Escrever, para mim, é uma forma de escuta. Não apenas uma escuta do mundo, mas sobretudo uma escuta de mim mesmo. Quando escrevo, as palavras que surgem na tela muitas vezes me surpreendem, como se viessem de um lugar que eu não alcançaria apenas pensando em silêncio. É como se ao escrever eu me colocasse frente a frente comigo — com minhas hesitações, meus desejos, minhas contradições. O ato de escrever se torna, assim, uma espécie de espelho que não reflete o que já sei, mas o que preciso descobrir.
Essa escrita que me escuta é também uma forma de me pensar mais. Não se trata de organizar ideias de modo linear ou concluir algo definitivo, mas de ir tateando sentidos, desmontando certezas, redesenhando percepções. O movimento das palavras na tela do computador acompanha o movimento do meu pensamento, que muitas vezes só se deixa ver por meio da linguagem. Escrever me obriga a pausar, a olhar com mais cuidado para o que passa dentro de mim — como se a língua me exigisse um mergulho mais lento, mais atento, mais comprometido com o que pulsa.
Além disso, escrever é o modo mais potente que conheço de me conectar com o que sinto e penso. Há sentimentos que só consigo nomear depois que escrevo sobre eles. Há pensamentos que só se tornam claros quando ganham forma escrita. A escrita me dá essa possibilidade de atravessar o emaranhado da vida interna e torná-lo, ao menos por instantes, visível. Ela me ajuda a perceber os deslocamentos, as insistências, os silêncios que também falam — e que dizem tanto sobre mim quanto as palavras que consigo enunciar.
Escrever, por fim, é uma maneira de refletir sobre quem sou e sobre o lugar que ocupo no mundo. É um exercício de subjetivação, de posicionamento, de escavação do próprio dizer. Quando escrevo, me coloco como sujeito atravessado pela história, pela ideologia, pelas experiências que me constituem. O que escrevo não é neutro, nem transparente — carrega marcas, filiações, afetações. E é nesse processo que, ao mesmo tempo em que escrevo, também sou escrito: pela língua, pelo tempo, pelos sentidos que me atravessam.
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