quinta-feira, 18 de dezembro de 2025

Das presenças que moldam a memória com afeto


                (Da esquerda à direita - tio Teófilo, meu avô Alberto, minha mãe, Heloísa, e eu, tio Carlinhos e tia Maria)


Há pessoas que atravessam a nossa infância e ficam para sempre. Meu tio Carlinhos foi uma dessas presenças que moldam a memória com afeto, riso e cuidado.

Ele era o homem divertido, gente boa, aquele que chegava trazendo blocos de papel para que eu pudesse desenhar e escrever. Pequenos gestos que, com o tempo, ganham um tamanho imenso. Durante um período da vida, ele, minha mãe — irmã dele — e eu moramos juntos. A casa era também esse espaço de convivência simples, de cumplicidade cotidiana, de aprendizados silenciosos.

Era ele quem me levava para cortar os cabelos. Às vezes dizia, meio em brincadeira, meio a sério, que era meu pai (para as moças desconhecidas). Minha mãe gostava demais dele. Eu também. Havia ali um laço forte, feito de cuidado, presença e afeto compartilhado.

Falei com ele pela última vez em outubro. A mensagem chegou do jeito que sempre foi: afetuosa, generosa. Ele me chamou de “amigo, amigão do peito”. Desejamos saúde um ao outro, falamos da vida (de lá e daqui), combinamos uma visita para janeiro. Essa visita ficou no tempo que não se cumpre. Ele se foi antes.

A tristeza é enorme. Uma dor funda, dessas que apertam o peito e silenciam o dia. Mas junto dela caminha uma alegria igualmente grande: a de ter convivido com ele por tanto tempo, de ter sido cuidado, acompanhado, amado e, sobretudo, de aprender o que é o amor da gente para o outro. Há perdas que doem justamente porque foram precedidas de muito amor.

Fica a saudade, que agora se soma à memória. Fica o riso fácil, a mão estendida, os blocos de papel, o caminho até a barbearia, o jeito de chamar que aquecia o coração. Fica, sobretudo, a gratidão por tudo o que foi vivido.

Algumas pessoas partem, mas continuam presentes. Meu tio Carlinhos é uma delas.

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