segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Entre mortos e feridos

Sobrou pouco da eleição de 2014. Fora o próprio exercício da democracia, que se assegura apenas no dia a dia, mas que em geral acredita-se consolidada, sobrou mesmo muito pouco. 
Fiquei impressionado com a quantidade de pessoas próximas, inclusive, com um velho/sempre/atual/discurso/de/ódio apontado para tudo e todos que, de alguma forma, se opunham ao seu ponto de vista: vi/li uma onda de rancor ocupar espaços destinados ao exercício do embate, das discussões políticas saudáveis. Acho que não preciso dizer que de ambos os lados.
Fiquei horrorizado diante de jovens que se informam apenas e exclusivamente através de fontes conservadoras: Veja, O Globo, Folha de São Paulo, Estadão, IstoÉ como se estivessem lendo uma verdade absoluta. E pior, reproduzindo-as sem qualquer senso crítico, sem um distanciamento do que ali é posto como notícia.
Fiquei mais do que chocado com as atualizações preconceituosas a respeito do nordeste/nordestino com base em leituras de estatísticas sobre os votos de certas regiões. 
Boquiaberto diante de amigos que reforçaram a ideia de que no sul/sudeste encontram-se as pessoas mais informadas e por isso eleitores do PSDB. Meu deus!
Acompanhei os argumentos de que mudança significaria sem sombra de dúvida votar no Aécio, como se isso fosse "A única possibilidade" de se fazer uma nova política. E as relações feitas entre as passeatas de junho de 2013 e as urnas de 2014 como se todos que tivessem participado daquelas manifestações devessem ter o mesmo comportamento  diante das duas candidaturas.
Perdi o sono algumas noites ao ouvir de pessoas conhecidas uma vontade de um novo Golpe Militar para saírem de uma "Ditadura Petista". É isso mesmo?! Pessoas reclamando de liberdade de expressão e exaltando o período da Ditadura. É isso mesmo?! Em alguns momentos eu achava que tinha usado alguma substância alucinógena que estava me fazendo mal ou havia me colocando fora da realidade por não acreditar, mesmo, naquilo tudo que li/vi nos jornais, nas redes sociais, ou na fala de amigos e conhecidos em tempo real e ao vivo.
Eduardo Campos morreu num acidente aéreo. Fiquei em estado de choque porque tinha acabado de assistir, pela internet, a sua entrevista ao Jornal Nacional concedida na noite anterior.
Depois disso, Marina Silva, vice-candidata do Eduardo Campos, assume a chapa e dispara na corrida presidencial. Depois ainda, tropeços, incoerências, acusações, disse me disse, retificações de propostas e um terceiro lugar no primeiro turno. E um primeiro turno além de qualquer previsão.
No segundo turno Dilma e Aécio. Pesquisas furadas. Mais acusações. Embates e finalmente no domingo dia 26 de outubro, o fim dessa dolorosa disputa.
Sobrou a sensação de que algumas pessoas só poderiam mesmo mostrar a sua cara diante desse embate ideológico e se significar ao significar. Bem, entre mortos e feridos salvaram-se apenas alguns. E deposito a minha confiança nesses alguns.

domingo, 2 de novembro de 2014

POEMA DE FINADOS - MANUEL BANDEIRA


Amanhã que é dia dos mortos
Vai ao cemitério. Vai
E procura entre as sepulturas
A sepultura de meu pai.

Leva três rosas bem bonitas.
Ajoelha e reza uma oração.
Não pelo pai, mas pelo filho:
O filho tem mais precisão.

O que resta de mim na vida
É a amargura do que sofri.
Pois nada quero, nada espero.
E em verdade estou morto ali.



MANUEL BANDEIRA

Da Série Contos Mínimos

Não tenho medo de noites escuras, não sou afetado pelas tempestades nem pelas grandes ventanias soltas. Minha força vem da solidão. Eu sou as folhas varridas pelos ventos, os sacos plásticos que levitam pelas ruas. Eu sou o escuro da noite.

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Rio sem graça

Hoje, acordei com a sensação de que o Rio de Janeiro tinha perdido a sua graça. Tenho estado, desde o retorno de Portugal, com certa frequência na cidade, mas a cada vez que volto, fico pensando que não tenho muito mais o que fazer por aqui. Não consigo sentir o mesmo prazer de tempos atrás quando estou no Rio. Alguma coisa perdeu o sentido: é ver o visto. E atribuo a isso, principalmente, o fato de não ver novidade por essas bandas. Acho que transformei o Rio num shopping center e compras a gente faz em qualquer lugar, né não?
No entanto, sempre há um "no entanto" nos meus dias (inda bem), ao cruzar uma esquina do Centro da Cidade me deparo com um grande amigo, Henrique, e pronto, um breve papo no meio da rua alegrou demais aquele instante e aquela sensação de que não valia a pena, passou. Foram alguns poucos minutos de conversa, mas o suficiente para me fazer rir muito. Rir das suas ideias de separação do Brasil depois da reeleição da presidenta Dilma e a partir das postagens (no Facebook) de quem votou no Aécio, candidato de oposição, e não se conformou com o resultado.
Ri tb muito das suas ideias sobre urbanizar o meu apartamento com árvores frutíferas, além de legumes, plantas ornamentais, hortas etc. Como é bom rir! Rir de humor inteligente. Rir com gente do bem. Rir de verdade, com vontade.
Bem, foi um encontro tão rápido que tive tempo apenas de trocar poucas palavras, ver um mapa no seu celular ... dar e receber um abraço, mas foi um (re)encontro muito bom! Somos amigos há mais de 30 anos e nos vemos com muita frequência (sempre que estou por aqui, dou um jeito de tomar um chope com ele). E hoje foi, sei que ele nem percebeu isso, especial esse encontro. Valeu, Henrique!!!!

domingo, 19 de outubro de 2014

Da Série Contos Mínimos

A cada dia menos. A cada hora, quase nada. Se surpreendia com as deslembranças. Era como se aos poucos nunca tivesse sido.

Da Série Contos Mínimos

Ao cruzar a rua, deu de cara com um amigo de longa data. Fazia tempo que não se viam. Falaram pouco, faltou assunto. Olharam-se profundamente, sobrou carinho.

sábado, 4 de outubro de 2014

Da Série Contos Mínimos

Nem tristeza, nem alegria, nem saudade, nem presença. Nada. Nada, simplesmente. Não existia nada. Nem memória, nem futuro, dia ou noite. Não restava um som sequer. Não tinha brilho, não tinha escuridão. Sol ou lua pra contar histórias. Vazio, vazio, vazi, vaz, va, v.

Solidão na velhice...

A solidão na velhice é uma experiência profundamente marcada pela complexidade da existência humana. Com o passar dos anos, os vínculos soci...