segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Queimando ou agredindo moradores de rua (texto)

No último sábado, dia 25, dois moradores de rua foram queimados em Santa Maria, cidade satélite de Brasília. Um deles está internado com 30% do corpo queimado, o outro não resistou à violência e morreu no domingo, dia 26.
Por que isso acontece com certa frequência? Minha hipótese é a certeza da impunidade. Ou será que estou enganado? Veja reportagem abaixo sobre os jovens de classe média que queimaram vivo o índio pataxó Galdino Jesus dos Santos.

Assassinos do índio Galdino estão em liberdade
Dez anos depois de assassinarem o índio pataxó Galdino Jesus dos Santos, em Brasília (DF), os cinco jovens condenados pelo crime, incluindo um menor de idade na época, estão soltos. Na ocasião, os jovens de classe média colocaram fogo no índio enquanto ele dormia em um ponto de ônibus. Em 2001, foram condenados a 14 anos de prisão, mas desde 2004 estão em liberdade. Eles teriam que cumprir cerca de nove anos de reclusão sob regime fechado, porém, com medidas judiciais, conseguiram ficar em regime semi-aberto ? em que o detento só vai dormir na prisão.
A promotora Maria José Miranda, uma das responsáveis pela denúncia contra os jovens, conta os privilégios que eles tiveram desde o início do processo.
Durante o curso do processo, eles teriam que ficar presos preventivamente. Então para não ficar em cela comum foi desocupada uma biblioteca para eles. Eles tinham a chave, tinha cortinas nas janelas, banho quente, vaso sanitário. Ou seja, tinham tudo o que os outros prisioneiros não tinham?.
Em regime semi-aberto foram flagrados diversas vezes em festas e bares da cidade. Para a promotora, esta impunidade pode aumentar a criminalidade no país.
Eu sei que outras pessoas comuns não conseguem estes benefícios. É a mesma justiça interpretando diferentemente a mesma lei. Entre todos os fatores de criminalidade, não resta dúvida que a impunidade é o maior incentivo, maior estímulo ao crime. Muito mais grave é que no caso de pessoas abastadas ou pessoas importantes ela é 100% garantida?.
O Conselho Indigenista Missionário (Cimi) denuncia que desde a morte de Galdino em 1997 mais de 250 indígenas foram assassinados em todo o país.

De Brasília, da Radioagência NP, Gisele Barbieri

domingo, 26 de fevereiro de 2012

O espírito da folia carioca (Ruth de Aquino)

