domingo, 27 de abril de 2014

Fotografar é mostrar para o outro a forma como eu olho para o mundo.











































































































sexta-feira, 25 de abril de 2014

Há sempre uma voz dissonante.

Romantizamos muito o passado, não é mesmo? A tendência é contá-lo como se Antes tudo tivesse sido muito melhor. Quase sempre isso é papo furado. 
Hoje, um amigo postou no Face uma frase que, apesar de não fazer referência explícita ao passado, me deu a impressão de que se tratava disso: a frase era sobre a violência no futebol, mas com um trocadilho sobre a violência no Rio de Janeiro.
O Rio sempre foi uma cidade violenta, mas como a violência se instalava, quase sempre, nas favelas ou no subúrbio "tudo estava sob controle": era uma guerra entre traficantes e eles próprios se matavam. "Melhor assim, né?!" Antes que me interpretem mal, isso é uma ironia.
Vezinquando havia um grande assalto, um grande roubo, um assassinato no asfalto da Zona Sul da Cidade Maravilhosa e isso sempre produziu muitas páginas de jornal, muito disse me disse etc. Não que esses crimes não devessem produzir, mas apenas esses circulavam nos jornais como "assustadores". Era a antiga classe média sendo dita. Isso causava alguma comoção no Jornal Nacional (JN), o resto não merecia nem uma notinha. Quase nunca a polícia estava metida, porque polícia boa não se mete com a classe média.
Os demais crimes ilustravam as páginas dos chamados jornais populares (sobre os quais dizíamos "se torcer sangra"), os quais não tinham muita importância, serviam mesmo para embrulhar o peixe do dia seguinte.
A polícia continua, hoje, violenta (quase que ia escrevendo "mais" violenta, mas não dá para romantizar  passado tb pelas vias de um presente deslocado), os bandidos continuam violentos, mas a população mudou demais. E acho que mudou para melhor no que diz respeito ao conhecimento dos seus direitos. Aquele discurso de "somos todos iguais" tem produzido algum deslizamento sobre o comportamento da população, de uma forma geral.
Não faz muito tempo, um caso como o do pedreiro Amarildo, não seria sequer apurado. Ele (o caso e o pedreiro) simplesmente sumiria do mapa e pronto. Não se falaria mais sobre isso.
"Favelado não presta!", "Todos os moradores da favela são envolvidos com o tráfico", portanto, devem ser tratados como marginais. Esse era o pensamento hegemônico sobre a favelado e sobre a violência carioca. Digo, esse que se concentrava exclusivamente nas áreas menos nobres.
Alguém ser arrastado pelas ruas do Rio como um saco de lixo tb não seria uma grande notícia. Sobretudo se uma moradora da favela fosse morta, como sempre, numa troca de tiros entre policiais e traficantes nos Morros da Cidade. Vejam a diferença de cobertura da mídia entre o menino João Hélio e a Cláudia Silva Ferreira. Esta foi denominada por "A arrastada" durante muitas páginas de jornal. Nome pra quê? Moradora de favela só é/pode ser conhecida pelo fato que produziu a notícia.
A população mudou, como eu estava dizendo, e não engole da mesma forma as provocações, não deixa, simplesmente, pra lá os seus direitos, claro que em termos gerais (muita coisa continua em silêncio). Hoje em dia a câmera do celular é um "arma" em punho para registrar tb os excessos da polícia, das autoridades, dos reacionários, de toda e qualquer manifestação de toda ordem. Além disso, a mídia tb tem comprado (uma parte dela que produz bastante barulho) a briga. Até a mídia-hegemônica tem se visto obrigada a dar respostas ao alarde produzido pelos menos privilegiados.
Quem diria que seria matéria do JN uma manifestação de moradores da favela sobre um morador morto em condições estranhas, pelo menos até o momento. Refiro-me ao bailarino DG do programa Esquenta, da Rede Globo (quem diria que um um morador de uma favela poderia ser um bailarino de um programa na Rede Globo).
Bem, tb não dá pra dizer que tudo está a mil. Não mesmo. Mas percebo que há sempre uma voz dissonante, seja para responder seja para cobrar explicações em relação aos fatos que antes não teriam importância nenhuma.
Uma pena que a Polícia tb não tenha acompanhado essas mudanças: ela anda perdendo a oportunidade de ser outra e vai, certamente, pagar um preço bastante alto por isso. Já está faz algum tempo. Quem se sente protegido por essa Instituição levanta o braço! Eu não me sinto. Muito se diz sobre a desmilitarização da PM, mas não se dá um passo nessa direção. A PM não tem um serviço de inteligência e age de qualquer maneira, principalmente se se trata de negro e pobre.
Os governantes do Rio de Janeiro continuam sem fazer absolutamente nada em relação a esta questão. Silêncio total. Pipoca aqui e ali alguma notícia sobre isso quando nos encontramos no auge de um acontecimento, mas vontade dá e passa. Nada se faz. Uma pena para uma cidade que se pensa destino turístico, para uma cidade com vocação para receber bem o estrangeiro. Enquanto isso, salvem-se quem puder!

