quinta-feira, 9 de janeiro de 2025

O desafio está em nos permitirmos acreditar no afeto



Muitas vezes, nossa mente se torna um palco para histórias que criamos (porque ouvimos e entendemos de um lugar específico), histórias que geralmente nos afetam profundamente. É claro que nem sempre nos damos conta disso. É comum imaginarmos coisas sobre o que os outros pensam de nós, muitas vezes de forma negativa. Essas narrativas podem surgir da nossa insegurança, do medo de rejeição ou mesmo de experiências passadas que marcaram nossas percepções. No entanto, é importante lembrar que o que criamos em nossa cabeça raramente corresponde ao que as pessoas sentem ou pensam (não acessamos a cabeça do outro).

Um exemplo disso é a sensação de “estar sobrando”, como se nossa presença fosse apenas tolerada por educação, e não verdadeiramente desejada. Esse tipo de pensamento pode ser uma manifestação de algum abandono que vivenciamos (real ou imaginariamente) e está lá no inconsciente produzindo alguma baixa autoestima ou autocrítica excessiva, que nos faz duvidar do nosso valor nas relações. A verdade é que as pessoas, em sua maioria, não investem tempo ou energia em alguém por pura obrigação. Há afeto, consideração e, muitas vezes, admiração que não enxergamos porque estamos ocupados demais acreditando no contrário.

Essas histórias que criamos em nossa mente podem se tornar armadilhas emocionais, nos isolando e nos impedindo de viver plenamente as experiências e os vínculos que poderiam ser enriquecedores. É como se estivéssemos sempre olhando para o reflexo de nossos próprios medos, em vez de encarar o mundo com curiosidade e abertura. Questionar esses pensamentos é essencial: por que eu assumo que não sou desejado? Que sinais concretos tenho disso? Muitas vezes, ao investigar essas perguntas, percebemos que não há fundamento para essas crenças.

O desafio está em nos permitirmos acreditar no afeto e na aceitação dos outros, sem projetar neles nossas inseguranças. As pessoas convidam porque querem compartilhar momentos, porque reconhecem algo de especial em nossa presença, mesmo que não expressem isso o tempo todo. Ao nos libertarmos dessas construções mentais negativas, abrimos espaço para nos relacionarmos de maneira mais leve, confiando que, sim, pertencemos aos lugares onde estamos e que somos mais importantes para os outros do que nossa mente, às vezes, nos faz acreditar.

quarta-feira, 8 de janeiro de 2025

8 de janeiro


O dia 8 de janeiro de 2023, em Brasília, ficará marcado na história do Brasil como um dos momentos mais críticos de nossa jovem democracia. Nesse domingo, milhares de manifestantes bolsonaristas protagonizaram atos violentos ao invadir e depredar as sedes dos Três Poderes — o Palácio do Planalto, o Congresso Nacional (Câmara e Senado) e o Supremo Tribunal Federal. Movidos por narrativas golpistas e falsas alegações de fraude eleitoral, eles buscaram desestabilizar o sistema democrático, desafiando o Estado de Direito em sua essência. As cenas de destruição chocaram o país e o mundo, evidenciando o perigo das campanhas de desinformação e do radicalismo político.

No decorrer das investigações, 1.682 pessoas foram denunciadas, indicando ampla mobilização de grupos alinhados a ideais autoritários. Desses, quase 900 tiveram denúncias aceitas pela Justiça, com 527 réus condenados até o momento. As penas variaram de medidas mais leves, como restrição de direitos, a condenações severas, com 317 sentenças de prisão que chegam a 17 anos de reclusão. Essas decisões judiciais refletem o esforço do sistema de Justiça brasileiro para punir os envolvidos e reafirmar que atos contrários à democracia terão consequências. No entanto, o processo também expõe os desafios institucionais em lidar com um evento de tamanha gravidade e com implicações tão amplas.

