Há momentos em que a gente compra coisas que não precisa tanto assim. Um objeto, uma roupa, um jantar fora, algo que chega como promessa de alívio. Não se trata de excesso ou falha de caráter. Trata-se de um gesto comum, quase banal, de tentar se sentir um pouco melhor consigo mesmo. O consumo, nesses casos, encosta menos na utilidade e mais na sensação de valer alguma coisa naquele instante.
Quando o dinheiro entra em cena, ele carrega muito mais do que poder de compra. Ele traz junto sinais de pertencimento, de reconhecimento, de estar à altura do que o mundo parece exigir. Gastar, presentear-se ou exibir algo novo pode produzir uma sensação breve de acolhimento, como se o sujeito fosse visto, validado, incluído. O afeto não está no objeto, mas no que ele permite encenar socialmente.
Essa busca não acontece porque as pessoas são vazias ou fúteis. Ela aparece quando o valor de si anda abalado, quando algo falha no trabalho, nas relações ou na própria imagem. O consumo entra como um remendo provisório, uma tentativa de recompor o ânimo, de sustentar a própria dignidade diante de um cotidiano que cobra demais e oferece pouco retorno afetivo.
O problema começa quando esse remendo vira rotina e a sensação boa dura cada vez menos. O circuito se repete, o alívio encurta, e o gesto precisa ser refeito. Não há vilões nem heróis nesse movimento. Há sujeitos tentando se manter de pé em um mundo que traduz amor, sucesso e reconhecimento em cifras, vitrines e curtidas, deixando pouco espaço para outras formas de sustentar o próprio valor.
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