sexta-feira, 11 de julho de 2025

Vaga no coração: currículo em análise

Há espaço, sim. No coração, sempre cabe mais alguém — desde que esse alguém não venha apenas com intenções vagas e presença esporádica. O lugar está disponível, mas a seleção é rigorosa: exige-se sensibilidade ativa, histórico de afeto consistente, domínio básico em reciprocidade e, claro, zero antecedentes de sumiço repentino. Porque não adianta chegar cheio de promessas, com aquele jeitinho que diz sou diferente, se depois se comporta como quem nem passou pela recepção da alma. O coração é generoso, mas já não está aceitando estagiário em empatia.

Ultimamente, os processos seletivos afetivos têm sido um desafio. Tem gente que aparece com um discurso bonito, dizendo que procura algo sério, mas quando percebe que sentimento envolve entrega, começa a gaguejar. Alguns até colam frases inspiradas do Instagram achando que estão escrevendo carta de apresentação emocional. Mas o coração, coitado, já aprendeu a diferenciar poesia de cortina de fumaça. A vaga existe, está aberta, mas exige mais que charme: pede presença, cuidado e aquela disponibilidade rara de quem não teme construir com o outro um canto possível.

É curioso como alguns se sentem atraídos pela vaga, mas poucos estão realmente dispostos a encarar o ofício. Sentimento não se terceiriza. Não adianta vir com cursos livres de atenção plena e autoconhecimento se, na primeira crise, a pessoa já manda um não sei lidar com isso e desaparece. O coração até tenta ser compreensivo, mas já está cansado de candidatos que somem na hora do desafio, que se encantam com a fachada mas não aguentam nem a faxina emocional básica. A convivência exige um pouco mais que boa vontade. Exige repertório afetivo — e, principalmente, compromisso com a presença.

Sigo por aqui, cuidando do ambiente, arejando as emoções e mantendo o anúncio visível: Vaga no coração — salário afetivo compatível, benefícios subjetivos e plano de crescimento mútuo. Não peço muito. Só alguém que saiba ficar. Que não confunda intensidade com pressa, nem liberdade com ausência. Porque se é pra dividir esse espaço, que seja com dignidade, senso de humor e o desejo honesto de fazer morada — e não turismo emocional.

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