Os atos do 8 de janeiro não foram simples manifestações: representaram uma tentativa explícita de golpe de Estado. Os manifestantes buscavam reverter o resultado das eleições presidenciais de 2022, que consagraram Luiz Inácio Lula da Silva como presidente, desafiando a soberania popular expressa nas urnas. Mais do que um ataque físico às instituições, o ocorrido foi um ataque à democracia brasileira. O episódio exige uma reflexão profunda sobre as raízes do extremismo político, o papel das lideranças que incentivaram esses atos e a importância de fortalecer os mecanismos democráticos e educativos para evitar que eventos semelhantes voltem a ocorrer.

segunda-feira, 6 de janeiro de 2025

Sobre a vitória de Fernanda Torres - melhor atriz de drama - no Globo de Ouro



A conquista do Globo de Ouro pela atriz Fernanda Torres foi um marco não apenas para sua carreira, mas para a representação do talento latino-americano no cenário internacional. Ao se tornar a primeira brasileira e sul-americana a ser indicada e a ganhar o prêmio, Fernanda quebrou barreiras culturais e linguísticas. Sua vitória destaca a relevância da produção cultural fora do eixo anglófono, em um evento tradicionalmente dominado por obras e artistas de língua inglesa. É um reconhecimento histórico que eleva o cinema e o talento brasileiro a um patamar mais visível no panorama global.

Fernanda Torres é uma artista multifacetada, com uma trajetória que transita entre o drama e a comédia, sempre trazendo profundidade e autenticidade aos seus papéis. Sua atuação é marcada por uma inteligência sensível que capta as nuances da condição humana, seja ao interpretar personagens complexos em dramas intensos, seja ao explorar o humor com maestria. Além de sua atuação como atriz, Fernanda é uma escritora talentosa e pensadora que reflete sobre questões da sociedade contemporânea em suas crônicas e ensaios, reafirmando-se como uma intelectual completa. Essa versatilidade é rara e fundamental para a compreensão de seu impacto no cenário cultural.

O fato de Fernanda Torres ter sido uma das poucas atrizes não falantes de inglês a ser indicada ao Globo de Ouro realça a dimensão de sua conquista. Até hoje, apenas uma pequena parcela de artistas de fora do circuito anglófono conseguiu romper essa barreira, demonstrando a dificuldade de reconhecimento internacional para produções e artistas que desafiam o hegemonismo cultural. Sua vitória não apenas celebra sua própria excelência, mas também levanta uma reflexão sobre a importância de diversificar as narrativas reconhecidas e premiadas por instituições culturais globais. É um lembrete de que o talento transcende fronteiras e idiomas.

A vitória de Fernanda Torres no Globo de Ouro é mais do que um prêmio individual; é uma conquista coletiva que simboliza a força e a riqueza da cultura brasileira e sul-americana. Sua trajetória inspira novas gerações de artistas a sonharem alto, mesmo em um cenário desafiador e muitas vezes excludente. É também um convite para que o mundo olhe com mais atenção e respeito para a diversidade artística de nossa região, reconhecendo que a universalidade das emoções e narrativas não depende da língua em que são expressas, mas da verdade com que são contadas. Fernanda, com seu talento e dedicação, tornou-se um símbolo desse potencial universal.

domingo, 5 de janeiro de 2025

Da Série: Contos Mínimos


O sofá parecia menor do que o habitual, nossos braços inevitavelmente se tocavam.

quinta-feira, 2 de janeiro de 2025

Um vazio desconcertante



Há pessoas cuja única moeda de troca na vida parece ser a beleza (ou alguma beleza). Elas entram em qualquer ambiente e chamam atenção pelo físico, pela estética cuidadosamente trabalhada ou pela genética generosa. Mas, ao raspar a superfície, o que resta é um vazio desconcertante. Não há conversas que inspirem, reflexões que instiguem ou mesmo curiosidade sobre o mundo. Essas pessoas se apresentam como um quadro bonito em uma moldura cara, mas o conteúdo é tão raso que, no final, fica difícil sustentar qualquer tipo de conexão além do superficial.

A ausência de conteúdo não é apenas uma escolha, mas muitas vezes o resultado de uma vida que priorizou a aparência em detrimento do conhecimento, da empatia e do desenvolvimento pessoal. Não leem, não assistem a nada que as desafie, não se interessam por explorar ideias ou questionar as próprias certezas. Para elas, o tempo é consumido pelo espelho, pelas redes sociais ou pelo constante exercício de reafirmar a própria atratividade. A vida se reduz a um palco onde a performance física é o único espetáculo, e qualquer tentativa de aprofundamento é vista como desnecessária ou cansativa.

Quando o desempenho sexual na cama se torna o principal atributo, fica evidente como essas pessoas restringem suas relações à dimensão mais básica da experiência humana. O sexo, que pode ser uma expressão profunda de conexão, intimidade e troca, é transformado em um ato vazio, reduzido ao desempenho e à validação. Sem diálogo, sem troca de ideias e sem interesses comuns, o que resta é uma interação mecânica, incapaz de nutrir algo além do físico. Para quem busca relações mais ricas e completas, essa superficialidade se torna rapidamente frustrante.

