Uma água-viva não precisa comparecer ao setor de recursos humanos nem fingir que entendeu o que está acontecendo numa reunião. Não precisa se exibir em rede social para provar que está curtindo a vida. Ela simplesmente existe — e isso já basta. Flutua de um lado para o outro sem metas, sem cobranças e sem dilemas morais. E, o melhor: se alguém se aproxima com energia ruim, ela dá um pequeno choque — educativo, poético e eficaz. Sem conversa fiada, sem indiretas, sem fingimento.
Sem coração, sem cérebro, sem chefes. Apenas um corpo gelatinoso e livre, deixando a correnteza decidir o rumo do dia. Uma água-viva não tem CPF bloqueado, não sofre com crise de identidade, nem precisa respirar fundo para não explodir. Ela já é centro e borda de si mesma. E quando alguém tenta invadir seu espaço com arrogância ou falta de tato, ela responde com eletricidade. Nada agressivo: só um sinal químico sutil dizendo repense suas intenções antes de se aproximar de novo.
Portanto, se um dia vocês não me encontrarem mais nas mensagens, nas ruas ou nos grupos de trabalho, não se preocupem. Estarei boiando serenamente num mar qualquer, sem prazos, sem culpa e com o gel transparente do alívio. E se, por acaso, vierem me cutucar... cuidado. Tenho tentáculos — e aprendi a usá-los com elegância.
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