É claro que a história de Bernardo, o garoto de 11 anos, assassinado no RS, me tocou profundamente. Se tudo o que está sendo dito na mídia sobre o caso for verdade, acho que muita gente anda se sentindo culpada pelo desfecho trágico dessa história: os vizinhos, os amigos mais próximos, os empregados da casa, os professores, as autoridades, enfim, todos que sabiam que algumas coisas estavam erradas, mas que, por algum motivo, não se meteram como deviam na vida dos outros. Ver coisas erradas e não fazer absolutamente nada, me desculpem, é conivência.
Numa rápida retrospectiva: em novembro de 2013, a notícia de abandono afetivo de Bernardo chegou à vara da Infância e da Juventude e foi aberto expediente para apurar o caso. Bernardo era alvo de comentários na cidade.
Em dezembro, o Centro de Assistência Social entregou à promotoria um relatório dizendo que o garoto dormia na casa de conhecidos e tinha desavenças com a madrasta. Passava sábados e domingos na rua. Era alimentado pelos vizinhos.
No dia 24 de janeiro, Bernardo se dirigiu, sozinho, ao fórum de Três Passos, onde funciona o Centro de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente, e contou das ofensas da madrasta, da falta de atitude do pai e de sua vontade de morar com outras pessoas. Foi levado para falar com a promotora Dinamárcia Maciel de Oliveira. Confirmou a sua própria história.
A promotora deu início a ação na Justiça pedindo que a guarda provisória fosse dada para a avó materna. O juiz preferiu marcar uma audiência com o pai, ocorrida em fevereiro. Leandro, o pai e suspeito de participar do assassinato, quis mais uma chance. Bernardo aceitou.
No dia 7 de abril, quando soube do desaparecimento, a promotora pediu que a guarda fosse dada para a avó. Mas o juiz determinou que, assim que ele fosse encontrado, ele deveria ser encaminhado a um lar, pois faltavam elementos que comprovassem que a avó poderia assumir a guarda. Tarde demais!
Tragédia descoberta, começa a pipocar na mídia os relatos de todos que sabiam alguma coisa mas não fizeram nada. Vale sempre o ditado "em briga de marido e mulher...". Há momentos em que deve prevalecer a indignação acima de qualquer outro sentimento. Se os próximos tivessem se indignado de verdade...o desfecho poderia ser outro.
Ouvi relato da ex-babá de que madrasta havia tentado sufocá-lo, mas por alguma razão, medo, talvez, de sofrer alguma represália, não contou essa história a ninguém. Bem, agora é tarde, né. Pelo menos para Bernardo.
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