terça-feira, 17 de março de 2009

Quente ou frio. Morno? Nunca! (texto)

Existem pessoas que ou são amadas, adoradas, queridinhas ou odiadas ao extremo. Eles produzem no outro nunca a indifereça, nunca o morno, o mais ou menos, mas esses extremos que (i)mobilizam os sentimentos.
A morte de Clodovil me fez pensar hoje sobre isso. Ele despertou amores e ódios por onde passou: nas emissoras de TV's, nos jornais e revistas, na moda (vale lembrar a rivalidade mostrada entre ele e Dener) e, ultimamente, entre os deputados em Brasília: por conta, principalmente, do que acreditava.
Numa entrevista à revista Época, em junho de 2007, ele disse que em sua lápide escreveria: "É preferível afrontar o mundo e servir nossa consciência a afrontar nossa consciência para ser agradável ao mundo." O que ilustra bem como ele se comportava diante de algumas questões.
É claro que não sei se o seu comportamento era uma construção ficcional, se Clodovil era um personagem criado justamente para produzir polêmica. É possível que não fosse, não acho razoável manter por tanto tempo um personagem sem que hora ou outra se tropece nessa contrução e se revele.
Gostaria de lembrar aqui a sua coragem de se expor como homossexual na TV brasileira nos anos 80 não apenas como estilista (porque no campo da moda há uma certa condescendência com a diversidade sexual), mas como apresentador de programas em horários nobres, em um país machista e homofóbico.
Essa exposição, é claro, não condizia, por exemplo, com o que alguns esperavam dele. O Movimento de defesa dos direitos dos homossexuais lhe entregou diversos prêmios debochados por conta de suas declarações ultrarreligiosas e na contramão do movimento. Impossível agradar a gregos e colombianos e o deputado seguia direitinho o manual prescrito do "sou sim, mas sou católico, sou da Globo, sou a madrinha que seus filhos merecem."
Amado ou odiado, mas nunca indiferente. Vai fazer falta no cenário nacional, principalmente na política porque, nesse campo, sempre é preferível não se mostrar como se é.

2 comentários:

  1. Concordo, Alexandre. Acho que Clodovil prestou, ao seu modo, serviços à sociedade brasileira.

    ResponderExcluir
  2. Concordo com o comentário acima e acredito que fez tudo que fez estando bem consigo mesmo!

    ResponderExcluir

Solidão na velhice...

A solidão na velhice é uma experiência profundamente marcada pela complexidade da existência humana. Com o passar dos anos, os vínculos soci...