Prometo que será a última vez que me refiro ao Donald Duck Trump. O presidente dos Estados Unidos fez questão de se manifestar publicamente sobre a denúncia de violações de direitos humanos no Brasil. Foi rápido, enfático, com palavras que, na superfície, soam como defesa intransigente dos princípios democráticos e da dignidade humana. Ao se pronunciar dessa forma, colocou o país no centro da vitrine internacional, reforçando a imagem de guardião global dos direitos que os EUA gostam de dizer que representam. Mas, como quase sempre acontece na política, o que é dito tem tanto peso quanto aquilo que fica de fora.
Porque, quando se olha para outros cenários, o mesmo presidente mantém um silêncio eloquente. Israel, por exemplo, segue sob críticas de organizações internacionais por ações que, para muitos, configuram violações massivas de direitos humanos. Mas, nesse caso, as palavras de condenação não atravessam o Atlântico. Ao contrário, as declarações oficiais tendem a reforçar alianças históricas, evitando confrontos que possam afetar interesses estratégicos.
O mesmo acontece com El Salvador. Sob um governo que adota políticas de encarceramento em massa e restringe liberdades civis em nome da segurança, a Casa Branca prefere o tom neutro, quando não opta pelo elogio discreto ao combate ao crime. Não há a mesma urgência em apontar violações, nem a mesma pressão pública para a correção de rumos. É como se o compromisso com os direitos humanos tivesse fronteiras definidas pela conveniência geopolítica.
E, curiosamente, essa lógica seletiva se repete dentro das próprias fronteiras dos EUA. Questões como o tratamento dado a imigrantes — muitos detidos em condições precárias, separados de suas famílias ou deportados sem garantias processuais — raramente ganham o mesmo tom inflamado que se aplica a violações fora do país. O mesmo vale para as minorias de gênero e sexualidade, que enfrentam retrocessos legislativos, ataques à liberdade de expressão e violência motivada por ódio, enquanto o governo mantém um discurso genérico de apoio, sem enfrentar de forma decisiva as raízes estruturais dessa exclusão.
Essa assimetria nos mostra que, no palco internacional e doméstico, as falas presidenciais são gestos calculados. Criticar o Brasil pode ter um custo baixo nas alianças e ainda render dividendos políticos internos e externos. Já confrontar Israel, El Salvador ou assumir um enfrentamento efetivo contra as injustiças que atingem imigrantes e minorias de gênero mexeria com interesses econômicos, militares e estratégicos profundamente enraizados. No fim, o silêncio também fala — e, nesse caso, diz muito mais sobre a política do que qualquer frase de efeito cuidadosamente pronunciada.
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