sábado, 15 de fevereiro de 2025

Relacionamentos unilaterais




Relacionamentos unilaterais são marcados por uma dinâmica onde uma das partes se dedica intensamente, enquanto a outra parece indiferente ou pouco engajada. Um dos primeiros sinais é a sensação de estar constantemente correndo atrás. Você é quem toma a iniciativa, envia mensagens, organiza encontros e tenta manter a conexão viva. Esse esforço desequilibrado é desgastante, pois parece que, se você não insistir, o relacionamento simplesmente se dissolve. Essa corrida constante atrás de atenção ou validação se torna emocionalmente exaustiva, deixando a impressão de que você está investindo em algo que o outro não valoriza da mesma forma.

Outro sinal evidente é perceber que seus sentimentos e desejos são ignorados. Quando você expressa algo importante ou compartilha suas expectativas, a outra pessoa minimiza, desconsidera ou até muda de assunto, como se aquilo não tivesse relevância. Essa falta de acolhimento é dolorosa, pois reforça a ideia de que suas emoções não importam no relacionamento. O que deveria ser uma troca mútua se torna uma via de mão única, onde você se dedica a ouvir e apoiar, mas não recebe o mesmo em troca. Aos poucos, você começa a se questionar se está sendo valorizado ou apenas tolerado na relação.

A solidão dentro de um relacionamento é talvez o aspecto mais cruel de uma relação unilateral. Apesar de estar fisicamente acompanhado, você sente um vazio emocional, como se estivesse sozinho em seus pensamentos e preocupações. A falta de conexão real faz com que a companhia da outra pessoa se torne apenas uma presença superficial, sem profundidade ou compromisso. Essa sensação de isolamento pode corroer sua autoestima, já que você percebe que o relacionamento não está cumprindo seu papel de parceria, apoio e afeto mútuo. Estar junto de alguém deveria significar dividir a vida, mas, nesse tipo de relação, você se sente como se estivesse vivendo sozinho.

Por fim, os planos futuros, quando existem, são vagos ou inexistentes. A outra pessoa evita falar sobre compromissos de longo prazo, seja por desinteresse ou pela falta de intenção de construir algo mais sólido. Isso gera insegurança e incerteza, pois você se vê investindo em um relacionamento sem uma direção clara ou propósito comum. A ausência de planejamento conjunto é um reflexo de como a relação está desequilibrada, com um lado dedicado e esperançoso, enquanto o outro parece indiferente ou desconectado. Reconhecer esses sinais é essencial para decidir se vale a pena insistir ou se é hora de buscar um relacionamento que seja recíproco, onde os esforços, os sentimentos e os sonhos sejam compartilhados de forma justa e equilibrada.

Não se trata de pessimismo




Aos 60 anos, a consciência do tempo ganha uma profundidade diferente. Já não se enxerga a vida como infinita, e isso traz uma clareza sobre o que realmente importa. Cada dia, cada momento, cada conversa começa a carregar um peso maior, porque o tempo, embora incerto, é percebido como limitado. Nessa fase, o desejo de viver com mais intensidade e autenticidade se torna uma prioridade, afastando a necessidade de agradar ou se envolver com situações que não acrescentem algo significativo.

Esse olhar mais apurado para a vida também transforma as relações. As pessoas que não agregam, que drenam energia ou perpetuam conflitos, passam a ocupar cada vez menos espaço. Há um aprendizado em dizer “não” sem culpa, em deixar ir aquilo que não traz crescimento ou afeto genuíno. Aos 60, há menos tolerância para superficialidades, e a busca por conexões mais profundas e verdadeiras se torna um filtro natural para o convívio. É como se a própria vida pedisse mais simplicidade, mais significado e menos desperdício.

Compreender que o tempo é um bem finito não traz apenas angústia, mas também uma enorme liberdade. A liberdade de escolher onde estar, com quem estar e no que investir os momentos que restam. Não se trata de um pessimismo sobre o futuro, mas de uma maturidade que entende que a vida é preciosa demais para ser desperdiçada. Aos 60 anos, o foco está em valorizar o que é essencial e fazer de cada dia uma escolha consciente, deixando para trás aquilo que não acrescenta sentido, alegria ou paz.

