sábado, 23 de agosto de 2025

Meu toc, minhas regras

Eu queria ser do tipo que escreve em meio ao caos. Pilhas de louça na pia, roupas no chão, vizinho berrando, cachorro latindo. Mas não: se a caneta não está alinhada com o caderno, já sinto que o universo conspira contra mim. Para escrever, preciso de cenário de catálogo: mesa limpa, música suave, tudo sob controle.

É patético, eu sei. Enquanto alguns transformam a bagunça em inspiração, eu fico refém de uma organização neurótica. O caos me intimida, ele é, definitivamente, mais inteligente do que eu. Fico pequeno diante dele, incapaz de lutar.

Talvez seja covardia. Talvez seja frescura. Mas o fato é que só consigo escrever quando, ao redor, tudo está domado. A desordem grita mais alto do que qualquer ideia que eu poderia ter. E, convenhamos, competir com ela é batalha perdida.

Então, que me julguem. Eu arrumo, eu limpo, eu organizo. E só depois escrevo. Porque, se o mundo lá fora insiste em ser um pandemônio, ao menos dentro da minha mesa eu quero a ilusão de que mando em alguma coisa.

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