O desejo é uma criatura caprichosa. Não se contenta com pouco, mas também não se satisfaz com muito. Você pensa que finalmente encontrou o objeto perfeito — o emprego dos sonhos, a viagem ideal, o par de sapatos que vai resolver sua vida — e logo percebe que, depois do primeiro suspiro de alegria, sobra aquele restinho irritante de insatisfação. O desejo é assim: um hóspede que não paga aluguel e ainda deixa a louça suja.
Lacan dizia que o desejo não encontra objeto que o esgote. Traduzindo: ele é um turista inquieto, que nunca desfaz as malas porque já está de olho no próximo destino. É como aquele amigo que come um pedaço de pizza e, antes de engolir, já está de olho na sobremesa. O objeto nunca basta. Sempre escapa um fiapo, um resto, algo que nos empurra para a próxima busca.
E é justamente por isso que o desejo é indestrutível. Não adianta tentar matá-lo com compras, casamentos, cursos de yoga ou cerveja artesanal. Ele vai sempre se reinscrever, travestido de novo capricho: ontem era uma casa, hoje é uma viagem internacional, amanhã, amanhã sabe lá deus o que será.
O engraçado é que, nesse jogo, o desejo tem uma vitalidade invejável. Nós ficamos cansados, endividados, frustrados, mas ele? Ah, o desejo acorda cedo, toma café reforçado e já está pronto para mais um dia de insatisfação criativa. Se há uma certeza nessa vida, não é a morte nem os impostos: é que o desejo nunca cessa de desejar.
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