quarta-feira, 21 de julho de 2010

O luto (texto)

Não me atrevo a escrever sobre as dores de ninguém, sobre as dores do mundo, como disse Caetano, cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é. No entanto, ao falar da nossa dor, podemos, de certa forma, tangenciar a dor do outro e quem sabe, essa seria mesmo a intenção, ajudar um pouco.
Perder alguém não é fácil, seja lá como essa perda tenha acontecido: seja causa natural ou não. Seja um ente jovem ou mais velho, sadio ou doente, pouco importa. Perder sempre é, por mais que a gente compreenda que o sofrimento do amado(a) não seja pouco, dolorido demais.
Não temos respotas, ou, se temos algumas para essas nossas perdas, elas, às vezes, são insuficientes ou incapazes de aliviar essa dor. Podemos buscar respostas nas religiões, e acho que são lugares para se encontrar algum conforto.
Além disso, o tempo é sábio. Ele não mata a saudade, não diminui as distâncias, mas nos faz reorganizar sozinhos, quase sempre, aquele momento que nos parecia sem fim.
Queremos entender o porquê. Gostaríamos de ter explicações que nos aliviassem. Precisamos compreender o que aconteceu. Mas, de imediato, nada faz sentido. Temos muitas perguntas e quase nenhuma resposta.
Um dia, outro dia, a primeira semana, o primeiro mês, as noites mal dormidas, os pesadelos, os sonhos, o silêncio, a dor que se sente na alma, aquela vontade de um sinal. Tudo isso é passagem para aquele que perde alguém que ama.
Procurar ajuda profissional tb é importante, sobretudo para que a gente possa, aos poucos, nos ouvir e pensar sobre o que estamos fazendo aqui, nessa vida.
Os amigos tb são importantes. Os amigos sempre são importantes. O silêncio desses amigos, o abraço, a companhia, um olhar apenas faz muita diferença nesse momento.
O que acho importante, por mais que a gente tenha a sensação de precisar fazer, é não se isolar. Não me refiro a ficar sozinho, isso tb faz parte do luto. Mas o isolamento não é bom (é claro que estou legislando sobre mim).
Pode falar sobre a perda faz diferença. Acho que já escrevi aqui (neste e em outros posts) diversas vezes sobre essa necessidade. E ter fé (porque vivemos dela, mesmo que não sejamos religiosos) no outro dia, acreditar que se vai conseguir forças para refazer (no sentindo da tranquilidade) essa nossa história.

domingo, 18 de julho de 2010

O Medo de Ser (por Jefferson Lessa)

Li no O Globo e acho importante compartilhar, além disso, recebi o link de alguns amigos.

(Ilustração de Claudio Duarte)

