terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Mais cedo ou mais tarde (texto)


 O caso do jogador Adriano tem sido o tema de muitos programas das tardes aqui no Rio (de Janeiro). E sobre ele, tenho ouvido diversas declarações. A que mais tem repercutido é o fato do jogador ter sido pobre, ganhar (muito) dinheiro jogando bola e consequentemente não saber administrar o que ganha (e a sua popularidade), como se isso fosse uma equação, uma causalidade.
Ouvi do ex-jogador Gerson que ganhar muito dinheiro assim tão rápido faz com que esses “meninos” percam a noção de quem devem ser (o do que são). Lembram desse mesmo comentário em relação ao Neymar quando num acesso “único” de raiva disse alguns palavrões para o seu técnico? Pois é, pobre Neymar. Quem mandou nascer assim? Pobre não serve nem para ganhar dinheiro. Acho que a solução seria não pagar nada a esses meninos até que completassem 30 anos, aí, já quase aposentados poderiam, quem sabe, ter juízo.
Não tenho ouvido a mesma equação quando se tratam de “meninos” da classe média. Aí a história passa ser outra: são os pais que não souberam dar limites. Tinham tudo com facilidade e, por isso, não conseguiam dar conta de suas responsabilidades (de quem poderiam ser/de quem eram).
Assim fica complicado entender o que acontece: se não sabem o que fazem porque foram pobres e deixaram de ser ou se nunca foram pobres e mesmo assim não sabem o que fazem.
Por que será que temos que explicar todos os casos de maneira padronizada? Por que é que cada caso não é um caso? Tem tanto jogador, inclusive é a maioria, que foi pobre e de repente ganha rios de dinheiro e não se envolve em escândalos de quaisquer naturezas.
Acho que a relação feita entre a pobreza e a falta de discernimento ou a incapacidade e a irresponsabilidade etc. é tão preconceituosa que esbarra no senso comum, no mais comum dos sensos.
Ou seja, a relação sempre é a de classe. Não se tem pra onde ir. Mobilidade alguma. Se é pobre e ganha dinheiro não vai saber lidar com isso e vai, necessariamente, meter, mais cedo ou mais tarde, as mãos pelos pés.

É como invadir uma caverna (texto)


Eu escrevo para me sentir vivo. É impressionante a sensação de prazer que me toma ao escrever, seja o que for. Gosto de ver as palavras se juntando num sentido, numa direção própria e traduzindo, dentro do seu possível, uma emoção qualquer. Às vezes fico atônito diante de suas combinações, diante dos lapsos que produzo, do silêncio que existe ali, do tanto que não disse, do dito, do que nem foi pensado mas que se faz presente. Escrever é invadir uma caverna sem luz, há riscos e impressões táteis que nos vão tomando, tocando. Esbarramos nas rochas, afundamos os pés: duro, mole, macio, frio, quente. Escrever é se descobrir.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Meio Europa meio América Latina (texto)

Um momento para se comemorar (quem, cara-pálida? perguntariam uns.), o país elevado à sexta economia mundial. Segundo o Mantega, é possível que em 20 anos o "nosso" padrão de vida seja europeu. 
Estou, como disse, de férias no Rio de Janeiro. E tenho percebido que ora estou bem próximo desse tal padrão europeu, ora estou mesmo no velho padrão brasileiro.
De certo, percebo que o "meu" salário e os serviços prestados, de uma forma geral, por aqui, ainda não podem ser comparados aos europeus. Hoje, por exemplo, almocei por R$30,00 reais, preço europeu (ah, em um restaurante que serve por quilo). No entanto, no mercado onde faço compras, aqui perto de casa, o atendimento é ainda padrão américa latina.As filas tb confirmam o mesmo padrão. E a educação, melhor nem tocar nelas.
Já as entradas de cinema já estão no padrão europeu. Mas vejam só, o orçamento que fiz para um painel japonês branco para cobrir cada uma das 4 partes que compõem a janela do quarto (metragem aproximadamente de 2,80m) era europeu, ou seja, R$1580,00 por parte. Como tenho 4 partes, o painel sai pelo pequeno valor europeu de mais ou menos R$6000,00. Apenas um pouco mais. É claro que esse orçamento aumentaria muito se eu estivesse no Leblon ou em Ipanema.
E se não quiser, tem quem queira. Né não? Podem acreditar.
Não é muito fácil estar e não estar ao mesmo tempo na Europa. Ou estar e não estar ao mesmo tempo na América Latina. A gente fica meio esquizofrênico, sem saber direito quem se é e onde se encontra. 
Eu preferiria mesmo, além dos serviços europeus, do salário europeu, uma distribuição de renda mais justa ainda que estivéssemos nesse padrão latino do Ministro. Agora, uns vivendo em um padrão Brasil (crescendo a olhos vistos com possibilidades de estar num europeu em 20 anos) e outra grande parcela vivendo como nas piores economias africanas é para-lamentar.

domingo, 25 de dezembro de 2011

Enfim, férias (texto)

