Há dias em que me pego pensando se o WhatsApp é mesmo um aplicativo de mensagens ou um portal interdimensional que suga o tempo, a paciência e, às vezes, a sanidade. Basta um segundo de distração — um café, um olhar pela janela, um suspiro — e lá vem ele vibrando de novo, com aquele plim insistente que parece dizer: “Não se iluda, ainda há algo a resolver!”. São mensagens que pedem, cobram, informam, lembram, perguntam, reenviam e atualizam. É como se o universo inteiro tivesse decidido se comunicar comigo ao mesmo tempo, e todos achassem que seu assunto é urgente.
Há o aluno que manda o trabalho, o mesmo que, cinco minutos depois, reenvia “a versão atualizada” — como se o tempo de leitura fosse elástico. Há quem peça confirmação de leitura, quem se desculpe por não vir à aula e quem diga que mandou mensagem e não recebeu resposta (como se o silêncio fosse uma ofensa pessoal). E eu ali, tentando organizar o pensamento entre uma mensagem e outra, enquanto o WhatsApp parece rir de mim: “você achou que ia descansar? Que graça!”.
Vivemos uma era do pra ontem, do “vi que você visualizou”, do “responde quando puder (mas eu sei que você pode agora)”. É o culto da urgência disfarçado de comunicação. A conversa já não é mais diálogo, é maratona. A cada resposta, nascem outras dez perguntas. A cada esclarecimento, surge um novo pedido de explicação. O aplicativo virou o espelho da nossa ansiedade coletiva: o medo de esperar, de perder, de ficar de fora. É o imediatismo em forma de balãozinho verde.
E no fim, entre um “bom dia, prof!” e um “segue o arquivo revisado”, percebo que o WhatsApp é um buraco sem fundo — e nós somos os equilibristas tentando manter um pouco de sossego na beira do abismo digital. Ainda não inventaram um botão de “modo contemplativo”, mas eu sigo sonhando com ele. Até lá, sigo respondendo, rindo e suspirando, enquanto o plim ecoa, incansável, no fundo do meu bolso e, confesso, também na minha cabeça.
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