ossǝʌɐ op: É UM ESPAÇO PARA EU ESCREVER SOBRE O QUE GOSTO E NÃO-GOSTO: FILMES, DISCOS, LIVROS, FOTOGRAFIAS, TV, OUTROS BLOGUES, PESSOAS, ASSUNTOS VARIADOS. NENHUM COMPROMISSO QUE NÃO SEJA O PRAZER. FIQUEM À VONTADE PARA CONCORDAR OU DISCORDAR (SEMPRE COM RESPEITO E COM ASSINATURA), SUGERIR OU OPINAR. A CASA É MINHA, MAS O ESPAÇO É PARA TODOS.
quinta-feira, 24 de outubro de 2024
quarta-feira, 23 de outubro de 2024
Guardar (Antonio Cicero)
Semana passada em uma banca de qualificação (de uma dissertação de mestrado) falei sobre essa poesia aí embaixo e sobre o poeta Antonio Cícero. Na verdade, falo sempre sobre esse poema porque eu gosto demais dele. Conheci parte desse texto ao ouvir a música Deve ser assim (de Marina Lima e Alvin L.) parte do álbum O Chamado. Hoje, fui surpreendido com a notícia da sua morte.
Bateu uma tristeza!!!!
E ao mesmo tempo uma admiração pelo filósofo/poeta ou poeta/filósofo que decidiu diante de uma doença (Alzheimer), ainda sem cura, ir à Suíça para o procedimento de um suicídio assistido. Que coragem! Como nos disse hoje o tb poeta José Miguel Wisnik: "um ato límpido, adulto e amorosa."
Guardar uma coisa não é escondê-la ou trancá-la.
Em cofre não se guarda coisa alguma.
Em cofre perde-se a coisa à vista.
Guardar uma coisa é olhá-la, fitá-la, mirá-la por
admirá-la, isto é, iluminá-la ou ser por ela iluminado.
Guardar uma coisa é vigiá-la, isto é, fazer vigília por
ela, isto é, velar por ela, isto é, estar acordado por ela,
isto é, estar por ela ou ser por ela.
Por isso melhor se guarda o voo de um pássaro
Do que um pássaro sem voos.
Por isso se escreve, por isso se diz, por isso se publica,
por isso se declara e declama um poema:
Para guardá-lo:
Para que ele, por sua vez, guarde o que guarda:
Guarde o que quer que guarda um poema:
Por isso o lance do poema:
Por guardar-se o que se quer guardar.
terça-feira, 22 de outubro de 2024
Há 15 anos neste dia
O Tempo
Quando se vê, já são seis horas!
Quando se vê, já é sexta-feira!
Quando se vê, já é natal…
Quando se vê, já terminou o ano…
Quando se vê perdemos o amor da nossa vida.
Quando se vê passaram 50 anos!
Agora é tarde demais para ser reprovado…
Se me fosse dado um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio.
Seguiria sempre em frente e iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas…
Seguraria o amor que está a minha frente e diria que eu o amo…
E tem mais: não deixe de fazer algo de que gosta devido à falta de tempo.
Não deixe de ter pessoas ao seu lado por puro medo de ser feliz.
A única falta que terá será a desse tempo que, infelizmente, nunca mais voltará.
(Mário Quintana)
domingo, 20 de outubro de 2024
O funcionamento discursivo do discurso sobre
O conceito de discurso sobre em Análise do Discurso Materialista pode ser compreendido como uma prática discursiva em que o enunciador se coloca como alguém que fala sobre algo — seja um objeto, um fato ou outro discurso — assumindo uma posição que aparenta estar fora das determinações ideológicas. Esse discurso se organiza a partir de uma suposta neutralidade ou objetividade, como se o sujeito pudesse observar e descrever a realidade sem estar implicado nos efeitos ideológicos e nos processos de produção de sentido que atravessam sua fala.
Características centrais do discurso sobre:
Posição de exterioridade: No discurso sobre, o enunciador adota a postura de quem fala de uma posição de distanciamento em relação ao que é dito, como se estivesse fora do jogo ideológico. É uma forma de discurso que tenta se apresentar como se o sujeito estivesse em um lugar privilegiado, de onde pudesse ver e descrever os fatos de maneira isenta e objetiva.
