A autohomofobia é um fenômeno que carrega em si a violência de um sistema opressor introjetado no sujeito. É o resultado de uma sociedade que constrói o desejo como algo normativo e punível quando escapa às regras impostas. O sujeito, interpelado por discursos homofóbicos, internaliza a rejeição à sua própria sexualidade, gerando um conflito profundo entre o que sente e o que acredita que deveria ser. Essa rejeição não apenas fere sua relação consigo mesmo, mas também mina a possibilidade de viver um amor pleno e sincero com o outro. Amar, nessas condições, torna-se um campo de batalha onde o desejo é ao mesmo tempo força vital e terreno de culpa.
Quando o amor do outro é sabotado, ele alimenta a narrativa interna da autohomofobia. Na tentativa de se proteger de julgamentos externos, o sujeito projeta sua própria rejeição no parceiro, na relação ou até na ideia de amar. O outro passa a ser um espelho do desejo que não se pode assumir, um lembrete doloroso do que a sociedade condena. O amor, que poderia ser espaço de encontro e cura, é transformado em mais uma arena de negação e autoagressão. O sujeito fere o outro na tentativa de sufocar em si mesmo aquilo que acredita não ter o direito de existir.
Romper esse ciclo exige um enfrentamento das ideologias que sustentam a autohomofobia e uma reconstrução discursiva do desejo. Reconhecer que o amor é possível, legítimo e humano é o primeiro passo para quebrar as correntes do ódio internalizado. Não se trata de uma mudança simples, mas de um processo de desconstrução de um sistema de sentidos que organiza o sujeito contra si mesmo. Amar o outro sem destruir o que ele representa só será possível quando o sujeito começar a amar a si mesmo como é, reescrevendo sua história e resistindo aos discursos que o interpelam como alguém que deve negar sua própria existência.
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