A música Sanar, de Jorge Drexler, é um delicado exercício de poesia sonora que atravessa afetos com rara sensibilidade. A melodia suave e a interpretação contida realçam a profundidade que fala das dores do amor, da perda e da necessidade de cura. A beleza da canção reside justamente na capacidade de dizer o indizível — aquilo que escapa à razão, mas que atravessa a existência: o nascer e o morrer dos sentimentos, a finitude que nos constitui. Drexler escolhe as palavras com precisão quase cirúrgica, como quem tateia com cuidado uma ferida aberta, sem jamais perder a ternura. Sanar não promete salvação, mas propõe acolhimento; não esconde a dor, mas a humaniza.
Os versos “Y nadie sabe por qué un día el amor nace / Ni sabe nadie por qué muere el amor un día” são um mergulho no mistério do amor como acontecimento — ele irrompe sem aviso e desaparece sem explicação, como força que escapa ao domínio da vontade. E quando Drexler completa com “Y nadie nace sabiendo, nace sabiendo / Que morir también es ley de vida”, ele nos convida a reconhecer que a morte — seja ela simbólica, afetiva ou literal — está inscrita na própria condição de viver. Há aí uma sabedoria melancólica que reconhece o limite do saber e da linguagem, mas que, paradoxalmente, nos aproxima ainda mais da experiência compartilhada de sermos humanos. O que está em cena é a beleza da fragilidade e da incerteza, que só um artista como Drexler é capaz de transformar em canto.
Sanar (Jorge Drexler)
Las lágrimas van al cielo y vuelven a tus ojos desde el marEl tiempo se va, se va y no vuelveTu corazón va a sanarVa a sanar, va a sanar
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