Tive a impressão de que o meu primeiro dia de férias, férias mesmo, foi no dia 24 de dezembro, quando fui a casa do meu pai(drasto) para passar o natal. Aí aproveitei para caminhar na praia, curtir aquele sol que estava me incomodando de tão sufocante. Tomar água de coco, mergulhar no mar geladíssimo, andar na areia, ficar horas olhando o movimento na praia.
Só pensava nisso, ou seja, nenhum compromisso que não fosse o prazer de estar ali. Na verdade, pensava sim em outras coisas, mas nada que o dia 17 não resolva.
Como é bom estar de férias!!!!

sábado, 24 de dezembro de 2011

Sobrevivi (texto)


E eu que havia pensado em um prazo de uma semana mais ou menos de amor declarado ao Rio antes de não suportar o calor que faz por aqui, me enganei, muito. Hoje às 6h da manhã já não conseguia ficar no quarto de tão quente. Não, não estava tão quente, quente estava em Cascavel, estava uma sauna seca. Saí do quarto e pensei em terminar o sono na sala (Estou de férias, gente, posso me levantar às 9h ou às 10h ou nem me levantar!), mas nem na sala era possível.
Não há condições de ficar em canto algum desse pequeno apartamento sem um condicionador de ar, vivi-se sem geladeira (tô na dúvida), sem fogão, sem mesa, cadeiras, copos, mas sem ar condicionado não se vive, no Rio de Janeiro. Definitivamente, não se sobrevive por aqui sem um desses aparelhos, digamos, de primeiríssima necessidade.
Para se ter uma ideia do calor que jaz aqui: depois de me levantar, tomar banho, precisei retornar (e o verbo é retornar porque dá uma ideia de aventura) ao quarto para pegar uma cueca. Não dava. Comecei a arremessar cubos de gelo numa tentativa desesperada de me defender do calor, eles viravam, antes mesmo de sair das minhas mãos, como num passe de mágica, vapor. Dei duas cambalhotas, dois mortais e duas estrelas, e quando saí, finalmente, com a cueca na mão, precisava de outro banho (e um banco para descansar, além de compressa de gelo na nuca. Praticamente uma luta de UFC, só que contra o calor).
Se essas eram as férias que eu merecia, devo ser uma pessoa muito ruim mesmo (como dizem Sandra Balbo e os dois outros bocós: Maria Lúcia e Alexandre).
To me sentindo num daqueles programas do Netgeo: Sobrevivi.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Botequim da Esquina + Protetor auricular (Restaurante, Cascavel)

Fomos, Maria Lúcia, Alexandre, Clodis, Reginaldo e eu, ao novo Botequim da Esquina, em Cascavel, por volta das 20h de quarta-feira. Fomos bem recebidos. Garçons atenciosos. Cerveja gelada. Comida boa. Até que o som ao vivo reiniciou em uma altura insuportável. Não conseguíamos mais nos ouvir. Gritávamos para nos fazer entender. Estávamos a menos de 20cm do outro, mas apenas por gestos para nos fazer entender.
Pedimos para um garçon para abaixar o som. Não fomos atendidos. Pedimos ao gerente que abaixasse o som porque estava ensurdecedor. Ele nos disse que iria resolver, mas não nos deu a mínima bola. Nos levantamos, pagamos a conta e nunca mais voltaremos a esta Esquina.
Pronto, estou de férias. Amanhã pela manhã vou à universidade e viajo no fim da tarde rumo ao descanso. Merecidíssmo, eu acho. Não vou fazer balanço, restrospectivas, melhores momentos, fechar o caixa, porque não acredito em fim e recomeço e não é sobre isso que estou falando. Refiro-me às férias.
Sei que ao chegar ainda terei coisas para fazer: a casa deve tá uma poeira só, preciso urgentemente de um fogão e de um presente para o meu padrasto. Fora isso, que provavelmente vai me ocupar o dia 23 (todo), apenas descansar e curtir a cidade. Ver os amigos, ir à praia, à feira no sábado, andar sem compromisso algum, sem horários, sem pressa. 
Não quero pensar agora no calor, no tumulto, no trânsito, nas lojas atoladas de gente, isso fica para a segunda semana. Quando aquela sensação de estar_e_não_estar_mais me tomar por inteiro.
Acabei de fazer a mala. Pouca roupa porque odeio peso, mas, como fico por um mês, ela não deve tá tão leve assim.
Por hora, penso apenas nos fins de tarde no Aterro durante os fins de semana, na praia bem cedinho ou quando o sol está caindo fora, no silêncio da minha casa, ainda que no burburinho do centro da cidade.
Final de ano sempre uma correria, nunca dá tempo de fazer tudo aquilo que se pensou, a programação vai por ralo abaixo. Quero nem saber, tô nem aí pra ela. Ai, como é bom pensar em não pensar em nada, quero dizer, não ter que pensar em nada com compromisso.
Fui.

Caber no outro como quem encontra um lugar seguro

Há um amor que nos atravessa feito uma saudade que aperta o peito como se faltasse ar. É um amor que não se satisfaz com o som da voz, nem c...