Há uma promessa que atravessa muitos dos nossos desejos: a de que, em algum momento, algo ou alguém virá preencher um vazio que sentimos, dará sentido à vida, trará completude. Essa promessa, no entanto, é uma armadilha. Ela se sustenta na fantasia de que haveria uma peça faltando que, ao ser encontrada, resolveria a angústia. Mas o que nos constitui como sujeitos não é a completude, e sim essa falta — estrutural, insistente, inassimilável — que nos move, que nos faz desejar, que nos faz buscar.
O discurso amoroso, o consumo, a promessa religiosa, o sucesso profissional — todos esses lugares nos oferecem imagens de plenitude. E é fácil, muito fácil, cair nessa sedução. Há sempre um objeto a ser conquistado, uma pessoa a ser amada, um ideal a ser alcançado que, supostamente, nos tornaria finalmente inteiros. Mas ao nos lançarmos a essas promessas, o que muitas vezes encontramos é a repetição de um mesmo vazio, de uma mesma incompletude que retorna, por mais que o objeto mude.
Essa repetição não é um fracasso pessoal. Ela é da ordem da condição humana. Lacan nos lembrou que o desejo não é desejo de um objeto, mas desejo de desejo. E isso quer dizer que o que buscamos não é algo que nos complete, mas o próprio movimento de desejar. Toda tentativa de preencher a falta com um objeto concreto — uma pessoa, um cargo, uma posse — se revela, cedo ou tarde, insatisfatória. E é nesse ponto que muitos se frustram, achando que erraram de objeto, quando, na verdade, o equívoco é esperar que a falta se resolva.
Talvez seja mais honesto, e mais libertador, reconhecer que não se trata de eliminar a falta, mas de habitá-la. Viver com ela, escutá-la, fazer dela um ponto de criação. A falta, afinal, nos faz escrever, amar, errar, recomeçar. Não há alguém ou algo que venha nos completar, e tudo bem. Porque é justamente essa fenda que nos torna humanos, singulares, inacabados — e, por isso mesmo, vivos.
Inspirador, nunca chegaremos à completude. O que nos acompanha é o desejo de sempre buscar algo e o tédio de possui-lo posteriormente.
ResponderExcluirProfundamente lindo! Poucas palavras que falam carinhosamente com as nossas faltas! Minhas faltas lhe agradecem
ResponderExcluira generosidade em ofertar um texto tão certeiro!