O espírito da folia carioca

RUTH DE AQUINO  é colunista de ÉPOCA raquino@edglobo.com.br (Foto: ÉPOCA) Não havia nem uma moeda na bolsinha de crochê com chave, celular e filtro solar. “Moço, estou com um problema”, eu disse, constrangida, ao senhor que trabalha no quiosque da Praia do Arpoador, depois de beber com um amigo a água doce e fresca de dois cocos verdes. “Estou sem dinheiro nenhum, esqueci em casa.” “Mas que problema”, perguntou Jósa, sorrindo, gentil, com o facão na mão, “os cocos não estavam bons?” “Ótimos”, respondi. “Então não tem nenhum problema”, ele disse, “uma boa praia para vocês.”
Eu fiquei de pagar depois. Não nos conhecíamos. Eu me divertia, ele trabalhava, num canto da orla carioca de onde avistamos o Morro Dois Irmãos e a Pedra da Gávea ao fim da curva de mar, areia e barracas coloridas.
Pensei. Em Paris, Londres ou Nova York, essa cena de cordialidade não existiria. Os vendedores de lá cobram com rigor cada “centime”, cada “penny”, cada “cent”, jamais arredondam um preço para baixo – e não há a menor chance de que eles retribuam com um sorriso generoso uma falta de dinheiro imprevista.
“Princesa, que horas são?”, pergunta o banhista de sunga. Não tem “bonjour” nem “merci”, não tem “hi” e “thanks”, é uma consulta direta, sem um pingo de cortesia formal, mas sedutora na medida da carioquice. Pode ser o sol, os blocos de rua, a determinação de ser feliz em fevereiro. O carioca anda mais extrovertido e simpático do que já é.
Não importa o resto. Ele parou de acompanhar o julgamento do Lindemberg, a ficha suja dos políticos, o careca do mensalão, a greve que se desmilinguiu em confete, os bueiros explosivos, a gasolina mais cara, os fantasmas do Senado e os taxistas falsos que desonram a fantasia de pirata nos aeroportos. Por um tempo, só importa se vai dar praia, se o banho de mar está liberado, se a cerveja está gelada e se cabem mais seis no boteco lotado, mesmo em pé do lado de fora.
Esse Rio pré-carnavalesco atrai, hoje, 800 mil turistas. Deles, 250 mil são estrangeiros, os mais apaixonados pela beleza da cidade. Não há como andar sem ouvir francês, inglês, italiano, espanhol e outros idiomas egressos da neve. Dos turistas de outros Estados, paulistas e mineiros são os campeões. O mais curioso é que passou a ter muito carioca no Carnaval do Rio. Porque os blocos de rua foram ressuscitados. Em vez de ir pular no Nordeste, o folião carioca agora fica nas quebradas de sua cidade.
Cenas de cordialidade como as que existem no Rio de Janeiro não se veem em Paris, Londres ou Nova York 
São 425 blocos, de janeiro até o domingo depois do Carnaval, quando o Monobloco arrasta 400 mil na Avenida Rio Branco. Os nomes são poéticos, como o Simpatia é Quase Amor. Irreverentes, como o Suvaco do Cristo, Spanta Neném, Desliga da Justiça. Picantes, como Vem ni Mim que Sou Facinha, Fogo na Cueca e Só o Cume Interessa. No som, há uma mistura até blasfema, de tão democrática. Tem brega, rock, sertanejo e MPB. Sempre em ritmo de samba. Preta Gil levou 250 mil foliões para o centro do Rio e fez a multidão rezar um padre-nosso pelas vítimas dos desabamentos recentes.
Por um bom (ou mau) tempo, o Carnaval carioca se resumiu ao desfile das escolas de samba, a rua tinha dançado. “Quando eu era jovem, ou alguém me arrumava um ingresso para a Sapucaí ou eu ia para Salvador, Angra, Petrópolis”, diz o prefeito Eduardo Paes, de 48 anos. “Em vez de ignorar, resolvemos abraçar os blocos, organizar, dialogar. E estamos evoluindo ano a ano.” O que não vai ter nunca, diz Paes, é cordinha, camarote ou corredor para os blocos. Têm de se concentrar nos bairros de origem e ser ampliados nos subúrbios.
Claro que o trânsito complica. Mas a comunicação e o esquema funcionaram melhor, e os engarrafamentos foram menores. No último fim de semana, 700 mil pessoas desfilaram em paz em 111 blocos no Rio, com muita azaração e criatividade. E menos lixo, menos vândalos e menos mijões que nos anos anteriores. Há mais banheiros disponíveis. Canteiros foram protegidos por redes na orla da Zona Sul para não ser pisoteados.
Em Santa Teresa, bairro ferido de morte pelos desastres com bondinhos, o primeiro destaque do sábado de carnaval será o Céu na Terra. O homenageado será o bondinho. O Cordão da Bola Preta irá da Candelária à Cinelândia. A Banda de Ipanema obrigará os ipanemenses a deixar o carro em casa. No Bloco do Barbas, em Botafogo, o carro-pipa deve refrescar os foliões. O Empolga às 9 sairá em Copacabana, na Avenida Atlântica. De bônus, temos as musas dos blocos, essas moças de gingado carioca sem anabolizante.
Alienação? Transtorno? Pode ser, se você torce o nariz para esse delírio popular. Para quem festeja a volta da folia de rua após tantos anos de Carnaval exportação, é hora de curtir, não no Facebook ou na televisão, mas na vida real. Ao ar livre, com cantoria, suor e beijos. Deixe o samba correr.

Amanhã tudo volta ao normal (fotos)

Mas é Carnaval!
Não me diga mais quem é você!
Amanhã tudo volta ao normal.
Deixa a festa acabar,
Deixa o barco correr.
(Noite dos Mascarados - Chico Buarque)


Amanhã tudo volta ao normal. Foram 4 dias de festa, me surpreendendo com a criatividade dos foliões. Hoje, em frente ao meu prédio, a concentração do Bloco das Quengas, muita diversão e fantasia. Mas como tudo tem um fim, o carnaval acabou. Fica a sensação de muita alegria e a vontade de voltar no próximo ano.







sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

80 anos da conquista do voto feminino


Arte pra quem, arte pra quê?


