É claro que cada um diz e pensa o que pode. Não tenho mesmo dúvidas disso. Pensa do lugar que ocupa diante de qualquer que seja a situação, a questão, o problema.
Hoje, uma amiga reproduziu, no Facebook, uma entrevista (acesse a entrevista clicando ao lado) da diretora do Filme Que horas ela volta?, Anna Muylaert, sobre o machismo e o lugar da mulher no cinema.
Uma boa oportunidade pra gente pensar sobre o machismo que se enraíza de tal forma na sociedade que pouco nos damos conta dele. Ele, o machismo, está nos lugares mais improváveis. Nas situações menos perceptíveis porque de tão natural passa quase sempre sem ser percebido.
É normal, está cristalizado, é natural e aí senti-lo ou percebê-lo é um grande exercício.
Bem, um casal (uma mulher e um homem) está num restaurante e pede ao garçom uma cerveja e um refrigerante. O garçom, naturalmente, serve a mulher com o refrigerante e o homem com a cerveja. Ou, um grupo de homens e mulheres pede vinho e o garçom, ele outra vez (!), dá a um dos homens o vinho pra ser provado. Essas duas situações foram vivenciadas por mim. Bem, eu normalmente não bebo cerveja e entendo de vinho tanto quanto entendo de física quântica. Física o quê?
Isso não é simplesmente um descuido (ou "um errinho") ou uma falta de sensibilidade, como diriam uns. É o reflexo de uma sociedade em que o homem ocupa um lugar de superioridade em relação à mulher.
Somente ele poderia pedir, nesse caso, a cerveja. Ou, apenas eles, os homens do grupo, seriam bons conhecedores de vinho. Mulher na companhia de um homem somente o refrigerante poderia ser pra ela.
Bem, aqui estou apenas pontuando a postagem da amiga e os comentários que se seguiram.
Não me lembro de ouvir (tenho 50 anos) alguém ofender um homem chamando-o de "histérico, velho e feio" ou ainda dizer que ele é mal-humorado por que é "mal comido", que age assim ou assado porque "não tem uma mulher" que dê conta dele. Praticamente impossível ouvir e ler determinadas construções acompanhando comportamentos de homens.
Somos tratados de maneira diferente das mulheres. Eu percebo isso no meu dia a dia. Bem, fui criado com uma liberdade que duvido muito fosse eu mulher a tivesse. Mesmo em ambientes ditos menos preconceituosos, ainda percebo homens ocupando lugares pouco ocupados por mulheres.
Dou aulas numa universidade e apenas 1 vez, nesses 22 anos de UNIOESTE, uma mulher ocupou o lugar de reitora da instituição. Por que será? A Pró-Reitoria de Pesquisa (dentre as Pró-Reitorias, esta tem um destaque muito grande: dentro e fora das universidades) em geral é ocupada por homens mesmo que a experiência com uma mulher que a ocupou (nessa mesma instituição) pelo menos uma vez fosse cem vezes mais produtiva. "Mulheres se ocupam de funções com menos responsabilidades", ou "Não são boas administradoras", ou ainda "São muito delicadas para resolverem questões mais sérias ou grandes problemas."
E isso muito provavelmente se repete em outros lugares. Sabemos que mulheres que desempenham a mesma função que homens ganham menos.
Sabemos tb que homens são educados para serem pegadores (dia desses um amigo escreveu, tb no Facebook, que educa o seu filho para ser "macho-alfa") (vou ali rir e já volto) e mulheres ainda são educadas para obedecer: seja o irmão mais velho, seja o pai, seja o marido.
Dias melhores virão, não tenho dúvida, mas isso não pode querer dizer que a gente não possa/deva se dá conta de que muita coisa precisa ainda mudar (mesmo que muita coisa já tenha mudado).
O nosso papel como professor, pai, mãe, cidadão é contribuir para que as mudanças se solidifiquem: que homens e mulheres sejam tratados, educados da mesma maneira. A partir disso teremos um mundo mais justo e melhor pra todo mundo! Só assim podemos falar em oportunidades iguais, pelo menos em se tratando de gênero.
Nenhum comentário:
Postar um comentário