No fundo, a beleza, por mais impressionante que seja, é transitória. Sem um conteúdo que a sustente, sem interesses, histórias ou valores, o brilho da aparência começa a se apagar com o tempo. E o que fica? Uma sensação de vazio, de oportunidades perdidas para crescer e construir algo significativo. Pessoas assim podem atrair no início, mas a verdadeira conexão exige muito mais do que um rosto bonito ou um corpo atraente. Exige presença, vontade de aprender, de crescer e de oferecer ao outro algo além do que é efêmero e visível.

Geração Beta



A Geração Beta, composta por aqueles nascidos a partir de 2025, será marcada pela imersão em um mundo moldado por avanços tecnológicos e desafios globais. Eles crescerão em um ambiente onde a tecnologia é onipresente, com ferramentas como inteligência artificial, realidade aumentada e internet das coisas integradas ao cotidiano. A educação dessa geração será altamente personalizada, baseada em dados e voltada para a resolução de problemas e o desenvolvimento de criatividade. Além disso, valores como sustentabilidade, inclusão e diversidade estarão no centro de suas prioridades, refletindo a pressão global para práticas mais conscientes e justas.

Esses avanços tecnológicos e médicos podem possibilitar que muitos integrantes dessa geração vivam até o século XXII. Com progressos na biotecnologia, terapias genéticas e inteligência artificial aplicada à saúde, a expectativa de vida está se expandindo significativamente. Isso transformará a forma como os Betas planejam suas vidas, carreiras e famílias, reorganizando os conceitos de juventude, maturidade e envelhecimento. No entanto, o desafio de navegar por um mundo em constante transformação exigirá resiliência diante de crises climáticas, desigualdades globais e dilemas éticos sobre o uso da tecnologia.

Os Betas serão herdeiros de problemas complexos, mas também pioneiros na busca por soluções inovadoras que redefinam os limites da humanidade. Com uma vida mais longa e um mundo em constante conexão digital, precisarão equilibrar o uso da tecnologia com a saúde mental e o bem-estar emocional. Ao mesmo tempo, sua capacidade de transformar a crise em oportunidade será crucial para moldar um futuro mais sustentável, inclusivo e dinâmico. Eles não serão apenas testemunhas do século XXII, mas protagonistas de uma era que promete reconfigurar as bases da vida humana.

A cara do bolsonarista: Um tipo em construção

O bolsonarista, enquanto figura construída discursivamente, carrega uma marca que se apresenta como um tipo social. Ele é frequentemente descrito como um homem de meia idade, branco, com o rosto marcado pelo tempo. Mas essas características não são apenas biológicas: elas se tornam símbolos de uma posição ideológica. Seu semblante carrega a agressividade de um discurso que clama por ordem, autoridade e controle (seja lá o que isso signifique em sua cabeça). Ele é o retrato de uma parcela da sociedade que sente que perdeu privilégios ou que está em luta constante para mantê-los.

Esse rosto, entretanto,  é uma expressão coletiva, uma máscara moldada por um discurso golpista, armamentista e autoritário. Ele é atravessado por narrativas que glorificam a violência como solução e demonizam a diferença como ameaça. O bolsonarista é o sujeito que se interpela pela promessa de um retorno a uma suposta “grandeza nacional”, onde hierarquias rígidas e valores conservadores (até a meia noite) seriam restaurados. Sua agressividade não é apenas um traço, mas uma performance ideológica: ele atua como defensor de um mundo que julga estar desmoronando.

Mas é importante lembrar que, como toda construção discursiva, essa figura não é imutável. Ela é sustentada por um contexto histórico, por condições sociais e por uma constante retroalimentação de discursos ideológicos. O “bolsonarista” como tipo social é uma metáfora poderosa, mas também perigosa, pois reduz a complexidade do sujeito a uma formação imaginária. Compreendê-lo em sua multiplicidade é um desafio necessário para desarmar as armadilhas do discurso que sustenta essa identidade.

Pensamento acordado dentro de nós

Há dias em que a cabeça não silencia. O corpo pede sono, mas a mente insiste em continuar — ideias, projetos, pensamentos atravessam a noite...