sábado, 10 de outubro de 2015

Aqui ou em qualquer lugar

Que chatice que virou essa tomação de conta online. Antes era com o celular: alguém te ligava e achava que você tinha a obrigação de atender porque o celular te acompanha pra todos os lados. Agora virou um inferno: o WhatsApp, o Messenger (principalmente) e tudo o mais que denuncia a sua presença ali.
Sabemos todos que a tecnologia existe pra facilitar a nossa vida. E facilita mesmo, MAS estar online não significa necessariamente que você está com vontade de conversar, com vontade de ler, com vontade de escrever.
Se você estiver com vontade na mesma hora de quem te enviou a mensagem: sorte de todos. Se não, por favor, tenha calma, fique na sua que uma hora (ou não) o seu interlocutor vai te dar uma resposta. Se ele não der, paciência. Ninguém é obrigado a fazer o que não quer. E as consequências disso dizem respeito a cada um.
Às vezes, a gente está dormindo, noutras, a gente está no banheiro, em algumas, a gente está lendo (será que as outras pessoas não fazem isso?), cozinhando, conversando com um amigo, vendo tv, escrevendo, preparando aula ou, simplesmente, não fazendo nada e querendo ficar assim.
Sem falar nas mensagens que chegam dessa maneira: Oi (enter). Tudo bem? (enter). Preciso falar com você! (enter). Tá aí? (enter). Putz, manda logo o que é necessário e pronto.
Aí você responde e a pessoa não dá sequência à conversa que havia inciado antes, ela parte do zero e começa tudo outra vez: Oi. (enter) Tudo bem? (enter). Preciso falar com você! (enter). Tá aí? (enter). Haja paciência e calma pra aguentar esse comportamento.
Fale de uma vez, criatura! Mande a mensagem inteira e depois a gente vê como resolve.
Além disso, que não é pouco, esse comportamento psicótico com os smartphones tem produzido a cada dia mais gente com a necessidade de fazer o check-in em todos os lugares, postar uma fotografia e acompanhar minuto a minuto as curtidas. E, é claro, responder todos os comentários assim que eles entram no novo status.
Se você está sozinho num restaurante. Se está em sua casa sem fazer nada. Mas se você convidou alguém pra almoçar, jantar, tomar um café, por favor, curta a presença do outro, acompanhe minuto a minuto os comentários que estão sendo feitos ali. Do contrário, não seria melhor estar sozinho?
As pessoas não conseguem mais ficar sem ligar o telefone. Seja no cinema, na sala de aula, no almoço, no hospital. Não tem mais hora e lugar. É inacreditável que a maioria não se toque de que se comportando assim você não está em lugar nenhum: nem no mundo virtual nem no mundo real. Se é que existe diferença!
Será mesmo necessário checar se não tem uma nova mensagem a cada dois minutos? A impressão que tenho é a de que a carência tomou conta de todas as relações e você não pode mais estar sozinho. Ficar sozinho é sinônimo de ser esquecido. Ninguém curtir a sua postagem é sinônimo de ser desinteressante.
Tem gente que não se toca dessa dependência. Logo, logo, chegam por aqui as clínicas de reabilitação para tratar da dependência da tecnologia pessoal. Depois a gente não sabe os motivos das nossas crises de ansiedade. Essa necessidade de dar conta de tudo ao mesmo tempo, de estar em todos os lugares e acompanhar tudo o que acontece do Oiapoque ao Chuí. Uma hora o corpo pede socorro. Vamos nos ouvir, pelamordedeus!

Smartphone não é extensão do nosso corpo, gente. Ele é imprescindível, eu sei. Uso muito o meu, mas não confundo a sua função no mundo com os outros prazeres.

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Das músicas que me tocam



Meu
(Djavan)

Você sabe fazer
Tudo o que faz
Nada existe em você
Que eu não goste demais
Quando você diz
Me apaixonei por você, "meu"
Faz a cara feliz
De quem sabe o que é seu
Eu nunca vi nada assim "ô loco"!!!
É como faz o amor
Pra se proteger
Dá um "zignal" na dor
É vetado sofrer
Discordar, discutir
Nada é mais saudável, não, não, não
Um olhar neném de ser
Logo fecha a questão
Eu nunca vi nada assim "ô loco"
Ar, só com você
Mar, com você qualquer fundura dá
Tudo é tão meu
Quando você vem se chegando,
De um modo só seu

sábado, 26 de setembro de 2015

Da Série Contos Mínimos

Em meio a um silêncio ensurdecedor, ele foi despertado ainda de madrugada. Meio acordado, meio dormindo, teve a sensação de estar sendo observado por alguém.

