Quando eu era bem pequeno e me perguntavam o que eu queria ser quando crescesse, eu prontamente dizia: médico. Não me lembro o porquê dessa resposta. Não havia médico na minha família (acho que nem entre os amigos da família), mas é possível que esta profissão já fosse socialmente reconhecida e eu já tivesse sido interpelado por isso.
Além dessa clássica pergunta, eu tb era questionado sobre gostar mais das loiras ou das morenas. E eu dizia, sem pensar duas vezes, das loiras. As loiras já deviam, mesmo para homens bem pequenos como eu, povoar os sonhos. Eu sequer sabia o que era gostar mais, mas respondia. Talvez eu estivesse pensando que as mais bonitas eram as mais raras e as loiras, no Rio de Janeiro do meu dia a dia, eram praticamente inexistentes ou já tinha ouvido que Os homens preferem as loiras.
Nem médico e nem loiras na minha vida. Quer dizer, médicos periodicamente e loiras, muitas loiras, na minha vida. Não na vida amorosa, mas, principalmente, na profissional: desde as que ocupam os bancos em sala de aula até as que dividem comigo o colegiado do curso de Letras.
Entre médico e loiras ... eu não realizei os meus sonhos de criança. Uma vez eu quis dançar, dancei completamente nessa ideia. Quis cantar e não saí do banheiro. Quis viajar muito e conhecer países exóticos. Exótico foram esses sonhos não realizados.
Fiz coisas que não pensava fazer, mas que me eram possíveis em virtude da minha vida. Filho de professora, neto de professores, sobrinho de professores, a escola, portanto, estava inscrita na minha vida. Professor por gostar muito da Língua Portuguesa.
Não me casei nem com loiros e muito menos com loiras: esta cor de cabelos jamais me chamou atenção.
Entre médico e loiras, a vida deu mil e uma voltas. E ando por aqui, ainda hoje, tentando realizar alguns daqueles sonhos de criança.