Na semana em que a Argentina aprova o casamento gay, peço licença para relatar uma historinha banal. Moro num bairro aprazível e “tranquilo”, sonho de consumo de dez entre dez cariocas. Dos que não vivem lá, obviamente. “A grama do vizinho...”. Pois é. De um tempo para cá, por motivos que me são alheios, alguns playboys deram de gritar “veaaaaaado!!!”  quando me veem na rua. Outro dia, derrubaram minha pasta no chão. Numa noite anterior, rolou um inesperado banho de uísque com Redbull no casaco novo... Depois disso, a calçada ficou mais longa que uma maratona. Chegar à varanda torna-se uma decisão pesada, difícil de tomar. A pasta, o cheiro do uísque com Redbull... Difícil. Como vocês podem ver, trata-se de uma história de bullying, a palavra do momento. Seria só mais uma, não fosse o caso de atingir um certo cara no auge da meia-idade. Eu.
Nunca havia passado por isso antes. E não pretendia experimentar agora. Mas aconteceu — fazer o quê? Penso em várias “soluções”. A mais radical é mudar de bairro. Deixar para trás uma casa que adoro e que montei aos poucos, no ritmo que o salário aguado permitiu. Deixar para trás, também, um prédio no qual fiz amigos. É uma “solução” penosa e triste, creio. Faz com que eu me sinta covarde, pequeno, sujo, miserável. Sem falar no trampo, né? Mudança, segundo pesquisas, é uma das situações que mais geram estresse na vida. As outras são separação, morte... Mudança é um pouco separação e morte.
A outra “solução” é sugerida por amigos, que perguntam: Por que você não denuncia? Por que não procura a polícia?” Simplesmente porque não vivo dentro de um episódio de “Law & order: Special Victims Unit”, a genial série americana que ficcionaliza o cotidiano da unidade de elite da polícia novaiorquina especializada na investigação de crimes de natureza sexual. Se eu tivesse a certeza de que meu “caso” seria tratado pelos detetives Stabler e Benson, correria para a delegacia mais próxima. Na maior confiança. Como todos sabemos, não é bem o caso por aqui.
E também posso fazer o que estou fazendo neste instante: expor meu pequeno drama (que, convenhamos, não interessa a quase ninguém) nas páginas de um grande jornal como este O GLOBO. Vai ter gente se identificando, é claro. Vai ter gente criticando a superficialidade do texto (provavelmente, com razão: sou meio raso mesmo). Vai haver quem elogie a coragem do repórter, bem como quem o ache um rematado covarde. Sinceramente, leitor, sua opinião me importa. Mas pouco muda. Desculpe qualquer coisa, tá? É que na hora de voltar para casa, não vai ter detetive Benson nem Stabler, amigos, leitores ou páginas para segurar a barra. A mim, restará torcer, solo, para não encontrar os pequenos e medíocres algozes do dia a dia. Em encontrando, restará torcer para que não estejam muito bêbados ou alterados, pois isso conta — e muito — nessas horas.
O cotidiano pode se dividir entre poder ou não ser você mesmo na rua, no ônibus, no boteco... Mas convenhamos: isso ainda não é tão possível no balneário de São Sebastião. Somos toscos, mal educados, infantis e preconceituosos. Friendly my ass, isso sim. Ih, falei.
Eis a história — até agora. As cenas dos próximos capítulos? Não sei o que esperar desta trama triste. Mas sei o que não esperar no curto prazo: civilidade. E aqui me permito repetir uma obviedade: civilidade não se compra no supermercado ou na quitanda. Se constrói. Ao longo de muito tempo. E é aqui que penso numa notícia da última semana: a aprovação do casamento entre pessoas do mesmo sexo na Argentina.
Não sei se a notícia foi realmente bem-vinda ou se mereceu um tratamento tão retumbante por ser muito surpreendente. Mas o fato de a Argentina ter se tornado o primeiro país da América Latina e do Caribe a aceitar o chamado casamento gay mereceu amplíssima cobertura da imprensa brasuca. Nas páginas e nas telas, parece algo de muito bom, apesar dos protestos dos usual suspects (Igreja católica, círculos conservadores, arautos da família etc). Ouso pensar que se a notícia tivesse vindo de outro país que não nosso arquirrival, teria sido ainda mais celebrada. É de bom tom na imprensa alardear correção política, mesmo quando o coração se inclina na direção oposta.
Fiel à rivalidade, não consigo parar de comparar, mentalmente, Brasil e o país hermano (que as piadinhas já transformaram em hermana). Mas quando digo país, leia-se cidade. É isso: não consigo parar de comparar mentalmente o Rio, onde sempre vivi, e Buenos Aires, ciudad que conheci ainda criança e à qual já voltei várias vezes. E acho que, no quesito friendly, BsAs ganha de longe, muito longe, do Rio.
Aqui, cabe esclarecer. Grandes questões como direito a adoção de crianças e a herança do(a) companheiro(a) são fundamentais, é óbvio. Palmas para os países que já garantiram tudo isso a seus gays, lésbicas, transgêneros, simpatizantes e quem mais chegar. Mas, em minha humílima opinião, é o dia a dia que conta. É do cotidiano que a vida é feita. Do dia de sol ou chuva, do ônibus que chega na hora ou não, que para ou não no ponto... Do chefe que te saúda ou não no trabalho, do colega que te dá uma força ou puxa o teu tapete, do amigo que te liga no momento certo. Da flanada prazerosa pela tua cidade, sem medo de pitboys e pitbulls. Ou não.
Aqui, volto à Argentina. Foi corajosa a aprovação do chamado casamento gay naquele país. Cheio de inveja, deixo meus parabéns. Não sou idiota a ponto de acreditar que uma lei acabe, magicamente, com pré-conceitos acumulados ao longo de séculos e cevados à base de ódio à diferença. Mas é um primeiro passo para uma rotina mais amena no futuro.
Quando é que vamos dar este passo? Hein?

