido na mostra internacional de São Paulo e com estreia prevista para 11 de novembro, trata de envelhecimento. De como esconder ou assumir a idade. Aos 60 você se sente maduro, curioso e sábio ou velho, amargo e ultrapassado? O título do filme no Brasil é assombrosamente ruim e apelativo: Late bloomers – O amor não tem fim. “Late bloomer” é uma expressão inglesa que denomina quem amadureceu tardiamente. Em francês, a tradução do título é clara e objetiva: Trois fois vingt ans (Três vezes 20 anos). Uma conta básica de multiplicação mostra que você já viveu bastante. Um dia teve 20 anos. Também comemorou ou receou os 40. E agora, aos 60, passa para o time dos velhos. Ou não?
Isabella Rossellini (Mary) e William Hurt (Adam) fazem o casal protagonista. Devido a um súbito lapso de memória, a mulher, professora universitária, percebe que envelheceu e toma medidas concretas em casa. Aumenta o tamanho dos números no aparelho de telefone, coloca barras na banheira para o casal não escorregar. O homem, arquiteto famoso, se recusa a se imaginar velho, passa a conviver só com jovens e a se vestir como eles. Ela faz hidroginástica, mas se sente fora d’água, organiza reuniões com idosas e mergulha em trabalhos voluntários. Ele vai para o bar, bebe energéticos e vira a noite. Cada um se apega a sua visão de como envelhecer melhor, sem concessões. Ambos acabam tendo casos extraconjugais. Há nos dois um desespero parecido. Mary exagera na consciência da proximidade da morte. E Adam exagera na negação. Depois de décadas de amor sólido, com os três filhos fora de casa e já com netos, o casal se vê prestes a engrossar as estatísticas dos divorciados após os 60 anos, ao descobrir que se tornaram estranhos e por isso ficam melhor sozinhos e livres. O filme é uma comédia romântica para a idade avançada, um gênero quase inexistente.
Julie Gavras não encontrou nenhuma atriz francesa que assumisse com humor os dilemas de uma sexagenária. “Precisava de alguém com a idade certa, mas que não tivesse feito cirurgia plástica”, diz Julie. “Isabella foi perfeita porque entende que, quanto mais velha fica, mais liberdade tem.” Na França, diz a cineasta, “a idade é uma questão delicada para a mulher”. No Brasil, que cultua a juventude feminina como moeda de troca, é mais ainda. Isabella, um dos rostos mais lindos do cinema, disse ter adorado fazer um filme sobre envelhecimento: “São tão poucos e tão dramáticos. E minha experiência tem sido pouco dramática, aliás bem cômica às vezes. Mulheres envelhecendo são vistas como uma tragédia e foi preciso uma cineasta mulher para ver diferente”.
A reação de homens e mulheres ao passar dos anos é diferente? Depende. Da velhice, só escapa quem já morreu 
Homens e mulheres reagem de maneira desigual à passagem dos anos? É arriscado generalizar. Depende de cada um. Compreendo que mulheres de 60 sintam mais necessidade de parecer jovens e desejáveis – mas alguns homens idosos se submetem a riscos para continuar viris. A obsessão da juventude eterna criou um grupo de deformadas que se sujeitam a uma cirurgia plástica por ano e perdem suas expressões. Mas também fez surgir outro tipo de sexagenárias, genuinamente mais belas, mais em forma, mais ativas e saudáveis enfim.
“As mulheres nessa idade querem aproveitar o mundo, viajar, passear, dançar, ver filmes e peças, fazer cursos. Os homens querem ficar em casa, curtir a família, os netos”, afirma a antropóloga Mirian Goldenberg, que acaba de publicar um livro sobre a travessia dos 60. “Elas se cuidam mais, eles bebem mais. Elas vão a médicos, fazem ginástica, eles engordam, gostam do chopinho com amigos ou sozinhos. Elas envelhecem melhor, apesar do mito de que o homem envelhece melhor. Muitas me dizem: ‘Pela primeira vez na vida posso ser eu mesma’.”