ps. Não quero dizer com este último parágrafo que a cidade deve ser pensada apenas para quem vem. Não mesmo. Para ser Maravilhosa precisa estar pronta pra quem já está e tb para quem chega.

quarta-feira, 23 de abril de 2014

Quando a nossa indignação se sobrepuser aos nossos medos.

É claro que a história de Bernardo, o garoto de 11 anos, assassinado no RS, me tocou profundamente. Se tudo o que está sendo dito na mídia sobre o caso for verdade, acho que muita gente anda se sentindo culpada pelo desfecho trágico dessa história: os vizinhos, os amigos mais próximos, os empregados da casa, os professores, as autoridades, enfim, todos que sabiam que algumas coisas estavam erradas, mas que, por algum motivo, não se meteram como deviam na vida dos outros. Ver coisas erradas e não fazer absolutamente nada, me desculpem, é conivência.
Numa rápida retrospectiva: em novembro de 2013, a notícia de abandono afetivo de Bernardo chegou à vara da Infância e da Juventude e foi aberto expediente para apurar o caso. Bernardo era alvo de comentários na cidade.
Em dezembro, o Centro de Assistência Social entregou à promotoria um relatório dizendo que o garoto dormia na casa de conhecidos e tinha desavenças com a madrasta. Passava sábados e domingos na rua. Era alimentado pelos vizinhos.
No dia 24 de janeiro, Bernardo se dirigiu, sozinho, ao fórum de Três Passos, onde funciona o Centro de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente, e contou das ofensas da madrasta, da falta de atitude do pai e de sua vontade de morar com outras pessoas. Foi levado para falar com a promotora Dinamárcia Maciel de Oliveira. Confirmou a sua própria história.
A promotora deu início a ação na Justiça pedindo que a guarda provisória fosse dada para a avó materna. O juiz preferiu marcar uma audiência com o pai, ocorrida em fevereiro. Leandro, o pai e suspeito de participar do assassinato, quis mais uma chance. Bernardo aceitou. 
No dia 7 de abril, quando soube do desaparecimento, a promotora pediu que a guarda fosse dada para a avó. Mas o juiz determinou que, assim que ele fosse encontrado, ele deveria ser encaminhado a um lar, pois faltavam elementos que comprovassem que a avó poderia assumir a guarda. Tarde demais!
Tragédia descoberta, começa a pipocar na mídia os relatos de todos que sabiam alguma coisa mas não fizeram nada. Vale sempre o ditado "em briga de marido e mulher...". Há momentos em que deve prevalecer a indignação acima de qualquer outro sentimento. Se os próximos tivessem se indignado de verdade...o desfecho poderia ser outro.
Ouvi relato da ex-babá de que madrasta havia tentado sufocá-lo, mas por alguma razão, medo, talvez, de sofrer alguma represália, não contou essa história a ninguém. Bem, agora é tarde, né. Pelo menos para Bernardo.

