segunda-feira, 6 de janeiro de 2025

Sobre a vitória de Fernanda Torres - melhor atriz de drama - no Globo de Ouro



A conquista do Globo de Ouro pela atriz Fernanda Torres foi um marco não apenas para sua carreira, mas para a representação do talento latino-americano no cenário internacional. Ao se tornar a primeira brasileira e sul-americana a ser indicada e a ganhar o prêmio, Fernanda quebrou barreiras culturais e linguísticas. Sua vitória destaca a relevância da produção cultural fora do eixo anglófono, em um evento tradicionalmente dominado por obras e artistas de língua inglesa. É um reconhecimento histórico que eleva o cinema e o talento brasileiro a um patamar mais visível no panorama global.

Fernanda Torres é uma artista multifacetada, com uma trajetória que transita entre o drama e a comédia, sempre trazendo profundidade e autenticidade aos seus papéis. Sua atuação é marcada por uma inteligência sensível que capta as nuances da condição humana, seja ao interpretar personagens complexos em dramas intensos, seja ao explorar o humor com maestria. Além de sua atuação como atriz, Fernanda é uma escritora talentosa e pensadora que reflete sobre questões da sociedade contemporânea em suas crônicas e ensaios, reafirmando-se como uma intelectual completa. Essa versatilidade é rara e fundamental para a compreensão de seu impacto no cenário cultural.

O fato de Fernanda Torres ter sido uma das poucas atrizes não falantes de inglês a ser indicada ao Globo de Ouro realça a dimensão de sua conquista. Até hoje, apenas uma pequena parcela de artistas de fora do circuito anglófono conseguiu romper essa barreira, demonstrando a dificuldade de reconhecimento internacional para produções e artistas que desafiam o hegemonismo cultural. Sua vitória não apenas celebra sua própria excelência, mas também levanta uma reflexão sobre a importância de diversificar as narrativas reconhecidas e premiadas por instituições culturais globais. É um lembrete de que o talento transcende fronteiras e idiomas.

A vitória de Fernanda Torres no Globo de Ouro é mais do que um prêmio individual; é uma conquista coletiva que simboliza a força e a riqueza da cultura brasileira e sul-americana. Sua trajetória inspira novas gerações de artistas a sonharem alto, mesmo em um cenário desafiador e muitas vezes excludente. É também um convite para que o mundo olhe com mais atenção e respeito para a diversidade artística de nossa região, reconhecendo que a universalidade das emoções e narrativas não depende da língua em que são expressas, mas da verdade com que são contadas. Fernanda, com seu talento e dedicação, tornou-se um símbolo desse potencial universal.

domingo, 5 de janeiro de 2025

quinta-feira, 2 de janeiro de 2025

Um vazio desconcertante



Há pessoas cuja única moeda de troca na vida parece ser a beleza (ou alguma beleza). Elas entram em qualquer ambiente e chamam atenção pelo físico, pela estética cuidadosamente trabalhada ou pela genética generosa. Mas, ao raspar a superfície, o que resta é um vazio desconcertante. Não há conversas que inspirem, reflexões que instiguem ou mesmo curiosidade sobre o mundo. Essas pessoas se apresentam como um quadro bonito em uma moldura cara, mas o conteúdo é tão raso que, no final, fica difícil sustentar qualquer tipo de conexão além do superficial.

A ausência de conteúdo não é apenas uma escolha, mas muitas vezes o resultado de uma vida que priorizou a aparência em detrimento do conhecimento, da empatia e do desenvolvimento pessoal. Não leem, não assistem a nada que as desafie, não se interessam por explorar ideias ou questionar as próprias certezas. Para elas, o tempo é consumido pelo espelho, pelas redes sociais ou pelo constante exercício de reafirmar a própria atratividade. A vida se reduz a um palco onde a performance física é o único espetáculo, e qualquer tentativa de aprofundamento é vista como desnecessária ou cansativa.

Quando o desempenho sexual na cama se torna o principal atributo, fica evidente como essas pessoas restringem suas relações à dimensão mais básica da experiência humana. O sexo, que pode ser uma expressão profunda de conexão, intimidade e troca, é transformado em um ato vazio, reduzido ao desempenho e à validação. Sem diálogo, sem troca de ideias e sem interesses comuns, o que resta é uma interação mecânica, incapaz de nutrir algo além do físico. Para quem busca relações mais ricas e completas, essa superficialidade se torna rapidamente frustrante.

No fundo, a beleza, por mais impressionante que seja, é transitória. Sem um conteúdo que a sustente, sem interesses, histórias ou valores, o brilho da aparência começa a se apagar com o tempo. E o que fica? Uma sensação de vazio, de oportunidades perdidas para crescer e construir algo significativo. Pessoas assim podem atrair no início, mas a verdadeira conexão exige muito mais do que um rosto bonito ou um corpo atraente. Exige presença, vontade de aprender, de crescer e de oferecer ao outro algo além do que é efêmero e visível.

Geração Beta



A Geração Beta, composta por aqueles nascidos a partir de 2025, será marcada pela imersão em um mundo moldado por avanços tecnológicos e desafios globais. Eles crescerão em um ambiente onde a tecnologia é onipresente, com ferramentas como inteligência artificial, realidade aumentada e internet das coisas integradas ao cotidiano. A educação dessa geração será altamente personalizada, baseada em dados e voltada para a resolução de problemas e o desenvolvimento de criatividade. Além disso, valores como sustentabilidade, inclusão e diversidade estarão no centro de suas prioridades, refletindo a pressão global para práticas mais conscientes e justas.