Da velhice ninguém escapa, a não ser que a morte o resgate antes. Cada um lida com ela de forma pessoal e intransferível. O escritor Philip Roth, aos 78 anos, diz que “a velhice não é uma batalha; é um massacre”. Mas produz compulsivamente. Woody Allen, de 75 anos, dirige um filme por ano, mas acha que não há romantismo na velhice: “ Você não ganha sabedoria, você se deteriora”. Para Clint Eastwood, de 81 anos, que ficou bem mais inteligente e charmoso com a idade, envelhecer foi uma libertação: “Quando era jovem, era mais estressado. Me sinto muito mais livre hoje. Os 60 e 70 podem ser os melhores anos, desde que você mude ou evolua”. Prefiro acreditar em Eastwood. Por mais que a sociedade estabeleça como idoso quem tem acima de 60, a tendência é empurrar o calendário para a frente. Hoje, para os sessentões, velho é quem tem mais de 80. Os octogenários produtivos acham que velho é quem passou dos 90. No fim, velho mesmo é quem já morreu e não sabe.
A Ásia, onde vivem dois terços da população mundial, recebeu simbolicamente o ser humano de número 7 bilhões, uma pequena filipina de nome Danica cujo nascimento foi celebrado em Manila e ilustra os desafios planetários de crescimento demográfico.
O planeta atingiu a população de seis bilhões em 1999. Na ocasião, a ONU escolheu Adnan Nevic, um menino nascido em Sarajevo, como representante simbólico da marca. Desta vez, a ONU optou por não designar nenhuma criança com antecedência e vários países pretendiam reivindicar a efeméride.
Danica May Camacho, nascida no domingo, dois minutos antes da meia-noite, no José Fabella Memorial Hospital, um centro público da capital filipina, tem 2,5 quilos. Seus pais, Florante Camacho e Camille Dalura, foram felicitados por representantes das Nações Unidas.
"É muito bonita. Não posso acreditar que seja a habitante sete bilhões do planeta", comentou emocionada Camille Dalura na sala de partos, invadida pela imprensa. Danica receberá uma bolsa de estudos e seus pais uma quantia em dinheiro para abrir uma loja.
"O mundo e seus sete bilhões de habitantes formam um conjunto complexo de tendências e paradoxos, mas o crescimento demográfico faz parte das verdades essenciais em escala mundial", declarou a representante do Fundo das Nações Unidas para a População (UNFPA) nas Filipinas, Ugochi Daniels. (G1)

domingo, 30 de outubro de 2011

Somos 7 bilhões (texto)

A população mundial chegará, nesta segunda-feira, a 7 bilhões de pessoas. Quem faz a afirmação é a Organização das Nações Unidas (ONU), segundo estimativas. O estudo foi feito pela necessidade urgente de redistribuição da riqueza para o combater as crescentes desigualdades. Para o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, a data não é motivo de alegria. "Os recém-nascidos chegam a um mundo contraditório, com muita comida para uns e com a falta de alimentos para um bilhão de pessoas que vão dormir com fome todas as noites. Muitas pessoas gozam de luxuosos estilos de vida e muitos outros vivem na pobreza", disse à revista americana Time.
O recorde demográfico deveria ser visto como "um chamado à ação", insistiu, porém em alguns lugares haverá celebração - alguns países até elegerão um bebê como símbolo.
Na Zâmbia, será realizado um concurso musical, e no Vietnã, um show intitulado 7 Billion: Counting On Each Other (7 bilhões de pessoas apoiando-se mutuamente). Na Rússia, as autoridades vão entregar presentes a alguns recém-nascidos.
A nova cifra demográfica representa 1 bilhão de pessoas a mais no mundo em relação ao número divulgado em 1999. Na ocasião, a ONU nomeou um recém-nascido bósnio, Adnan Mevic, como o habitante número 6 bilhões da Terra. O então secretário-geral da ONU, Kofi Annan, foi fotografado em um hospital de Sarajevo, segurando a criança.
A família de Mevic atualmente vive precariamente, o que pode explicar o fato de que neste ano não houve foto simbólica com o chefe das Nações Unidas. "Não se trata de números. Trata-se de pessoas", disse Ban, que visitou uma escola de Nova York na última semana.
"Serão sete bilhões de pessoas que vão precisar de alimentos em quantidade suficiente, assim como de energia, além de boas oportunidades na vida de emprego e educação; direitos e a própria liberdade de criar seus próprios filhos em paz e segurança", explicou, dizendo aos alunos que tudo que quiserem deverá ser multiplicado por sete bilhões.
Ban levará esta mensagem ao G20, encontro das maiores e crescentes economias do mundo, que está marcada para a próxima semana, no sul da França.
De acordo com a ONU, cerca de dois bebês nascem a cada segundo. Ao que tudo indica, serão 10 bilhões de seres humanos em 2100. Ainda segundo as estatísticas, a Índia será o país mais povoado do mundo em 2025, com 1,5 bilhão de habitantes, superando a China.
Um relatório divulgado pelo Fundo de População da ONU (UNFPA) agrava mais ainda a situação. A pesquisa destaca que o mundo enfrentará crescentes obstáculos para criar empregos para as novas gerações, principalmente nos países pobres. A mudança climática e a explosão demográfica também deverão agravar as crises de fome e de seca.
Em contrapartida, o envelhecimento da população se tornará um problema para o Japão e os países europeus. Ainda de acordo com o relatório as políticas de migração, saúde e emprego dificultam a situação nessas áreas.
Como curiosidade, clique aqui e veja qual a sua posição nesse ranking.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Unioeste: as eleições acabaram. A comunidade escolheu o professor Cascá para representá-la junto à comunidade acadêmica. Tomara que ele possa, ainda que eu não acredite, dar conta de tanta responsabilidade.
Não posso, contudo, torcer contra, já que faço parte da universida; já que levo o nome da instituição aos eventos dos quais participo.
Fico aguardando os nomes que ocuparão à reitoria nos próximos 4 anos.

sábado, 22 de outubro de 2011

Para reitor, uma universidade com quali(s)dade.