O Museu é de Arte Moderna, a exposição da Nan Goldin, mas a cabeça da atendente/caixa era da Idade Média.
Fomos, três amigos e eu, hoje ao MAM assistir a exposição da fotógrafa americana Nan Goldin. Na chegada, compraríamos 3 ingressos inteiros e uma meia entrada para estudante; um dos meus amigos faz mestrado em letras na Universidade Estadual do Oeste do Paraná, campus de Cascavel.
Ele portava a carteira de estudante (sem data de validade) e a declaração de matrícula do ano passado (consta nessa declaração “1º semestre de 2011”). Ela nos barrou dizendo que deveríamos apresentar uma declaração deste ano. Explicamos que o tal curso é anual e que ele ainda estava em férias. Explicamos também que a matrícula do mestrado apenas aconteceria a partir do dia 17 de março de 2012 e que, por isso, não poderíamos apresentar uma declaração deste ano, mas a funcionária foi categórica: argumentou que a Lei estava ali para quem quisesse ler e que ela era bem clara. Contra-argurmentei que uma Lei não pode ser interpretada apenas de uma maneira já que a situação não poderia ser generalizada, haja vista que a instituição na qual o meu amigo estuda funciona de outra maneira. Mas ela não entendeu que não se pode colocar no mesmo quadrado todas as situações, ainda que “trabalhe” com arte moderna.
Pedimos para falar com o gerente. Depois de algum tempo, veio um funcionário se dizendo gerente (e mais tarde se desdizendo porque este estaria em férias...), reforçando que estava bem claro o que se dizia na Lei.
Tornamos a lhe explicar todos os detalhes, em vão. Além desses dois funcionários, uma terceira, que trabalha no balcão, nos disse ser aluna de uma universidade federal cuja matrícula já havia ocorrido em sua instituição. Eu lhe disse que ele, o que era e deixou de ser gerente, estava duvidando do que estávamos falando, mas ele nos disse que eu estava colocando palavras em sua boca, já que em momento algum, segundo ele, havia dito que era mentira o fato de meu amigo estar matriculado num curso que não havia ainda realizado a matrícula de 2012. Enfim, acabamos tendo de pagar a entrada inteira.

domingo, 19 de fevereiro de 2012

Fazia muito tempo que eu não passava o carnaval no Rio de Janeiro, mais ou menos uns 6 anos. E, por isso, acredito, havia me esquecido da delícia que é o nosso carnaval de rua. Milhões de pessoas fantasiadas de tudo o que a imaginação possa permitir (e um pouco mais) e nenhuma violência, nenhum desrespeito, nenhum tumulto fora os normais, ou seja, multidão de pessoas nas ruas, blocos por todos os lados, e a gente ali sem poder atravessar uma rua. Fora isso, apenas riso e surpresas.
Hoje me diverti de montão, saí de peruca verde e voltei de branca de neve (pena não ter uma foto para socializar tanta coragem, afinal sou um professor sério). Acabei de chegar em casa depois de um longo dia atrás de blocos, encontros com amigos e uma passada no cinema (a caráter) para assistir A Dama de Ferro. Dia longo, mas nada que uma bom descanso merecido não me coloque em dia para o domingo de carnaval. Bom carnaval para quem gosta de festa!!!

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Quem não gosta de samba bom sujeito não é (texto)

Está aberta, oficialmente, a temporada de blocos de carnaval no Rio de Janeiro. A cidade respira carnaval. E é bom demais!! Um clima bem divertido e descontraído. 
No Face(book), dia desses, vi algumas manifestações de alguns paranaenses sobre quem gosta de carnaval ser vagabundo e fiquei pensando, naqueles dias, sobre o que faz alguém achar que gostar de festa faz de alguém um desocupado. Mas aquele pensamento logo se dissipou ao me lembrar do Porco no Rolete, do Boi no Rolete, da Oktoberfest, das Festas do Seminário (costelaço), da Festa das Nações, dos bailões sertanejos, da Mega Fantasy, das cervejadas, dos Encontros de blocos, das festas de cada curso de graduação e achei melhor nem comentar.
Continuo achando que quem não gosta de festa bom sujeito não é. Ou é ruim da cabeça ou doente do pé. Ou é doente do pé e ruim da cabeça. Um bom feriado de carnaval para todos.

Solidão na velhice...

A solidão na velhice é uma experiência profundamente marcada pela complexidade da existência humana. Com o passar dos anos, os vínculos soci...