É um espetáculo curioso: a vida oferece soluções práticas — simples como um copo de água — mas eles preferem o deserto. Andam quilômetros reclamando de sede, com a garrafinha na mão, só para poder narrar a epopeia. O problema deixa de ser obstáculo e vira personagem principal de uma novela em que eles mesmos escrevem e protagonizam cada capítulo.
E quando alguém sugere uma saída, é como estragar o roteiro. A solução, para eles, tem gosto de spoiler: arruína a trama, desmonta a catarse. Melhor manter a ferida aberta, porque dá mais likes, rende consolo, produz aquele ar de “sou incompreendido”. Resolver seria um atentado contra o drama cuidadosamente ensaiado.
Assim, convivemos com uma legião de adultos que reinventaram o dedo preso que não está preso: retiram quando querem, voltam a colocar só para gritar, e fazem disso o enredo eterno. O curioso é que, sem perceber, acabam aprisionados não pela porta, mas pelo prazer de continuar reclamando dela.
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