O tempo que temos não é um estoque guardado numa prateleira, é um fio que se desenrola sem pausa, sem manual de instruções e sem devoluções. A vida não entrega extrato bancário com saldo de anos restantes, só a conta corrente do tempo de agora. É nesse espaço curto entre o ontem e o amanhã que nunca se garante que a gente precisa decidir o que vale viver.
Há quem viva acumulando promessas e adiando alegrias, como quem guarda vinho caro para um brinde. O tempo é mais malandro que isso. Ele não pede licença, não avisa quando muda de marcha, apenas segue. E nós, ao ficamos esperando demais, acabamos sendo passageiros distraídos, reclamando do percurso sem notar a paisagem.
O curioso é que a vida insiste, mesmo nos dias mais banais. Há uma pulsão alegre que se manifesta em coisas pequenas: a risada torta, o café bem tirado, a música que gruda no ouvido e muda o humor. Talvez viver seja aprender a fazer festa com essas miudezas, porque o grande espetáculo pode até não acontecer. A força está em continuar, em seguir inventando motivos para não se entregar ao enfado.
E se sobra a pergunta sobre quanto tempo resta, talvez a resposta seja outra: o que você quer colocar dentro desse tempo que sobra? Porque não é a quantidade de anos que importa, é a qualidade dos instantes que cabem neles. O relógio corre, e a única tática possível é rir de vez em quando da pressa dele, abrir espaço para o inesperado e, quem sabe, viver como se cada dia fosse uma pequena edição limitada.
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