terça-feira, 19 de agosto de 2025

Quando o choro vale mais que a solução


Há adultos que tratam seus problemas como se fossem relíquias de família. Guardam, exibem, dão nome, passam de geração em geração. Quando alguém sugere que talvez fosse hora de resolver, a reação é quase de indignação: “como assim, jogar fora minha preciosidade?”. Afinal, sem os dramas cuidadosamente cultivados, o que restaria para contar nos almoços de domingo?

É um espetáculo curioso: a vida oferece soluções práticas — simples como um copo de água — mas eles preferem o deserto. Andam quilômetros reclamando de sede, com a garrafinha na mão, só para poder narrar a epopeia. O problema deixa de ser obstáculo e vira personagem principal de uma novela em que eles mesmos escrevem e protagonizam cada capítulo.

E quando alguém sugere uma saída, é como estragar o roteiro. A solução, para eles, tem gosto de spoiler: arruína a trama, desmonta a catarse. Melhor manter a ferida aberta, porque dá mais likes, rende consolo, produz aquele ar de “sou incompreendido”. Resolver seria um atentado contra o drama cuidadosamente ensaiado.

Assim, convivemos com uma legião de adultos que reinventaram o dedo preso que não está preso: retiram quando querem, voltam a colocar só para gritar, e fazem disso o enredo eterno. O curioso é que, sem perceber, acabam aprisionados não pela porta, mas pelo prazer de continuar reclamando dela.

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