Não gosto de nada feito às pressas. Sou muito esquecido para que as coisas saiam organizadas se faço dessa meneira. Por exemplo, se vou viajar, e isso é muito frequente na minha profissão, preciso calma para fazer mala, do contrário viajo, por exemplo, sem o carregador do celular e fico sem poder falar no segundo dia da viagem (é um problema!).
Já viajei sem o cartão do banco. Já viajei sem dinheiro e sem o cartão do banco.
Essa preciso contar.
Saí do Paraná em direção a SP. Na rodoviária (já em SP), descobri que estava sem um tostão no bolso e sem o cartão do banco (é claro que quando a M já é grande ainda não é suficiente, ela precisa mesmo ser enorMe), sem cartão de crédito, sem talão de cheque. Ou seja, sem a menor possibilidade de fazer qualquer coisa que precisasse de dinheiro (não me lembro muito bem, mas acho que eu tinha uma grana para um lanche, apenas).
Em SP sem um amigo (naquela época eu não tinha amigos na capital), num final de semana, sem lenço e apenas com documentos (porque aí já seria suicídio). E agora?!
De cara, fiquei desesperado! Meu coração quase saiu pela boca. Tava ferrado! Pior, impossível!
Fiquei um tempão mesmo pensando no que eu poderia fazer para comprar a passagem. Mas não tinha o que fazer. Não dava nem para pedir ajuda a mãe porque ela não teria como me mandar o dinheiro. Pensei em pedir dinheiro as pessoas, mas eu não tinha/tenho cara para isso (na verdade, acho que a cara, como o frio, vem conforme o cobertor). De tanto pensar, fiquei mais calmo.
Lembrei que eu tinha o número do telefone de uma pessoa (havia conversado com ele apenas uma vez no Rio e por acaso tinha o seu número de telefone na minha agenda. Detalhe, na época não existia celular).
A 1ª questão: "Ligo ou não ligo? Como é que vou pedir dinheiro emprestado a alguém que só conversei futilidades apenas uma vez e não tenho a menor intimidade?"
A 2ª questão: Como inicio essa conversa?
A 3 ª questão: E se o cara não se lembrar de mim?
Na verdade eu não tinha muitas alternativas. Na verdade eu não tinha alternativa. Ou era isso ou eu iniciava uma caminhada de 429 quilômetros até o Rio de Janeiro.
Liguei. Passei todo o meu currículo. Pedi mil desculpas pelo incômodo. Me desculpei mais umas dezenas de vezes. O cara foi super-educado, super-compreensivo, super-atencioso. Ele foi até o Terminal Rodoviário do Tietê, pagou a minha passagem, me emprestou algum dinheiro para a viagem até o Rio. Ainda teve tempo para conversar um pouco até o horário do ônibus. Nos tornamos amigos depois desse episódio.