Um aprendizado diário e independente da idade que se tenha




Viver sozinho aos 60 anos é uma experiência carregada de contrastes. É um momento da vida em que a autonomia ganha protagonismo, permitindo que cada escolha diária seja guiada pelas próprias vontades e ritmos. Há uma paz única em estar consigo mesmo, no silêncio da casa, onde o tempo parece obedecer apenas ao relógio interno. A solidão, nesse sentido, pode ser uma companheira que promove introspecção, liberdade e uma reconexão profunda com a própria história, com memórias que frequentemente voltam à tona.

No entanto, esse silêncio pode, por vezes, se tornar ensurdecedor. Sentir falta de companhia é algo que emerge quase como um eco do desejo humano de partilhar: partilhar histórias, risos e até mesmo os momentos mais cotidianos. O vazio da ausência de alguém com quem conversar ou dividir um café pode se misturar à sensação de que algo essencial está faltando, mesmo quando se valoriza e se aprecia a solidão. É nesse paradoxo que o morar sozinho aos 60 anos se revela um espaço de tensão, onde a saudade não pede permissão para entrar.

Gostar de estar só e, ao mesmo tempo, desejar companhia não é uma contradição, mas sim um reflexo da complexidade humana. Existe beleza em reconhecer que a solidão não é apenas ausência, mas também presença: a presença de si mesmo, dos próprios pensamentos e afetos. Ainda assim, há dias em que o silêncio pesa mais, e a solução talvez esteja em criar redes, em encontrar pequenos momentos de convivência que amenizem a saudade sem invadir a liberdade. Viver sozinho, aos 60, é, em última instância, um aprendizado diário de equilibrar o desejo de estar só e a necessidade de partilhar.

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2025

Meia noite em Paris

Nesta viagem a Paris, tive a oportunidade de visitar a Torre Eiffel. Subi e, de lá do alto, admirei uma vista deslumbrante da cidade: uma pintura viva. Foi um momento de contemplação, onde senti, mais do que nunca, o encanto dessa cidade que inspira tantas histórias. A experiência foi ainda mais enriquecida porque me propus a explorar a cidade sozinho, enfrentando o desafio de me comunicar com meu francês, que, mesmo simples, foi suficiente para me virar nas situações do dia a dia.

Outro ponto alto da viagem foi minha visita ao Museu do Louvre. Passei longas horas explorando principalmente duas galerias que me marcaram profundamente: a Galeria Denon, com sua grandiosidade e obras emblemáticas, e a Galeria de Apolo, cujo teto é uma obra-prima que nos obriga a caminhar olhando para cima, impressionado com tamanha beleza e riqueza de detalhes. Cada espaço parecia contar uma história própria, e a sensação de estar ali, no coração de um dos maiores museus do mundo, foi ao mesmo tempo avassaladora e inspiradora.

As noites em Paris também tiveram sua magia. Saí com um amigo e fomos ao Quetzal, um bar gay no Marais, conhecido por sua atmosfera acolhedora e divertida. Tomei uma cerveja muito boa: Blanche (não é francesa, mas Belga). Foi uma noite leve, cheia de boas conversas, risadas e o espírito de liberdade. O bairro do Marais, com sua energia vibrante e plural, trouxe mais um sabor à minha experiência parisiense, mostrando a diversidade e a vida noturna intensa da cidade.

Por fim, tive a honra de apresentar meu trabalho na Universidade de Créteil (Paris XII). Estar em um ambiente acadêmico francês, discutindo e compartilhando ideias, foi um momento de realização profissional e pessoal. A troca com outros pesquisadores foi enriquecedora, e me senti acolhido pela universidade e por seus participantes. Ao final dessa viagem, fiquei com a sensação de descobertas culturais, realização profissional e momentos de alegria. Paris, mais uma vez, se revelou como uma cidade inesgotável, cheia de nuances e experiências para viver.

























































quarta-feira, 12 de fevereiro de 2025

sábado, 1 de fevereiro de 2025

L’Attente d’Arriver à Paris



Paris. Une ville qui habite l’imaginaire de tant de personnes, qui peuple les images du désir et se laisse inscrire dans des discours sur le beau, le sophistiqué, l’historique. Une ville qui s’annonce avant même d’être atteinte, déjà dite et répétée dans les films, les livres, les photographies.

