As migrações das aves são fenômenos voluntários e intencionais com caráter
periódico e com o objetivo de encontrar alimento e boas condições
meteorológicas. O voo dos políticos tem características bem parecidas, tb são voluntários, intencionais, com caráter periódico (normalmente em épocas de enchentes como as que estão acontecendo no sudeste do Brasil ou em períodos de catástrofes naturais que assolam algumas regiões e matam muitas pessoas ou deixam outras tantas desabrigadas).
O objetivo, diferentemente das aves, não é o de encontrar alimentos ou boas condições climáticas, mas apenas o de tomar ciência dessas desgraças anunciadas cuja frequência a cada ano se intensifica.
Faz exatamente um ano que 918 pessoas morreram (e 215 ainda estão desaparecidas) soterradas ou foram levadas pelas enchentes e deslizamentos de encontas na região serrana do Rio. Lembro-me perfeitamente das promessas do Governador do Rio, Sérgio Cabral, que, como aquelas aves, sobrevoou a região atingida e prometeu (prometer é, além de sobrevoar, uma das características mais comuns dos políticos) doações de verbas para recuperar a região, casas para os desabrigados e principalmente retirar as pessoas dos locais de risco.
Quase nada foi feito. Nova Friburgo, por exemplo, tem mais de 10 mil pessoas morando em locais que visivelmente correm algum risco de serem atingidos por deslizamento de encontas ou por cheias de rios, caso a chuva castigue um pouco mais a região.
Como eu disse, muitas vítimas até hoje não foram encontradas. Os sobreviventes sofrem
com as lembranças e o medo de novas tragédias. Em um ano, pouca coisa
mudou na região do desastre. As novas construções ainda são promessas (sem prazo de entrega).
O que não muda, faz um bom tempo, são os comportamentos dos governadores, prefeitos, vereadores, deputados estaduais e federais, senadores, enfim, dos políticos que são eleitos para trabalhar pela comunidade. Entram e saem gerações de políticos, mas as práticas continuam exatamente as mesmas: sobrevoar e prometer.