A saudade é feita de marcas e pistas que o tempo não apaga. Está no cheiro do café esquecido na mesa como uma presença que não se pode tocar. É um aroma que invade sem pedir licença, carregando consigo histórias, diálogos interrompidos, gestos que ficaram suspensos. No abraço que não veio, ela se inscreve como um frio na pele, uma falta no corpo, um espaço onde antes cabia um outro e que agora é só espera. Cada ausência se faz sentir no detalhe mínimo, na curva de um olhar que se perdeu no tempo, na voz que já não responde, mas que ainda ressoa.
Há saudades que se fixam em imagens, em fotografias amareladas pelo tempo, teimosas em conter aquilo que a vida levou adiante. Os olhos de ontem nos encaram do papel, congelados no instante que já não volta, e nessa prisão do tempo, a saudade sussurra histórias que insistem em ser contadas. Mas a ausência não é um vazio absoluto: ela se move, pulsa, se esconde entre o antes e o agora, como se cada lembrança fosse um fio que nos mantivesse ligados ao que já não está, mas que também nunca deixou de ser. No silêncio, a saudade escreve diálogos invisíveis, faz perguntas ao passado e, sem pressa, espalha suas respostas entre os dias.
Ela dança no escuro, traçando silhuetas de memórias que se recusam a desaparecer. Há noites em que os nomes sopram de leve na madrugada, como se o tempo permitisse que, por um instante, o passado nos tocasse de novo. A ausência é um gesto que continua, um fio que nunca se rompe. O que foi, de algum modo, ainda é – entre sombras e lembranças, na dobra do tempo onde a saudade segue existindo, fiel ao que um dia nos fez sentir vivos.