* Texto publicado este domingo, 18 de julho, na seção LOGO/A Página Móvel,
que saiu na editoria RIO

Um e-mail de uma amiga (texto)

Alexandre,
Lendo o Inventário das sombras de José Castello, um livro em que ele tece perfis de alguns escritores, eis o que ele escreveu (e achei lindo) sobre Saramago:
Ao se debruçar sobre a infância, Saramago encontrou muitas passagens nebulosas, sucessão de verdadeiras armadilhas que começam com a história de seu nome. O sobrenome do pai era Sousa, e não SaramagoJosé de Sousa, ele se chamava. Mas em Azinhaga as famílias não eram conhecidas pelos sobrenomes de registro, e sim por alcunhas afetuosas. A família do escritor tinha a alcunha de Saramago, que é o nome de uma erva silvestre, de flores amarelas ou avermelhadas, bastante semelhante ao espinafre, que cresce pelos cantos, quase sempre esquecida. Quando ele nasceu, o pai se dirigiu a um cartório e, no balcão, limitou-se a dizer: “Vai se chamar José, como o pai!”. O empregado do registro civil, por sua conta e risco, acrescentou ao sobrenome verdadeiro, Sousa, o apelido de Saramago. Ele se tornou, então, José de Sousa Saramago, e o pai só descobriu o engano quando o menino já estava com sete anos de idade. Só em 1929, quando foi matricular o filho na escola primária e teve de apresentar a certidão de nascimento, o pai de Saramago se deu conta do engano, e se sentiu muito decepcionado porque não gostava nem um pouco da alcunha, que o fazia recordar sua origem camponesa e miserável.
Desde que se mudara para Lisboa, em 1924, o pai de Saramago não gostava que lhe recordassem os tempos duras da vida do campo. Vinha de uma família de pastores, que sobrevivia em condições muito adversas, guiando ovelhas e cabras. O pai se orgulhava porque em Lisboa o chamavam sempre de “Sr. Sousa”, nunca de “Sr. Saramago”, e essa substituição de tratamento parecia apagar o passado indesejável. Mas a certidão de nascimento do menino não fora aceita pela escola. O pai, então, não teve outra saída: viu-se obrigado a fazer um registro adicional em que atestava que ele, José de Sousa, era na verdade conhecido como José de Sousa Saramago. “Acho que sou o primeiro caso em que o filho dá o nome ao pai”, disse-me o escritor, tomado por um entusiasmo quase infantil. (Castello, pag. 225)
Beijos,
(...)

sábado, 17 de julho de 2010

Fora da ordem (texto)

Acebei de ler no G1 (portal da Globo) que a Polônia promoveu a sua primeira passeata gay e que ela provocou muitos protestos.
No portal aparecem fotos de integrantes dessa manifestação (aparentemente felizes)  e tb fotos dos contrários a ela (aparentemente revoltados).
Fiquei aqui pensando não num "dia em todos os homens concordem, mas em diversas harmonias bonitas possíveis sem juízo final..."
Como seria se assim o mundo fosse: não quero pra mim, não é a minha, mas se alguém quer e se aquilo não produz mal a ninguém, ou seja, se diz respieto as escolhas de cada um, eu respieto e pronto.
Por que é que preciso que o outro faça a minha escolha ou goste do que eu gosto? Quanta perda de tempo! Quanto tempo gasto em vão.
Por que é, pra uma grande maioria de pessoas, difícil conviver com o diferente? Com o que eu considero diferente?
Às vezes fico tão desanimado com essa mesmice. Me sinto dando murro em ponta de faca.
Orientação sexual diz respeito apenas a mim e a quem estou interessado. A vida sexual dos outros não me interessa e não deveria interessar a mais ninguém.
E o tempo passa...

