domingo, 8 de julho de 2012

A cura gay (Contardo Calligaris)


   Em 1980, a homossexualidade sumiu do "Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais". Em 1990, ela foi retirada da lista de doenças da Organização Mundial da Saúde.
Médicos, psiquiatras e psicólogos não podem oferecer uma cura para uma condição que, em suas disciplinas, não é uma doença, nem um distúrbio, nem um transtorno. Isso foi lembrado por Humberto Verona, presidente do Conselho Federal de Psicologia, numa entrevista à Folha de 29 de junho.
No entanto, o deputado João Campos (PSDB-GO), da bancada evangélica, pede que, por decreto legislativo, os psicólogos sejam autorizados a "curar" os homossexuais que desejem se livrar de sua homossexualidade.
Um pressuposto desse pedido é a ideia de que os psicólogos saberiam como mudar a orientação sexual de alguém (transformá-lo de hétero em homossexual e vice-versa), mas seriam impedidos de exercer essa arte - por razões ideológicas, morais, politicamente corretas etc.
Ora, no estado atual de suas disciplinas, mesmo se eles quisessem, psicólogos e psiquiatras não saberiam modificar a orientação sexual de alguém --tampouco, aliás, eles saberiam modificar a "fantasia sexual" de alguém (ou seja, o cenário, consciente ou inconsciente, com o qual ele alimenta seu desejo).
Claro, ao longo de uma terapia, alguém pode conseguir conviver melhor com seu próprio desejo, mas sem mudar fundamentalmente sua orientação e sua fantasia.
Por via química ou cirúrgica (administração de hormônios ou castração real --todos os horrores já foram tentados), consegue-se diminuir o interesse de alguém na vida sexual em geral, mas não afastá-lo de sua orientação ou de sua fantasia, que permanecem as mesmas, embora impedidas de serem atuadas. A terapia pela palavra (psicodinâmica ou comportamental que seja) tampouco permite mudar radicalmente a orientação ou a fantasia de alguém.
O que acontece, perguntará João Campos, nos casos de homossexualidade com a qual o próprio indivíduo não concorda? Posso ser homossexual e não querer isso para mim: será que ninguém me ajudará?
Sim, é possível curar o sofrimento de quem discorda de sua própria sexualidade (é a dita egodistonia), mas o alívio é no sentido de permitir que o indivíduo aceite sua sexualidade e pare de se condenar e de tentar se reprimir além da conta.
Por exemplo, se eu não concordo com minha homossexualidade (porque ela faz a infelicidade de meus pais, porque sou discriminado por causa dela, porque sou evangélico ou católico), não posso mudar minha orientação para aliviar meu sofrimento, mas posso, isso sim, mudar o ambiente no qual eu vivo e as ideias, conscientes ou inconscientes, que me levam a não admitir minha orientação sexual.
Campos preferiria outro caminho: o terapeuta deveria fortalecer as ideias que, de dentro do paciente, opõem-se à homossexualidade dele. Mas o desejo sexual humano é teimoso: uma psicoterapia que vise reforçar os argumentos (internos ou externos) pelos quais o indivíduo se opõe à sua própria fantasia ou orientação não consegue mudança alguma, mas apenas acirra a contradição da qual o indivíduo sofre. Conclusão, o paciente acaba vivendo na culpa de estar se traindo sempre --traindo quer seja seu desejo, quer seja os princípios em nome dos quais ele queria e não consegue reprimir seu desejo.
Isso vale também e especialmente em casos extremos, em que é absolutamente necessário que o indivíduo controle seu desejo. Se eu fosse terapeuta no Irã, para ajudar meus pacientes homossexuais a evitar a forca, eu não os encorajaria a reprimir seu desejo (que sempre explodiria na hora e do jeito mais perigosos), mas tentaria levá-los, ao contrário, a aceitar seu desejo, primeiro passo para eles conseguirem vivê-lo às escondidas.
O mesmo vale para os indivíduos que são animados por fantasias que a nossa lei reprova e pune. Prometer-lhes uma mudança de fantasia só significa expô-los (e expor a comunidade) a suas recidivas incontroláveis. Levá-los a reconhecer a fantasia da qual eles não têm como se desfazer é o jeito para que eles consigam, eventualmente, controlar seus atos.
Agora, não entendo por que João Campos precisa recorrer à psicologia ou à psiquiatria para prometer sua "cura" da homossexualidade. Ele poderia criar e nomear seus especialistas; que tal "psicopompos"? Ou, então, não é melhor mesmo "exorcistas"?

*Folha de São Paulo, quinta-feira, 05 de julho de 2012 - Ilustrada.