Dia 25, terça-feira próxima, teremos a oportunidade de mostrar que tipo de universidade queremos. Para isso, basta saber quem é quem nessa disputa pelos cargos. Não há desculpa
Quem vota em quem e quem tem o apoio de quem: isso é um bom sinal para conhecer que tipo de universidade teremos caso a gente opte por uma ou outra chapa.
Eu, por exemplo, não sinto saudades da época em que a professora Liana Fátima Fuga foi reitora dessa instituição. Muito menos gostaria de reviver a época do professor Marcos Vinícius e toda a cambada que o acompanhou.
Tá tudo aí, é só procurar saber quem é quem e o que motiva certas pessoas na defesa de algumas candidaturas. Além disso, é importante tb se informar como era a nossa instituição há 8 anos e como ela está agora. O quanto cresceu? O quanto se verticalizou? Quantos doutores tínhamos e quantos temos hoje? A quantidade de grupos de pesquisa, de bolsas para acadêmicos, de espaço físico? São perguntas que são respondidas com certa facilidade. 
Tudo isso reflete planejamento. Precisamos de planejamento.
Um outro termômetro é olhar o lattes dos candidatos. Se estamos falando de academia estamos falando de produção intelectual; se estamos querendo um reitor que saiba o que é pesquisa, extensão e ensino, precisamos valorizar tb o quanto o candidato produziu durante os seus últimos anos para/na instituição. 
Não dá para colocar na reitoria alguém que sequer saiba o que é um artigo, porque é esse quem irá nos representar.
Quero uma universidade com qualidade. Quero uma universidade fora das páginas policiais! Quero uma universidade sem a sujeira dos partidos políticos, uma universidade ficha limpa.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

UNIOESTE é Multicâmpus ou Todo bairrismo é burro. Não, Todo bairrismo é estúpido! (texto)

Sempre achei uma grande besteira a rivalidade entre Rio e São Paulo ou entre Aracaju e Bahia. Na verdade, achava até divertido alguém ficar por horas defendendo uma ou outra cidade a partir de percepções completamente subjetivas como se elas pudessem ser realmente comprovadas.
Mas não é exatamente sobre a rivalidade entre o Rio e São Paulo que quero escrever. Esta, pra mim, está superada. Gosto de São Paulo, gosto de São João, de São Francisco e São Sebastião e gosto de meninos e meninas...
A ideia aqui é escrever sobre a rivalidade que querem construir entre os cinco câmpus da Universidade Estadual do Oeste do Paraná. Pra ser sincero, acho que essa rivalidade é mais política do que qualquer outra coisa.
Estamos às vésperas de escolher o novo reitor (diretor do câmpus e diretor do centro) da instituição. As eleições serão dia 25 e tenho ouvido de professores, agentes universitários e alunos que votar no candidato de Cascavel (o atual diretor do campus de Cascavel é candidato a reitor), ainda que ele não tenha mostrado, nos últimos quatro anos, nenhuma competência administrativa (um setor de compras que não compra; aquisição bibliográfica que não ocorreu; projetos com financiamento sem espaço físico; professores sem sala para atender alunos; aluno com assessoria e salário; ex-aluno, sem nenhum vínculo com a instituição com assessoria e salário. E há quem diga que isso é pouco, entre outras coisas. Não é.), será bom para Cascavel.  

Não será, acreditem!!!!

Ouvi, ontem à noite, de um professor de Toledo que estava cansado de Rondon (Marechal Cândido Rondon é uma das cinco cidades que compõem a UNIOESTE, além de Francisco Beltrão, Toledo, Foz do Iguaçu, Cascavel) a frente da reitoria por tanto tempo e mesmo que isso significasse colocar na reitoria o atual diretor de câmpus de Cascavel (tenho que reconhecer que muitos agentes universitários parceiros do atual diretor são bons funcionários -muitos, meus amigos- e dão conta de suas responsabilidades, apesar dele) ele o faria para não ver mais uma vez Rondon dirigindo a universidade.
Mais um parêntese, a reitoria, nos últimos oito anos, foi administrada por um professor do curso de História de Marechal Cândido Rondon.
Dizem que contra fatos não há argumentos. Mentira. Não há argumentos contra quem acredita numa causa, seja ela qual for.
O tal professor (de Toledo) ouviu de uma mesa repleta (de professores de Cascavel) todas as mazelas pelas quais passam o campus de Cascavel e mesmo assim manteve a sua posição, porque não quer ver a sala da reitoria ocupada por um professor de Rondon.

Mudanças são necessárias (eu reconheço isso, acho saudável que haja rodízio entre as liderenças), mas não a qualquer custo e preço. Não dá para por em risco uma instituição em nome de uma cidade. , preciso escrever aqui, que esse tipo de bairrimos é burrice.

Solidão na velhice...

A solidão na velhice é uma experiência profundamente marcada pela complexidade da existência humana. Com o passar dos anos, os vínculos soci...