Ilusão de transparência: A produção do discurso sobre gera o efeito de que aquilo que está sendo dito é uma verdade autêntica, sem mediação, como se o enunciador apenas reportasse ou refletisse sobre a realidade. Essa ilusão de transparência serve para apagar ou despistar as condições ideológicas e históricas que moldam o discurso.
Discurso jornalístico e científico: Esse conceito é particularmente relevante para a análise de discursos que buscam legitimar a si mesmos como neutros ou objetivos, como o discurso jornalístico ou científico. No caso do jornalismo, o veículo de comunicação fala sobre os fatos como se estivesse fora do processo de construção desses mesmos fatos, apagando seu papel na produção e circulação de sentidos. No discurso científico, há uma tentativa de se apresentar como puramente descritivo, sem a interferência de valores ou posicionamentos ideológicos.
Produção de sentido e ideologia: Mesmo quando o discurso parece descrever o mundo de maneira neutra, ele está inevitavelmente atravessado pela ideologia, pelas formações discursivas e pelos lugares de onde o sujeito enunciador fala. A Análise do Discurso revela que não existe discurso sem ideologia, e o discurso sobre é justamente um exemplo de como a ideologia pode atuar de forma invisível, ao se esconder sob o manto da objetividade.
Exemplos:
Discurso jornalístico: Um jornalista que relata um acontecimento político como se estivesse apenas reportando fatos, sem se envolver ideologicamente, está produzindo um discurso sobre. Ele dá a impressão de que o relato é uma descrição direta do real, quando, na verdade, está construindo sentidos de acordo com as condições ideológicas de produção de seu discurso.
Discurso científico: Quando um cientista escreve um artigo assumindo que sua linguagem é puramente técnica e descritiva, como se o conhecimento que está sendo apresentado fosse independente de sua posição subjetiva e histórica, ele está produzindo um discurso sobre. O efeito é o de que o enunciado está fora do ideológico, o que a AD desmascara ao mostrar que todo discurso é marcado por determinações sociais e históricas.
Conclusão:
O discurso sobre é uma forma de discurso que busca apagar os traços de sua própria constituição ideológica, gerando o efeito de que o sujeito enunciador está fora do jogo ideológico e pode simplesmente descrever o mundo ou outros discursos de maneira objetiva. A Análise do Discurso, no entanto, mostra que essa neutralidade é apenas aparente e que todo discurso está sempre atravessado por relações de poder e ideologia.
sábado, 19 de outubro de 2024
Errática (Caetano Veloso)
Nesta melodia em que me perco
Quem sabe talvez um dia
Ainda te encontre minha musa
Confusa
Esta estrada me escorre do peito
E tão sem jeito
Se desenha entre as estrelas da galáxia
Em fúcsia
Bússolas não há na cor dos versos
Usam como senha tons perversos
Busco a trilha certa, matematicamente
Só sei brincar de cabra cega
Errática, chega!
Neste descaminho meu carinho
Te percorre a ausência
Corpo, alma, tudo, nada
Musa
Difusa
O sorriso do gato de Alice
Se se visse
Não seria menos ou mais intocável
Que o teu véu
Pausa de fração de semifusa,
Pode conter tão grande tristeza?
Busco o estilo exato
A tática eficaz
Do rock ao jazz
Do lied ao samba
Ao brega
Errática chega
O desejo e a vontade
O desejo está relacionado ao princípio do prazer, ou seja, à busca da satisfação imediata dos impulsos, independentemente das consequências. No entanto, à medida que o sujeito cresce, ele é forçado a lidar com o princípio da realidade, que impõe restrições e limitações ao que pode ser feito ou desejado. A vontade, nesse contexto, surge como a tentativa consciente de controlar ou canalizar os desejos inconscientes de maneira que seja aceitável na vida social e racional.
A vontade pode ser vista como uma tentativa do ego de domar ou sublimar os desejos inconscientes, direcionando a energia psíquica (libido) para objetivos mais aceitáveis, como o trabalho, a arte ou relações sociais. Esse processo de sublimação é essencial para o desenvolvimento saudável da psique, pois ajuda a reconciliar os desejos inconscientes com a realidade social e cultural.
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