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Da Série Contos Mínimos

Dumont vivia nas nuvens, em algum lugar acima dos outros. Não por arrogância, mas pela ausência de tato para lidar com o mundo real. Fechava-se sempre que o tempo mudava: nem pouso nem decolagem. Ele não arredava o pé. E, emburrado, nem com reza forte mudava o humor. Ele não era fácil, diziam os pais, os avós, os tios, mas ele não entendia o que "difícil" queria dizer.

terça-feira, 22 de setembro de 2015

Das coisas que não acontecem apenas nas crônicas de Fernando Sabino

Chego em casa, depois do trabalho e o meu telefone fixo toca. DDD 51. Não faço a mínima ideia de onde parta a ligação. A única coisa que sei é que vou me arrepender depois de atendê-la. Tenho quase certeza de que no DDD 51 não pode ser nem o meu padrasto, nem o Robson (meu amigo do Rio) os únicos que me ligam no telefone fixo. Mas vou em frente na decisão de matar a minha curiosidade. 
É uma voz que está me oferecendo um Seguro de Vida. Digo-lhe imediatamente que já tenho um, mas a voz não me ouve, a voz apenas fala e fala muito. 
A voz fala sem parar. Sem me dar qualquer espaço pra eu roubar o turno da conversa. Ela me diz entre outras coisas que está me oferecendo um seguro “diferenciado”. E diz DI-FE-REN-CI-A-DO de uma maneira diferenciada. 
Segundo a voz, o tal seguro me oferece vantagens em vida. Diferente de todos os outros que em vida não me oferecem absolutamente NA-DA. “Nada” também sai de uma forma nada parecida com todos os “nadas” que ouvi na vida. 
E começa: vamos supor que o senhor perca um dedo, seja atropelado, quebre a cabeça, seja mordido por um animal (fiquei apavorado com essa possibilidade), tenha um problema que o impeça de andar, por exemplo, e fique, depois disso, com uma sequela pequena... o senhor ganhará R$350.000,000 reais. 
Tento interrompê-la mais uma vez, mas a voz não me ouve. Como eu disse, ela apenas fala e fala muito. 
A voz continua me animando com as vantagens para eu adquirir o tal seguro. A voz me pergunta se sou casado. Eu lhe digo que sim. Percebam que estou dando corda para saber até onde a voz vai. Ela não satisfeita me pergunta quantos filhos eu tenho. Digo que não tenho nenhum. A voz fica um pouco desapontada, mas não a ponto de se despedir. Ela continua: o nosso seguro dá a seus herdeiros um valor de R$350.000,00 caso o senhor MORRA. 
Fiquei muito animado com isso! Eu pago o seguro de vida e deixo para alguém todo esse valor. A voz se mantém firme no seu objetivo e me pergunta se eu costumo viajar. Eu digo que sim. Rio baixinho imaginando o que vem pela frente.
A voz, então, tem mais opções de desgraças para me oferecer: vamos supor que o senhor em uma viagem tenha um ataque do coração, sofra um acidente de carro, um infarto, um derrame, um desmaio que seja. O nosso seguro garante o seu deslocamento para um hospital. 
E os R$350.000,00? Não era a hora dela me oferecer um agrado? Acho que não! Dessa vez, pelo menos, a voz não me ofereceu nada. Era apenas o deslocamento. Mas também querer ganhar essa grana só porque sofreu um ataque do coração...
Eu tento dizer mais uma vez que não estou interessado. A voz continua surda. Bem, a solução foi mesmo simular um desmaio e desligar. Não estou definitivamente interessado nos R$350.000,00 do tal seguro, sobretudo se para recebê-lo seja necessário tanta desgraça prum corpo só. Um corpo é pouco.

domingo, 13 de setembro de 2015

Da Série Contos Mínimos

O peso das horas certas me atormentou durante uma parte da vida. Retirei o relógio do pulso, as pilhas dos relógios das paredes e comecei a prestar mais atenção no minuto disperso da minha existência, porque era apenas isso que eu tinha.

Solidão na velhice...

A solidão na velhice é uma experiência profundamente marcada pela complexidade da existência humana. Com o passar dos anos, os vínculos soci...