Um "ao vivo" mais para morto (Texto)

Faz mais de um mês a TV Globo anuncia a transmissão ao vivo da luta entre Anderson Silva e Chael Sonnen (UFC 148). Se fosse apenas o anúncio não seria tão grave/sério, se nos avisassem, por exemplo, que não tinha sido possível a tal transmissão por conta disso ou daquilo, mas o cúmulo do desrespeito é transmitir uma luta duas horas depois de acontecida em Las Vegas como se fosse ao vivo.
Galvão Bueno tem o descaramento (é claro que a imoralidade faz parte de toda a mutretagem da emissora) de a cada volta do intervalo de anunciar um "voltamos ao vivo". Eles sabem que não se trata de uma transmissão em tempo real, mas comportam-se como se fosse.
Sei que alguns podem dizer: Por que não se vê a luta em outra emissora? Porque a Rede Globo comprou os direitos de exclusividade das transmissões do UFC e assim impede que outra emissora possa transmitir essas imagens.

sábado, 7 de julho de 2012

Ausência (Vinícius de Moraes e Marília Medalha)


Ausência

Vinicius de Moraes , Marília Medalha

Deixa secar no meu rosto
Esse pranto de amor que a presença desatou
Deixa passar o desgosto
Esse gosto da ausência que me restou
Eu tinha feito da saudade
A minha amiga mais constante
E ela a cada instante
Me pedia pra esperar

E foi tudo o que eu fiz, te esperei tanto
Tão sozinha no meu canto
Tendo apenas o meu canto pra cantar
Por isso deixa que o meu pensamento
Ainda lembre um momento a saudade que eu vivi
A tua imagem fiel
Que hoje volta ao meu lado
E que eu sinto que perdi

sábado, 30 de junho de 2012

Da Série - Contos Mínimos

Chegadas, abraços, beijos e saudades. Vontade de nunca ter saído: tanto acolhimento. Um copo de água no meu deserto. O que fazer para retribuir? Nada seria suficiente. Nenhuma palavra diria tanto.

segunda-feira, 25 de junho de 2012

O sonho de Vitório (livro - Veridiana Scarpelli)

Recomendo o livro de Veridiana Scarpelli. Em primeiro lugar, o traço dela é elegante e vai ajudar a educar os olhos das crianças que o lerem. Afinal, aprende-se a ter bom gosto vendo-se coisas bonitas.
Mas Veridiana não fica só nisso, não. Além de bom gosto, seu livro ensina algo muito mais importante: sentido de possibilidade e auto-determinação. Mostra, basicamente, que a história de cada um de nós é feita por nós mesmos.
Ela escreve sobre um porquinho chamado Vitório. Seja vestido de super-herói mascarado, fantasiado de coelho ou em sua camisa listrada, Vitório é a prova de que o imaginário e o real são mais próximos do que parecem.
Em outras palavras, o porquinho Vitório que Veridiana nos apresenta ensina algo que toda criança pressente e que deve sempre ser confirmado: a imaginação pode tornar-se realidade. Vitório mostra que qualquer coisa é possível para as crianças, porque elas têm toda uma vida pela frente.
O nome do livro é “O Sonho de Vitório“, mas poderia também chamar-se “A vitória do sonho“.  E todas as crianças o deveriam ler.
O sonho de Vitório
autor: Veridiana Scarpelli
editora: Cosac Naify
Formato: 21×21 cm Páginas: 32 páginas Ilustrações: 16
Tiragem: 1500
Preço: R$ 35,00
ISBN 978-85-405-0179-9

 Ilustração de "O sonho de Vitório", o belo livro de Veridiana Scarpelli lançado pela Cosac Naify..

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Alunos da Unioeste vão estudar em Portugal


Sete acadêmicos do 2º ano do curso de graduação em Letras do Campus de Cascavel da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste) foram selecionados para estudar na Universidade de Lisboa, em Portugal.
A classificação dos alunos se deu após inscrição em edital do Programa de Licenciaturas Internacionais (PLI) da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), do Ministério da Educação (MEC).
O projeto da Unioeste aprovado pela Capes tem como título “Programa de Licenciaturas Internacionais: Desenvolvimento e formação de professores de língua portuguesa na Unioeste – Melhoria do ensino e da qualidade na formação inicial” e é coordenado pelo professor Alexandre Sebastião Ferrari Soares, do curso de Letras.
O Programa de Licenciaturas Internacionais visa elevar a qualidade da graduação, com prioridade para a melhoria do ensino dos cursos de licenciatura e a formação de professores por meio da ampliação e da dinamização de ações voltadas para a formação inicial e para a implementação de novas diretrizes curriculares – com ênfase na educação básica.
Em todo o País 64 instituições foram selecionadas e suas propostas tiveram avaliação da Capes/MEC e atenderam aos requisitos do PLI. Além de Lisboa, são oferecidas vagas nas universidades de Coimbra, Porto, Aveiro, Évora, e Universidade de Trás-os-Montes, entre outras.

Dois anos 
Os sete acadêmicos da Unioeste, selecionados a partir de análise de currículo e entrevista, seguirão para a Universidade de Lisboa no mês de setembro próximo, onde deverão permanecer por período de 24 meses, até concluírem a graduação. Os selecionados irão receber bolsa no valor de 1,1 mil euros, oferecida pela Capes.  
De acordo com o professor Alexandre Soares, os alunos inscritos no programa terão até o dia 17 de julho para preencher formulário específico e apresentar, para efetivar inscrição, o histórico da graduação, histórico do ensino médio e histórico do ensino fundamental, juntamente com o atestado médico/psicológico e declaração de bolsista integral.

Entre o movimento e a pausa

Nosso tempo encarnado é um breve instante diante da imensidão do mundo. Habitar um corpo é experimentar, a cada dia, a delicada consciência ...