Mais qu’est-ce qu’attendre Paris ? Il y a la promesse des cafés en terrasse, le murmure de la Seine glissant sous des ponts chargés d’histoire, la Tour Eiffel qui se dresse comme une icône et qui, en réalité, peut surprendre ou décevoir, selon le regard. La ville arrive avant d’être vue, imprégnée de significations et façonnée par des représentations.

L’attente d’arriver à Paris est avant tout un jeu d’anticipation. L’odeur de la baguette croustillante et du café corsé semble presque présente avant même l’atterrissage. Les pas résonnent imaginairement dans les ruelles de Montmartre, comme si le temps pouvait y être suspendu. Mais que se passe-t-il lorsque les pieds touchent enfin le sol de Charles de Gaulle, lorsque le métro résonne de voix et d’annonces en français, lorsque la ville réelle s’impose à la ville espérée ?

Toute attente crée un intervalle de projection et de déplacement. Paris, chargée de mythes, d’une certaine "aura européenne", d’un sentiment d’appartenance et d’exclusion, se donne et se refuse à la fois. Ce n’est pas seulement la ville de l’amour ou de l’art, mais aussi une ville de contrastes, d’inégalités, de touristes et de quotidiens qui échappent aux cartes postales.

Et ainsi, l’attente se défait et se refait. Entre la réalité et la fiction, entre ce que l’on imaginait et ce que l’on voit, entre ce que l’on veut retenir et ce qui échappe. Paris, au fond, n’est peut-être pas tant la ville elle-même, mais le regard qui la traverse.

terça-feira, 28 de janeiro de 2025

Narrativas apocalípticas e a apropriação de textos bíblicos fora de seus contextos históricos para justificar posições extremistas



Os cristãos de extrema-direita representam um segmento específico dentro das comunidades religiosas que, embora compartilhe princípios de fé cristã, articula sua prática e discurso a partir de uma forte aliança com valores conservadores e um projeto político marcado por autoritarismo. Essa vertente, ao reivindicar a defesa de uma suposta moral cristã, frequentemente instrumentaliza a religião como base de legitimação para pautas como a rejeição de direitos LGBTQIA+, a oposição ao feminismo e a limitação de políticas progressistas. Ao fazer isso, não apenas desconsideram a diversidade interna das comunidades cristãs, mas também tornam invisíveis outras leituras do cristianismo que se orientam pela inclusão, acolhimento e justiça social.

A atuação política dos cristãos de extrema-direita tem se ampliado em muitos contextos ao adotar um discurso polarizador, que constrói "inimigos" da fé, sejam eles políticos, sociais ou culturais. É comum que esses grupos se posicionem contra o secularismo e defendam uma fusão entre Estado e religião, buscando impor suas visões como normas para toda a sociedade. Em muitos casos, o discurso deles apoia líderes carismáticos que se apresentam como defensores da "moral e dos bons costumes", mas que, paradoxalmente, promovem políticas de exclusão e discursos de ódio, em nome de uma suposta guerra cultural contra o que chamam de "ameaças à família tradicional".

Uma característica central desse grupo é o uso de narrativas apocalípticas e a apropriação de textos bíblicos fora de seus contextos históricos para justificar posições extremistas. Essas leituras, ao serem simplificadas e usadas como ferramentas políticas, distanciam-se da complexidade da teologia cristã e ignoram o caráter simbólico de muitos textos sagrados. Essa abordagem promove uma fé baseada no medo e na intolerância, em oposição a princípios fundamentais do cristianismo, como o amor ao próximo, o perdão e a empatia.

É importante lembrar que a associação entre o cristianismo e a extrema-direita não representa o todo das comunidades cristãs, muitas das quais trabalham ativamente em prol da justiça social, da igualdade e do diálogo inter-religioso. A crítica aos cristãos de extrema-direita, portanto, não é uma rejeição à fé cristã em si, mas sim à manipulação dessa fé para fins ideológicos que contradizem os próprios valores que ela afirma defender. Em um mundo cada vez mais polarizado, é essencial distinguir entre as diversas vozes cristãs e reconhecer que o cristianismo, como toda tradição religiosa, é plural e multifacetado.

Pensamento acordado dentro de nós

Há dias em que a cabeça não silencia. O corpo pede sono, mas a mente insiste em continuar — ideias, projetos, pensamentos atravessam a noite...