Sobrou pouco da eleição de 2014. Fora o próprio exercício da democracia, que se assegura apenas no dia a dia, mas que em geral acredita-se consolidada, sobrou mesmo muito pouco.
Fiquei impressionado com a quantidade de pessoas próximas, inclusive, com um velho/sempre/atual/discurso/de/ódio apontado para tudo e todos que, de alguma forma, se opunham ao seu ponto de vista: vi/li uma onda de rancor ocupar espaços destinados ao exercício do embate, das discussões políticas saudáveis. Acho que não preciso dizer que de ambos os lados.
Fiquei horrorizado diante de jovens que se informam apenas e exclusivamente através de fontes conservadoras: Veja, O Globo, Folha de São Paulo, Estadão, IstoÉ como se estivessem lendo uma verdade absoluta. E pior, reproduzindo-as sem qualquer senso crítico, sem um distanciamento do que ali é posto como notícia.
Fiquei mais do que chocado com as atualizações preconceituosas a respeito do nordeste/nordestino com base em leituras de estatísticas sobre os votos de certas regiões.
Boquiaberto diante de amigos que reforçaram a ideia de que no sul/sudeste encontram-se as pessoas mais informadas e por isso eleitores do PSDB. Meu deus!
Acompanhei os argumentos de que mudança significaria sem sombra de dúvida votar no Aécio, como se isso fosse "A única possibilidade" de se fazer uma nova política. E as relações feitas entre as passeatas de junho de 2013 e as urnas de 2014 como se todos que tivessem participado daquelas manifestações devessem ter o mesmo comportamento diante das duas candidaturas.
Perdi o sono algumas noites ao ouvir de pessoas conhecidas uma vontade de um novo Golpe Militar para saírem de uma "Ditadura Petista". É isso mesmo?! Pessoas reclamando de liberdade de expressão e exaltando o período da Ditadura. É isso mesmo?! Em alguns momentos eu achava que tinha usado alguma substância alucinógena que estava me fazendo mal ou havia me colocando fora da realidade por não acreditar, mesmo, naquilo tudo que li/vi nos jornais, nas redes sociais, ou na fala de amigos e conhecidos em tempo real e ao vivo.
Eduardo Campos morreu num acidente aéreo. Fiquei em estado de choque porque tinha acabado de assistir, pela internet, a sua entrevista ao Jornal Nacional concedida na noite anterior.
Depois disso, Marina Silva, vice-candidata do Eduardo Campos, assume a chapa e dispara na corrida presidencial. Depois ainda, tropeços, incoerências, acusações, disse me disse, retificações de propostas e um terceiro lugar no primeiro turno. E um primeiro turno além de qualquer previsão.
No segundo turno Dilma e Aécio. Pesquisas furadas. Mais acusações. Embates e finalmente no domingo dia 26 de outubro, o fim dessa dolorosa disputa.
Sobrou a sensação de que algumas pessoas só poderiam mesmo mostrar a sua cara diante desse embate ideológico e se significar ao significar. Bem, entre mortos e feridos salvaram-se apenas alguns. E deposito a minha confiança nesses alguns.