Esses avanços tecnológicos e médicos podem possibilitar que muitos integrantes dessa geração vivam até o século XXII. Com progressos na biotecnologia, terapias genéticas e inteligência artificial aplicada à saúde, a expectativa de vida está se expandindo significativamente. Isso transformará a forma como os Betas planejam suas vidas, carreiras e famílias, reorganizando os conceitos de juventude, maturidade e envelhecimento. No entanto, o desafio de navegar por um mundo em constante transformação exigirá resiliência diante de crises climáticas, desigualdades globais e dilemas éticos sobre o uso da tecnologia.

Os Betas serão herdeiros de problemas complexos, mas também pioneiros na busca por soluções inovadoras que redefinam os limites da humanidade. Com uma vida mais longa e um mundo em constante conexão digital, precisarão equilibrar o uso da tecnologia com a saúde mental e o bem-estar emocional. Ao mesmo tempo, sua capacidade de transformar a crise em oportunidade será crucial para moldar um futuro mais sustentável, inclusivo e dinâmico. Eles não serão apenas testemunhas do século XXII, mas protagonistas de uma era que promete reconfigurar as bases da vida humana.

A cara do bolsonarista: Um tipo em construção

O bolsonarista, enquanto figura construída discursivamente, carrega uma marca que se apresenta como um tipo social. Ele é frequentemente descrito como um homem de meia idade, branco, com o rosto marcado pelo tempo. Mas essas características não são apenas biológicas: elas se tornam símbolos de uma posição ideológica. Seu semblante carrega a agressividade de um discurso que clama por ordem, autoridade e controle (seja lá o que isso signifique em sua cabeça). Ele é o retrato de uma parcela da sociedade que sente que perdeu privilégios ou que está em luta constante para mantê-los.

Esse rosto, entretanto,  é uma expressão coletiva, uma máscara moldada por um discurso golpista, armamentista e autoritário. Ele é atravessado por narrativas que glorificam a violência como solução e demonizam a diferença como ameaça. O bolsonarista é o sujeito que se interpela pela promessa de um retorno a uma suposta “grandeza nacional”, onde hierarquias rígidas e valores conservadores (até a meia noite) seriam restaurados. Sua agressividade não é apenas um traço, mas uma performance ideológica: ele atua como defensor de um mundo que julga estar desmoronando.

Mas é importante lembrar que, como toda construção discursiva, essa figura não é imutável. Ela é sustentada por um contexto histórico, por condições sociais e por uma constante retroalimentação de discursos ideológicos. O “bolsonarista” como tipo social é uma metáfora poderosa, mas também perigosa, pois reduz a complexidade do sujeito a uma formação imaginária. Compreendê-lo em sua multiplicidade é um desafio necessário para desarmar as armadilhas do discurso que sustenta essa identidade.

quarta-feira, 1 de janeiro de 2025

Pêcheux vs. Foucault



As diferenças entre Michel Pêcheux e Michel Foucault sobre o discurso, conforme analisado no texto*, centram-se principalmente em seus pressupostos epistemológicos e no papel que atribuem à linguagem e à história:

  1. Relação com a Linguística: Pêcheux baseia sua análise do discurso em um diálogo direto com a linguística, utilizando conceitos como enunciado e formação discursiva, e reconhecendo a língua como uma base necessária para o discurso. Já Foucault se distancia da linguística tradicional, concentrando-se em como os discursos estruturam os campos de saber e poder, sem depender diretamente de categorias linguísticas específicas​.

  2. Historicidade do Discurso: Ambos concordam que o discurso é histórico, mas divergem na forma de abordar essa historicidade. Pêcheux considera que o discurso é atravessado pela ideologia e que as formações discursivas são ancoradas em condições materiais específicas. Foucault, por sua vez, vê o discurso como um espaço onde se desenrolam práticas discursivas que constituem e organizam saberes, com ênfase na normatividade e na dispersão dos enunciados​.

  3. Conceito de Enunciação: Pêcheux trabalha o conceito de enunciação como uma operação que articula língua, ideologia e história, destacando a relação entre estrutura e processo. Foucault, por outro lado, vê a enunciação como uma prática que não se restringe às fronteiras da língua, mas que é fundamentalmente histórica e heterogênea, problematizando o sujeito e suas condições de possibilidade no campo discursivo​.

Assim, enquanto Pêcheux enfatiza a materialidade da língua e sua relação com as formações discursivas ideológicas, Foucault se concentra na materialidade do discurso como prática histórica e normativa, explorando a constituição dos sujeitos e dos campos de saber. Essas diferenças refletem abordagens complementares e, por vezes, tensas no estudo do discurso.

*Hugo Dumoulin. Les théorisations du discours de Michel Pêcheux et Michel Foucault à la lumière du concept d’énonciation. Philosophie. Université de Nanterre - Paris X, 2022.

Do avesso


 

Segunda-feira: o começo que já carrega o peso do meio

Segunda-feira tem um gosto estranho. É começo, mas nunca parece recomeço. A semana mal começa e já estou no compasso acelerado: trabalho pel...