Da Série Contos Mínimos

Sentia muito medo de morrer enquanto dormia. À noite, sentiu seu coração disparar e falta de ar. A boca ficou seca, o sono foi embora. O peito doía. Tarde da noite não pensava em outra coisa senão nesse medo que o desesperava. 

terça-feira, 22 de abril de 2014

Da Série Contos Mínimos

Hoje não foi um bom dia. Na verdade, ele ainda não sabia ao certo. Talvez o saiba apenas depois de amanhã, quando estiver em condições de recontá-lo. Re-con-tar a nossa história é sempre um privilégio. Ao contá-la uma, duas ou três vezes temos um outro passado, um outro presente e a possibilidade do dia ser melhor.

sábado, 5 de abril de 2014

"Melhor do que isso só mesmo o silêncio, Melhor do que o silêncio só João" (Caetano Veloso)

Cada um tem seu inferno. Aquele sobre o qual não se quer pensar. Eu tenho, pois, o meu.
Eu amo o silêncio. Pra mim não existe som mais agradável do que o produzido por ele.
Digo isso apenas para introduzir o verdadeiro horror que é para mim estar com alguém que não saiba ficar em silêncio. Tenho um verdadeiro pânico de gente que não cala a boca. De gente que fala sem parar, sem um intervalo.
Bem, vou contar a minha história. Nessa sexta-feira, voltando de Coimbra, acabei pegando o trem (combio, no português de Portugal) em um horário mais cedo do que de costume. Em geral, saio da aula por volta das 13h, vou almoçar com uns amigos de turma e depois desço, porque a universidade fica no alto do morro, até a estação de trem, Coimbra A (tem A porque tem B). Normalmente compro o bilhete na estação Coimbra A e vou até a B para pegar o comboio das 14h47 para Lisboa. 
Nessa sexta, não almocei com os amigos de turma porque eu estava bastante cansado, tinha dormido mal de quinta pra sexta e não estava muito bem humorado, por conta da noite mal dormida. Quando isso acontece, melhor mesmo ficar na minha.
Aí, por essas e por outros, acabei chegando na estação muito mais cedo do que de costume. Peguei então, como disse, o trem que passa às 13h58. É claro que no afã de chegar logo em Lisboa não me dei conta de que este trem poderia ser um parador (ao contrário daquele que pego mais tarde). Só pensei nisso quando já estava acomodado na minha poltrona. 
Já achei bastante estranho o fato do meu vagão (carruagem, no português de Portugal) estar lotado. Percebi, durante os primeiro minutos de viagem, que tinham dois grandes grupos dividindo comigo aquele espaço: um grupo enorme de jovens franceses e outro de jovens japoneses, além, é claro, de portugueses de todas as idades.
Todos falavam ao mesmo tempo. E como todos falavam ao mesmo tempo, todos falavam alto porque queriam ser ouvidos. Uns gritavam, outros berravam, um senhor que estava na poltrona atrás da minha atendia o celular (telemóvel, por aqui) como se estivesse chamando um amigo que estava do outro lado do mundo. 
Duas senhoras, uma estava ao lado desse senhor que berrava ao telefone e a outra ao lado desta, mas do outro lado do corredor, falavam, sem parar, sobre tudo e mais um pouco num volume acima do permitido (60 dB - decibéis, no perímetro comercial).
Eu não me lembro de ter ficado mais angustiado na vida do que durante essa viagem. Estava ali, no meio daquela poluição sonora sem poder fazer nada. Eu estava, definitivamente, enlouquecendo. Minha vontade era de me levantar e pular pela janela. Mas eu não podia fazer isso. Cheguei ao meu limite de angústia: meu coração disparou e comecei a ficar aflito.
A sorte foi me lembrar de que eu tinha um celular no bolso e os meus fones de ouvido em algum lugar na minha bolsa de viagem. Foi como encontrar água no deserto. Procurei o que havia de mais tranquilo entre os artista da minha lista e fui salvo por Rosa Passos cantando Djavan.
Cheguei em Lisboa tão elétrico (sem exagero) que precisei ir ao cardiologista porque achei que ia infartar.
Não infartei, é claro, ou não estaria aqui escrevendo sobre isso. Mas descobri que se inferno existe o meu é um lugar cheio de gente que fala alto, que não respira, que não dá um intervalo entre uma palavra e outra.


Da Série Contos Mínimos

Éramos apenas nós dois e um mundo lá fora, mas pouco ou quase nada tínhamos para trocar. Vivíamos assim um para o outro, sem cobranças, sem medidas. Um amor que se sobrepunha a tudo. Não tínhamos tempo para nada que não fôssemos nós. A vida era completa.

Solidão na velhice...

A solidão na velhice é uma experiência profundamente marcada pela complexidade da existência humana. Com o passar dos anos, os vínculos soci...