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Lei de união na Argentina (texto)

Los Hermanos adiante no reconhecimento dos direitos dos homossexuais!!! A Argentina torna-se o primeiro país Latino Americano (LA) a reconhecer a união entre pessoas do mesmo sexo e o décimo no mundo.
Depois de 14h de debates, segundo jornais locais, foram 33 votos favoráveis, 27 contrários e 3 abstenções.
Pra mim é motivo de comemoração, justamento porque considero um passo na luta pelos direitos civis, na luta pela igualdade entre os homens, pelo reconhecimento de que não existe cidadãos de segunda classe. Um passo tb na luta contra o preconceito. Sem falar que conto com a contaminação de outros países LA nesse reconhecimento.
É claro que mais cedo ou mais tarde isso aconteceria, visto que não há quaisquer lógicas em não reconhecer o direito em colocar o seu companheiro(a) como dependente no seu plano de saúde, dividir, como qualquer casal hétero, a declaração de imposto de renda, o direito à herança, divisão de bens e adoção.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Teatro Dos Vampiros - Renato Russo (música)

Sempre precisei
De um pouco de atenção
Acho que não sei quem sou
Só sei do que não gosto...
E nesses dias tão estranhos
Fica a poeira
Se escondendo pelos cantos

Esse é o nosso mundo
O que é demais
Nunca é o bastante
E a primeira vez
É sempre a última chance
Ninguém vê onde chegamos
Os assassinos estão livres
Nós não estamos...
Vamos sair!
Mas não temos mais dinheiro
Os meus amigos todos
Estão procurando emprego...
Voltamos a viver
Como há dez anos atrás
E a cada hora que passa
Envelhecemos dez semanas...

Vamos lá, tudo bem!
Eu só quero me divertir
Esquecer dessa noite
Ter um lugar legal prá ir...
Já entregamos o alvo
E a artilharia

Comparamos nossas vidas
E esperamos que um dia
Nossas vidas
Possam se encontrar...

Quando me vi
Tendo de viver
Comigo apenas
E com o mundo
Você me veio
Como um sonho bom
E me assustei

Não sou perfeito...
Eu não esqueço
A riqueza que nós temos
Ninguém consegue perceber
E de pensar nisso tudo
Eu, homem feito
Tive medo
E não consegui dormir...
Vamos sair!
Mas estamos sem dinheiro
Os meus amigos todos

Estão, procurando emprego...
Voltamos a viver
Como a dez anos atrás
E a cada hora que passa
Envelhecemos dez semanas...
Vamos lá, tudo bem
Eu só quero me divertir
Esquecer dessa noite
Ter um lugar legal prá ir...

Já entregamos o alvo
E a artilharia
Comparamos nossas vidas
E mesmo assim
Não tenho pena de ninguém...

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Tem saudade que não acaba nunca (texto)

Ontem fui visitar meu padrasto. Pensei que eu já estivesse pronto para voltar a casa deles. Quero dizer, pensei que essa outra volta, a segunda depois da morte da minha mãe fosse ser mais tranquila. E foi, na verdade.
No entanto, assim que cheguei, ele me mostrou as fotos de minha mãe que havia colocado na moldura. Não me segurei.
Foi como se tivesse, sem nunca ter me esquecido, revivido o nosso último encontro. Numa das fotos ela sorria. Aquele sorriso debochado de quem não se levava a sério. De quem não levava muito a sério quem a estava fotografando.
Tem saudade que não acaba nunca. Tem vazio que nunca se preenche. Tem olhos que nunca se secam. Tem dias...tem outros dias.
Mas vai ficando uma saudade outra, uma que ainda não sei o seu nome. Uma que às vezes bate numa lembrança engraçada dos nossos dias. Outra que me derruba. As intermitências da saudade.

Solidão na velhice...

A solidão na velhice é uma experiência profundamente marcada pela complexidade da existência humana. Com o passar dos anos, os vínculos soci...