quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Histórias de Heloísa (textos)

Minha mãe tinha um amigo que tb era professor. Ah, morávamos no mesmo bairro, no Rio. Quase todos os dias antes de ele ir trabalhar, dava uma passadinha lá em casa para uma conversa bem rápida, um cafezinho, um oi apenas. Acontece que ele era um pouco tímido e, quando não tinha mais o que dizer, ele batia levemente com um dos dedos no braço do sofá. Umas batidas bem delicadas. Isso era o suficiente pra minha mãe encenar, em qualquer ocasião em que nós (eu e ela) tivéssemos conversando, essa maneira de sinalizar que o assunto tinha acabado.
É claro que, como sempre, tudo era exagerado, ao invés de pequenas pancadas no braço no sofá, ela batucava como se estivesse tocando um pandeiro (com batidas fortes e compassadas) e finalizava como se estivesse numa apresentação tirando o último som do instrumento.
Ríamos muito porque sabíamos que aquilo era uma espécie de código entre nós: se faltava assunto, tínhamos o braço do sofá.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Claude Lévi-Strauss (1908-2009)

Foi anunciada nesta terça-feira (3) a morte do antropólogo Claude Lévi-Strauss. A informação é da editora do intelectual, pela qual o falecimento teria ocorrido entre sábado e domingo. Criado em Paris, ele nasceu em Bruxelas em 28 de novembro de 1908. Fundador da Antropologia Estruturalista, é considerado um dos intelectuais mais relevantes do século 20.
Membro de uma família judia francesa intelectual, Lévi-Strauss estudou Direito e Filosofia na Sorbonne, em Paris. Lecionou sociologia na recém-fundada Universidade de São Paulo (USP), de 1935 a 1939, e fez várias expedições ao Brasil central.
Passou breves períodos entre os índios bororós, nambikwaras e tupis-kawahib, experiências que o orientaram definitivamente como profissional de antropologia.
Após retornar à França, em 1942, mudou-se para os Estados Unidos como professor visitante na New School for Social Research, de Nova York, antes de uma breve passagem pela embaixada francesa em Washington como adido cultural.
Fez parte do círculo intelectual de Jean Paul Sartre (1905-1980), e assumiu, em 1959, o departamento de Antropologia Social no College de France, onde ficou até se aposentar, em 1982. Lévi-Strauss passou mais da metade de sua vida estudando o comportamento dos índios americanos.
Jamais aceitou a visão histórica da civilização ocidental como única. Enfatizava que a mente selvagem é igual à civilizada.
As contribuições mais decisivas do trabalho de Lévi-Strauss podem ser resumidas em três grandes temas: a teoria das estruturas elementares do parentesco, os processos mentais do conhecimento humano e a estrutura dos mitos.
Aos 97 anos, em 2005, recebeu o 17º Prêmio Internacional Catalunha, na Espanha. Declarou na ocasião: "Fico emocionado, porque estou na idade em que não se recebem nem se dão prêmios, pois sou muito velho para fazer parte de um corpo de jurados. Meu único desejo é um pouco mais de respeito para o mundo, que começou sem o ser humano e vai terminar sem ele - isso é algo que sempre deveríamos ter presente".

Bibliografia publicada no Brasil

  • As Estruturas Elementares do Parentesco (Vozes, 2003)

  • Antropologia Estrutural (Vol. 1) (Cosac Naify, 2008)

  • Antropologia Estrutural (Vol. 2) (Tempo Brasileiro, 1993)

  • O Pensamento Selvagem (Papirus, 2005)

  • Sociologia e Antropologia, de Marcel Mauss (introdução de Claude Lévi-Strauss, Cosac Naify, 2003)

  • O Cru e o Cozido - Mitológicas (Cosac Naify, 2004)

  • Do Mel às Cinzas - Mitológicas (Cosac Naify, 2005)

  • A Origem dos Modos à Mesa - Mitológicas (Cosac Naify, 2006)

  • O Homem Nu - Mitológicas (Cosac Naify, 2009)

Bastardos Inglórios (filme)

Assisti pela segunda vez Bastardos Inglórios de Tarantino. Ele mistura linguagens, épocas e escolas - que praticamente desaparecem no resultado, tornando-se algo bem pessoal
Tarantino apanha todas as coisas que lhe são queridas, com as quais cresceu, e as transforma. Ele já fez isso muitas vezes, mas em Bastardos busca uma certa organização sutil separando os gêneros através de uma organização em capítulos.
A história começa na França ocupada pelos nazistas, onde Shosanna Dreyfus (Laurent) testemunha a execução de sua família pelas mãos do coronel nazista Hans Landa (Christoph Waltz merecia uma crítica à parte). Enquanto isso, também na Europa, o tenente Aldo Raine (Pitt) inferniza ao lado de seu grupo de soldados-judeus os nazistas. Conhecido por seus inimigos como Os Bastardos, o esquadrão de Raine se junta à atriz alemã e agente infiltrada Bridget Von Hammersmark (Diane Kruger. Excelente, por falar nisso.) em uma missão para derrubar os líderes do Terceiro Reich.
Inteligente, ainda que mantida rigorosamente simples, a trama investe nos atores - e a direção de elenco é a melhor da carreira já celebrada por essa característica de Tarantino.
Christoph Waltz, ator austríaco, não dá chance a quem quer que divida a cena com ele. Seu vilão é tão sensacional que Bastardos Inglórios torna-se, sem querer, quase como um filme do Batman, em que são os antagonistas que valem o ingresso. Brad Pitt? Bom e caricato, como o filme exige. Mas Waltz está simplesmente em outra esfera de talento. Caricaturas, aliás, são o pão-com-manteiga do filme.
É divertida a maneira como Tarantino conscientemente reduz personagens aos seus estereótipos conhecidos (o americano caipira e bruto, a francesa blasé, o inglês supereducado, os nazistas engomadinhos...) para economizar tempo em explicações e construção de personagens.
O cinema de Tarantino tem uma violência anestésica. Ele consegue transformar o "gore" em "cool" dentro de determinados públicos. Mas fica o aviso - há quem tenha criticado duramente a produção por conta disso, gente que considera Tarantino um eterno adolescente fascinado com seus brinquedos. Sem pena, mata a mocinha, o mocinho, mata quem quiser.
Tarantino é mesmo inconsequente - mas enquanto tiver seu público cativo, formado por gente como ele, seguirá em seu mundinho. Eu, pelo menos, agradeço.


segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Uma Alegria para Sempre (Quintana)

As coisas que não conseguem ser olvidadas continuam acontecendo.
Sentimo-las como da primeira vez,
sentimo-las fora do tempo,
nesse mundo do sempre onde as datas não datam. Só no mundo do nunca
existem lápides... Que importa se
depois de tudo – tenha "ela" partido, casado, mudado, sumido, esquecido, enganado, ou que quer que te haja feito, em suma? Tiveste uma parte da
sua vida que foi só tua e, esta, ela
jamais a poderá passar de ti para ninguém.
Há bens inalienáveis, há certos momentos que,
ao contrário do que pensas,
fazem parte da tua vida presente
e não do teu passado. E abrem-se no teu
sorriso mesmo quando, deslembrado deles,
estiveres sorrindo a outras coisas.
Ah, nem queiras saber o quanto
deves à ingrata criatura...
A thing of beauty is a joy for ever
disse, há cento e muitos anos, um poeta
inglês que não conseguiu morrer.

(Mario Quintana)

No morro do Macaco (texto)

Fabiano Atanásio da Silva, o FB, que comandou a invasão do morro do Macaco, estava preso e foi beneficiado pelo regime de prisão-albergue, isto é, teve o direito de sair do presídio para trabalhar e voltar à noite. Saiu e não voltou, mesma novela.
No que mesmo que o FB trabalhava? Pois é, no tráfico, e, é claro, teve licença para voltar ao trabalho. Se Fabiano foi condenado por ser chefe do tráfico naquela favela, a que trabalho o juiz, acha que ele iria se dedicar?

Brincando de Playmobil (texto)

Depois de tudo o que se viu, se ouviu sobre a violência na cidade do Rio de Janeiro, o prefeito, Eduardo Paes (PMDB), teve uma brilhante ideia: promover corridas de Fórmula Indy no Aterro do Flamengo, área de lazer que ostenta exemplares da mata brasileira, plantados por Burle Marx. Parque no meio de um grande bairro residencial.
Aí fiquei pensando, por que é que as "grandes ideias", do Eduardo Paes (e de quase todos os outros (im)prefeitos, (des)governadores da cidade) são sempre nesse sentido? O espetáculo, o show? Por que é que eles não se juntam para resolver os grande problemas da cidade? Continuamos com os mesmos hospitais (apesar das promessas), com a mesma educação (apesar das promessas), com a mesma polícia (apesar das promessas), com os mesmos problemas de décadas e o prefeito brincando de playmobil.
Minha culpa! Minha culpa! (não exatamente minha, porque não votei nesse cara).
Até quando vamos engolir todos esses sapos, lagartos?

Os dias voam (texto)

Nem me dei conta de que depois de outubro já era novembro. Os dias passaram numa ligeireza daquelas. E sobre a minha mesa os trabalhos multiplicam-se. Só a vontade de lê-los é que não anda no mesmo ritmo. Pena, né?! Se eu pudesse já estaria de férias numa praia bem deserta, bem silenciosa. Apenas na companhia de literatura: preciso reler alguma coisa e tb terminar alguns livros que foram iniciados, mas que as aulas não me deixaram vencê-los. Nada de AD, nada de linguística, nada de sujeito (tudo mentira, porque isso tb me faz bem). Mas SE não é o caso, ainda temos muitas coisas pela frente aqui na universidade: disciplinas por fechar (o que significa, aulas e avaliações), vestibular, vestibular-indígena, concursos públicos, textos do PDE, relatórios de todos os lugares, TCC dos alunos. E o João (meu chefe) não sossega, sempre inventa mais alguma coisa. Paciência, é até bom. Que ele não leia isso, porque tb não é tão bom assim.
Final de semana prolongado e mesmo assim não dei conta de tudo. A casa nao está mais fora do lugar (Fátima me deu ordem para sair da net e por ordem na bagunça). São Longuinho me deu uma força e encontrei os trabalhos dos alunos. É isso, depois do café, trabalho.

Solidão na velhice...

A solidão na velhice é uma experiência profundamente marcada pela complexidade da existência humana. Com o passar dos anos, os vínculos soci...